antes que seja proíbido
e porque a tradição é para se manter, já se vêem grupos, em convívio, a comer a banana e a beber o Moscatel, cá na cidade, no Babaneiro.
As minhas fotos de hoje.
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e porque a tradição é para se manter, já se vêem grupos, em convívio, a comer a banana e a beber o Moscatel, cá na cidade, no Babaneiro.
As minhas fotos de hoje.
Ontem, vi nas notícias que foi o domingo em que a Igreja celebra a Sagrada Família, e o Papa Francisco anunciou 2021 o Ano da Família, tendo lembrado três palavras, que considero vitais no ambiente familiar que, infelizmente, poucos as expressam: "com licença", "perdão", "obrigado".
Lembro-me que, nesta minha freguesia, era tradição um oratório com a Sagrada Família andar de casa em casa ( de quem a queria receber), por dois dias.
Era entregue ao início da noite, colocávamos na mesa da entrada, abríamos a porta do oratório e acendíamos uma lamparina de azeite.
Por vezes, rezava com a minha mãe uma pequena oração.
Havia uma lista das casas que a Sagrada Família visitava, era eu que levava à família seguinte.
Quando terminava o ciclo, eu levava o oratório à igreja.
Eram poucas as famílias que faziam parte desta tradição, era sempre eu nestas andanças,sempre eu com a minha mãe a tratar de tudo.
Não me recordo de a minha irmã mais velha ter esta "tarefa".
Lembro-me com frequência, nesta altura do ano, da visita da Sagrada Família. Penso que era depois do Natal que vinha cá para casa.
Desejo que 2021 seja um ano que una as famílias, tão carentes de fé,de respeito,de humildade.
No Jornal da Noite, passou a notícia do jovem Nuno Henriques que teve a ideia de recuperar a tradição do fabrico de cestos de junco, uma herança da família, fazer o seu negócio e expandi-lo.
Os únicos artesãos do fabrico da cestaria são pessoas de avançada idade, mas o jovem empresário quer dar a conhecer ao mundo esta linda tradição dos cestos portugueses, como aqui refere:
Todo este processo está ameaçado a acabar. Não há artesãos jovens que queiram aprender este trabalho e mesmo a apanha do junco no sul de Portugal, também ela perfeitamente manual, não encontra mãos novas. Mas antes que isso aconteça eu gostaria de partilhar e valorizar esta bela parte da minha herança cultural consigo (da página de Toino Abel).
Aqui no norte também se faziam, felizmente ainda se mantém a tradição, eram vendidos nas feiras e em lojas de cestaria. Em Braga havia uma loja, as Cesteiras que, infelizmente, já não existe, onde se vendia de tudo o que se fazia cá em Portugal, de norte a sul, em verga e junco: chapéus, baús, malas, cestas, cadeiras, tabuleiros, camas de criança...
Lembro-me de, em miúda, gostar muito destes cestos e de os ver nas mãos das empregadas domésticas (minha avó paterna tinha uma cesta grande que era usada para a empregada ir às compras ao mercado e à mercearia) e das lavradeiras que iam vender para o mercado (ainda hoje se vêem nas vendedoras mais velhas). Eram cestas usadas para as compras, pelas mulheres de condição social baixa.
Nessa altura, vivia-se mal. As mulheres faziam docinhos, pequenas coisas de artesanato, rendas, tudo o que fosse possível vender de porta em porta para ganhar alguns trocos para o sustento da família. E estes cestos andavam nas suas mãos.
Minha mãe era uma mulher muito habilidosa na costura, bordados e tricot. Fazia pequenas coisas para a casa, sacos para o pão, panos de cozinha, os babeiros (alguns bordava-os) para mim e para a minha irmã mais velha, os remendos nas calças dos meus irmãos.
Costumava comprar retalhos a uma velhinha, muito limpa, que trazia os retalhos muito bem dobrados, cobertos com um pano branco bordado, dentro do cesto. Batia à porta, eu descia com a minha mãe para ver as novidades dos retalhos que eu tanto gostava. Adorava mesmo mexer naqueles pequenos tecidos tão arranjados e dobrados. A senhora falava muito baixinho, era de uma humilde imensa e minha mãe, uma boa cliente da senhora, muitas das vezes, penso eu, devia comprar mais para a ajudar que por necessidade.
Os anos passaram, as mercearias deram lugar aos supermercados e mercadinhos, o mercado das lavradeiras foi quase esquecido, as sacas de pano foram substituídas por sacos de papel e de plástico, os remendos deixaram de se fazer, tudo passou a descartável e os cestos deixaram de ser usados na cidade.
Mas os tempos também ajudam as pessoas a procurar alternativas ao desemprego e a recorrer ao que antigamente se fazia. E "Toino Abel" está a desenvolver um bonito negócio e a divulgar lá fora o que de muito bom de artesanal se faz neste país.
E foi então que vim pesquisar se a nossa cestaria andava por aqui... E encontrei a marca Toino Abel, do jovem que foi notícia no Jornal da Noite.
Tem uma página em português e inglês onde explica como começou este seu negócio, a história da família, de como são feitos os cestos, de quem os faz, onde são feitos e o vídeo que mostra como se fazem as asas das cestas.
Um negócio em expansão, com necessidade de mão d'obra mais jovem para dar continuidade a uma tradição familiar tão bonita e moderna.
Os cestos andam aí, chamam a atenção das mulheres portuguesas (esta blogger adora-os) e poderá ser a mala da moda urbana para o próximo verão e para a praia, porque não os lindos cestos com o design "made in Portugal"?
E há modelos para todos os gostos. Eu gostei de todos.
e, no regresso a casa, paragem na estrada para colher as Maias ou Maio para que, segundo uma colega, não falte o pão e afaste o mal, o ano inteiro.
O ramo que colhi está na varanda.
" (...) Talvez resultado desta lenda, hoje em dia ainda é possível observar em algumas zonas do nosso país, a colocação de ramos de giestas em flor, ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, conjuntamente com outras flores e enfeites coloridos, nas portas e janelas das casas ou nos automóveis, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.
Nos variados aspectos, por vezes tão distintos, das celebrações do 1º de Maio, ter-se-ia pois operado um sincretismo de práticas e crenças, talvez de origens diferentes mas todas convergentes, recobrindo a obscura ideia, que subsiste no espírito do Homem, da necessidade de desencadear formas efectivas de protecção e de esconjuro a opor à insegurança da vida e à omnipresente ameaça do mal. "
O ano passado não foi diferente destes ano.
Antes do 25 de Abril de 1974, na noite de 30 de novembro para o 1º de Dezembro, os estudantes costumavam comemorar, entre amigos, a noite do estudante, com uma festança que constava de um jantar de "arroz pica no chão" e depois, pela noite dentro, cantavam e bebiam, tirando partido desta noite que ra sua.
Naquele tempo havia muitos quintais, pertença das donas de casa que aproveitavam para criar os seus frangos e galinhas poedeiras, que eram assaltados nas noites anteriores e levados o único ou muitos frangos que existiam na capoeira.
Muitas foram as vezes que ouvíamos os frangos, aflitos, a cacarejarem por ajuda e, pimba, eram roubados dos seus ninhos de descanso para serem mortos pelas mães dos "ladrões" e cozinhados nesta noite.
Quantas mães se queixaram do roubos dos frangos, cujos autores eram os seus próprios filhos.
Aqui por casa, era eu a vítima da matança. Segurava o frango, que naquele tempo eram autênticos galos, enquanto a minha mãe metia-lhes a faca e eram logo encaminhados para uma bacia onde a água quente amolecia as penas para a imediata depenagem. No dia 30, eram levados para a cantina da empresa da família para que a cozinheira de serviço adiantasse o estufado e, na hora do jantar, pussesse o arroz a cozer. Uns minutos antes de regalar os (in)consoláveis ladrôes, o sangue era colocado na grande panela, por breves minutos, e que alimentaria os mais de 20 estudantes que se reuniam para a festança.
A manhã do 1º de dezembro era para dormir e curar a "saudável" bebedeira. A partir das 15 horas, os finalistas do liceu vestiam o fato e capa pretos e saíam à rua, munidos de uma colher de pau enfeitada de fitas de várias cores.
As raparigas, que não participavam na noite, tinham à tarde a sua oportunidade de verem os seus amores, e serem prendadas pela aproximação dos estudantes que lhe estendia a colher para elas pudessem deixar a sua assinatura.
Mas nem todas as raparigas tinham esse prazer. Em grupo, faziam aquilo que se chamava a então "a voltinha dos tristes" (o percurso das ruas dos capelistas, rua do souto e avenida central). A tarde era "gasta" nesta volta, sempre na expetativa deles se aproximarem e estenderem a colher.
Hoje lembrei-me desta noite de festança e descobri, porque não me recordo se a festa era comemorada por todos os estudantes portugueses, que era a festa dos estudantes desta cidade, como os Vimaranenses tiveram ontem a noite do Pinheiro e o início da festas das Nicolinas, muito conhecida e bem vivida em todas as ruas de Guimarães.
E pelo que encontrei aqui na internet, os estudantes da UM ainda realizam estes jantares. Com arroz pica no chão?! O verdadeiro e único pica no chão?!
Mas os tempos são outros. Já não se roubam os frangos, já não se cozinha nas grandes casas e outros lugares improvisados para esta noite. Já não há estudantes a passear na tarde do dia 1º de dezembro, vestidos com os seus trajes, e de colher de pau na mão para as meninas terem o prazer de serem as escolhidas e deixarem lá a sua assinatura.
Já nada é como antigamente. E há tradições que deviam estar vivas.