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cantinho da casa

cantinho da casa

Há quem recuse comida

O meu irmão mais novo, engenheiro de profissão e cozinheiro por gosto (cozinha todos os dias) faz pratos maravilhosos, capricha no que faz, e tudo lhe sai bem.

Como este ano era a vez de vir à família do lado de cá, e como sempre,  fez o almoço de Natal que constava de perú assado, perna de borrego assada e arroz de sarrabulho (estava uma espectacular). Faz umas batatas a acompanhar cada um dos pratos que são uma delícia...são os temperos, pois claro (e na família todos cozinham bem).

Vê programas e lê livros de culinária, experimenta (eu não tenho paciência, sigo os passos da minha mãe que era uma boa cozinheira), arrisca e tudo lhe sai bem.

E na doçaria, ui! Faz cada bolo de fazer inveja! Saem-lhe bem, já os meus deixam muito a desejar.

Na doçaria de Natal, faço o que aprendi com a minha mãe.

Costumo fazer um pão inteiro de rabanadas e este ano decidi fazer a versão com leite e a versão com mel e vinho do porto.

Aqui em casa poucos são os elementos da família que as comem, costumo oferecer a quem gosta e não as faz ou compra.

As rabanadas que fiz com leite não chegaram a ir à mesa.

Não gosto de desperdiçar e como eu só como uma quente, quando as frito, não sabia o que fazer delas.

Lembrei-me de as levar a uma mulher que costuma pedir ajuda às pessoas que passam para o cemitério, Dia ou DeBorla.

No verão passado, dei-lhe roupas e calçado. Dinheiro, não dou.

Hoje, passando de carro no outro lado da rua, vi dois arrumadores que costumam andar por lá ao fim de semana, sendo um deles mais velho, deduzi que terá filhos e netos, lembrei-me de, após o almoço, levar as rabanadas e o arroz de passas.

Embrulhei em papel de alumínio, coloquei-as numa caixa de papel, pus o arroz numa embalagem de comida take-away, meti num saco e lá fui eu feliz e contente pôr as garrafas no vidrão e perguntar ao homem se queria as rabanadas e o arroz.

Aproximei-me dele e fiz a pergunta. O homem olhou para mim e  responde "Não quero. Ainda há bocado me deram. Olhe, vá aquele homem que está ali em baixo e dê-lhe".

Resposta minha " Não quer? Não falta quem queira!"

E regressei a casa murmurando "Esta gente só quer dinheiro e ai de quem dá menos de 50 cêntimos! Não querem comida... ". Guardei o saco no frigorífico.

Provavelmente, ainda pego no carro e vou levar à mulher que anda lá pelo parque de estacionamento do DeBorla. Será que ela vai aceitar?!

Fiquei decepcionada.