Finalmente, quase um ano depois de acordar com o trolha patrão para fazer a obra na garagem, chegou, ontem, o dia, mas depois de muitos telefonemas ao longo de 2017, com interrupção entre Novembro e Fevereio, porque já não adiantava insistir, a resposta era sempre a mesma " tenha paciência, espere mais um mês, tenho serviços fora."
Há uma semana, liguei, foi a última tentativa: "ou pega na obra, ou entrego a outra pessoa".
Garantiu-me que vinha esta semana, e por cá andam.
Ontem, vieram dois homens, jovens, na casa do 20,30 anos.
À tarde, só estava um.
Quando desci, a meio da tarde para ver o andamento das coisas, reparei no que me chamara a atenção de manhã.
Um homem alto, elegantérrimo, trazia umas calças de ganga, uma sweat, coberto de pó, claro, o trabalho não perdoa.
Tinha tirado o colete azul escuro acolchoado ( o trabalho aquece, pois).
Uma pequena conversa sobre a obra, o trabalho que agora abunda, mas que há anos tivera de ir para Espanha, onde "as obras metiam medo", dizia, porque havia todo o tipo de pessoas: marroquinos, paquistaneses, romenos, ucranianos.
Agora, está bem por cá, "trabalho não falta, embora a vida esteja cara", dizia, "mas vive-se".
Não fiz perguntas de nada, não sei se é solterio, casado, divorciado.
E porque escrevo sobre o trolha?
Porque tem um rosto bonito, um olhos pequenos de um castanho claro que combinam com a cor do cabelo, também claro, porém de branco do pó da parede, e uma barba perfeita, bem escanhoada, muito bem tratada.
Não entendo nada de barbas, embora cá em casa os sobrinhos a usem, uns mais curta, outros menos, cuidam bem dela, senão a tia azucrina-lhes a cabeça, a do trolha não fica nada a dever à dos meus queridos.
Um homem apresentável, ágil na forma como coloca a massa na parede, pergunto-me como é possível uma coisa destas não ter a oportunidade de muitos outros e lançar o charme nas passerelles da moda. Mas não duvido nada que o lance ao fim de semana nas discotecas e bares da cidade.
Este jovem, com idade para ser meu filho, foi das melhores "coisinhas" que vi nos últimos tempos.
E foi a barba que me chamou a atenção.