uma história
Feito o "check-in" na organização do Passeio da Memória, e enquanto não chegavam as pessoas, estava eu a conversar com a minha irmã sobre a doença, e da nossa amiga Alice, quando, ao meu lado, vejo uma ex-colega de trabalho, que faz parte do grupo "Café Memória", na Brasileira, entra na conversa e aponta-nos algumas senhoras doentes de Alzheimer que, com os familiares, participavam na caminhada.
Contou, então, a história de uns vizinhos seus: um casal com filhos, a mãe de um dos conjuges e um cão.
Tendo a mãe Alzheimer, a minha colega visitava a senhora, dava-lhe algum apoio, e à família. O cão, já velhinho, e sem que a doente lhe desse mais atenção, levou-o para sua casa e cuidaria dele.
O tempo foi passando, a minha colega visitava-a quase diariamente, até que um dia, com a autorização da família, decidiu levar o cão e verem a reacção de ambos.
O cão saltou, brincou no seu colo, farejou a casa como se nunca tivesse saído de lá, mas a senhora não o reconheceu.
Levou-o de novo para casa. Nesse mesmo dia, à noite, estava tudo sossegado, não se ouvia o cão. Foram dar com ele morto debaixo da mesa da sala.
O cão morrera de paixão.
E as lágrimas da minha colega foram as nossas lágrimas, também.
Antes de a caminhada iniciar, fez-se o aquecimento com algumas coreografias de Zumba, partimos, então devidamente equipadas, para o nosso passeio pelas ruas da cidade.
Um gesto que me emocionou foi quando soube por uma das participantes que alguns turistas que passavam pelo local do encontro, quiseram participar neste Passeio da Memória. Vi e fotografei duas senhoras, mas haviam mais.
O final foi junto à Brasileira, o local de encontro do grupo "Café Memória" cuja missão consiste em:
A missão do CAFÉ MEMÓRIA consiste em reduzir o isolamento social em que muitas das pessoas com demência e os seus familiares e cuidadores se encontram, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida. Pretende ainda sensibilizar a comunidade para a relevância crescente do tema das demências, diminuindo, assim, o estigma que lhe está associado.
Acabou a caminhada, junto à Brasileira, com o rufar dos tambores executado por um grupo de jovens que também já nos habituou à sua encantadora exibição.