um telefonema
Tinha acabado de almoçar. A Sofia, que come muito devagar, ainda ia a meio.
Toca o telemóvel dela.
Pela conversa percebi que alguém estava a fazer-lhe um pedido.
Ela dizia que gostava de o ver, que não sabia se conseguiria fazer o pedido, que ia tentar, que até lhe ficava bem, que não se sentia à vontade para lhe dizer nada...
A Sofia ria-se, ao mesmo tempo que as palavras " vou tentar, não prometo, eu gosto, não sei se ele vai aceitar..."
Percebi que seria a mãe do namorado a fazer-lhe um pedido.
Sentada à mesa, em frente a ela, observava a cena. Uma das mãos ia ao rosto enquanto a outra segurava o telemóvel. E ria-se.
Ria-me, também.
Às tantas, escuto-a dizer: " E se ele aparar, não gosta?"
Foram cerca de dez minutos que a conversa durou e a Sofia tentava explicar que mesmo sendo muito amiga não se sentia à vontade para lhe dizer nada.
Desliga o telemóvel e a minha pergunta de rajada:
- A mãe do teu namorado quer que ele corte o bigode?!
- Não é a mãe do meu namorado. É a mãe do R . Ela não gosta de ver o filho com bigode e quer que eu fale com ele e sugira que o corte. Se tiver algum encontro de família e amigos podem não gostar, não quer que ele apareça com bigode e ela não tem coragem para lhe dizer.
Pergunto:
- Mas ele só tem bigode? Ou tem barba, também? É que só o bigode pode não o favorecer, mas se tiver a barba completa o visual...
- Tem, mas ela não quer. E nem lhe fica mal. Eu até goto de o ver. Mas quem sou eu para mandar cortar. Sou amiga mas não posso contrariar o gosto dele. Meto-me em cada uma! Lá vou eu fazer de transmissora de recados. Mas quando estiver com ele, vou dizer-lhe que foi a mãe que me ligou a pedir que lhe falasse para cortar o bigode. Era o que faltava assumir o pedido como se fosse meu.
- Metem-me em cada uma!
Mais um momento de gargalhada.
De facto a mãe não tem coragem para falar com o filho, passa o que é tarefa sua para a amiga do filho?
Pobre Sofia!