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cantinho da casa

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desafio dos pássaros 3.0 - Tema 4

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imagem Pinterest

 

"Caramba, quase que conseguia!"

A mãe comprava pintos no mercado municipal e criava-os no pequeno quintal. Matava-os quando estavam suficientemente crescidos para comer, e congelava-os.
Era a filha do meio que, na sua adolescência, ajudava a mãe a matá-los.
Não que ela quisesse aprender a matar. Isso nunca!
Mas a mãe ordenava que a ajudasse, e ela cumpria.
Então, sempre que se preparava para matar, a mãe metia-o entre as suas pernas para que ele ficasse preso, segurava-lhe a cabeça, e ela, a adolescente, atrás da mãe, agarrava as pernas da ave para que esta, ao sentir a faca no ouvido, não se mexesse ou torcesse o corpo e fugisse.
E se ela, a adolescente, comentasse " ai, coitadinho do frango!", a mãe ralhava com ela e dizia para se calar para que o frango não sentisse mais a dor.
Até que um dia, um daqueles galos pesados, que depois de cozinhado daria um arroz de sangue de comer e chorar por mais, quando sentiu a faca perto do ouvido, deu um esticão, e ela, a dolescente, largou as pernas e o galo, desesperado, saltou pela cozinha, embora não tivesse sequer sido cortado, e diz a mãe: " caramba, quase conseguia".
E ela, a adolescente, cheia de medo que o galo saltasse em cima dela e a penicasse, fugiu da cozinha.
E a mãe, depois de um tempo de"descanso" para o galo, apanhou-o e voltou à faca. E neste acto, o sangue escorria para uma tijela com um pouco de vinagre,que depois passava para um frasco.
De seguida, era o acto de o meter dentro de uma bacia e deitar água a ferver em cima dele.
E ela queimava os dedos quando queria tirar as penas molhadas dos frangos.
Feito este, a faca abria o baixo ventre, tiravam-se as tripas, e pele e as unhas das patas.
Cada frango era guardado num saco de plático para ficar acondicionado na arca frigorífica, para ser cozinhado quando fosse necessário.
Depois de cozinhado, e se fosse assado, ou de churrasco, a tesoura cortava o frango em partes.
Belos tempos esses em que, aqui em casa, comia-se frangos com uma carne rija e decliciosa.
E ela, a adolescente, nunca matou um frango.
E quando quiser um desses frangos de comer e chorar por mais, já tem contrato com a vendedora de legumes, do mercado municipal, que o traz da quinta prontinhos a cozinhar.