já não se ouvem os pássaros
A escola básica do 1º ciclo aqui da rua, que estava fechada para obras há 19 meses, entrou em obras no dia 15 de Janeiro, as crianças estão "alojadas" em contentores num espaço do Agrupamento da Escola Básica do 2º Ciclo.
Antes de virem os guindastes, tivemos uma grande surpresa e decepção. As muitas árvores que circundavam o recinto e que faziam sombra para as crianças, que nos dias quentes as procuravam, foram cortadas. Deixaram apenas uma por trás da baliza no campo de jogos.
Não queria acreditar no que via, cheguei a pensar que deixariam as que ficavam mais afastadas da entrada, onde entram agora os enormes camiões.
Ora estas árvores eram o poiso dos pássaros que se deixavam ficar desde os primeiros dias de Primavera até quase meados do Outono, desde que o tempo se mantivesse quente, como aconteceu no passado ano.
Muitas foram as vezes que acordava com o dueto vocal, quando o dia começava a nascer, seguido de outros cantos "ao desafio" que eram o deleite de quem acordava cedo.
As árvores já lá não estão. Estão as árvores deste lado da rua, junto aos prédios, as árvores que conheço há muitos anos e que fizeram parte da minha adolescência. E o largo passeio (reduzido uns anos mais tarde para dar lugar a estacionamento para os carros) que começava no início da rua e acabava mesmo em frente ao jardim deste prédio onde habito, ocupava metade da estrada, e duas delas,uma em cada ponta deste espaço maior, e o muro dos jardins, do prédio, eram o marco da baliza para os rapazes da rua, um deles o meu irmão que faz hoje 53 anos, jogarem a bola.
E nas longas noites de Verão brincávamos e jogávamos à bola no meio da rua.
Se há cerca de 3 ou 4 anos os moradores criticaram a Câmara por cortarem umas quantas porque as raízes levantavam as pedras da calçada, cortar as árvores da escola foi revoltante. Mas estavam dentro da escola, que poderíamos fazer?
Com o ruído das obras, não se ouvem os pássaros. Nem sequer entrevia que pudessem voltar esta Primavera.
Ontem, a chuva era de mais, deixei-me ficar por casa. Em frente à minha janela está uma das árvores que fazia de baliza de futebol dos rapazes da rua, já com uma folhinhas verdes .
E vi dois pássaros.
Peguei no telemóvel. Foi impossível captá-los.
Já não se ouvem os pássaros da minha rua.
Espero que sejam estes os pássaros que cantavam em dueto e acordavam-me aos primeiros raios do amanhecer.