Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cantinho da casa

cantinho da casa

dia da poesia

e dia da árvore.

Para a poesia, fui buscar o meu livro "800 anos de poesia portuguesa", abri-o numa qualquer página, fica o poema "  Urgentemente", que vem de encontro ao que ao que estamos a viver.

IMG_20220321_125852.jpgIMG_20220321_125826.jpg

 

Quanto ao dia da árvore, tenho está palmeira que já fotografei em 2018. Passei no mesmo sítio no sábado passado, ali perto do Hospital de Santo António, no Porto.

IMG_20220319_185411.jpg

Dia Mundial da Poesia

Sem Título.jpg

 

Encontro

Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio?
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá pró futuro.
É bem certo que existo:
chegou-me a vez de escutar.

Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo?
A minha paz é ignorar.
Aprendo a não saber:
que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.

O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce à cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.

Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.

Para que me lastimas
se este é o meu auge?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim.
Jamais os invasores levaram consigo as nossa torres de marfim.

Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.

 

Poema e imagem, José  de Almada Negreiros

#fique em casa 6 - sábado de poesia ... e de recordações

 O Sapo desafiou-nos.

Eu não sei escrever poesia. Fui à estante, escolhi um dos livros do tempo de estudante, peguei numa antologia editada em 1965, e adoptado no estudo do Português no então Liceu que a minha irmã frequentou.

Abri o livro numa qualquer página. Nessa página tinha uma folha de papel dobrada em quatro.

Abri-a.

Era uma carta para a minha irmã que, na altura, estudava em Londres.

Não me recordo de nada disto. Até estranhei a caligrafia, mais perfeita, mas só podia ser a minha( e tem um erro de ortografia).

A carta foi junto com uma encomenda.  Quando a minha irmã regressou teria guardado neste livro.

O poema  da página é de Gomes Leal, " O VelhoPalácio"

IMG_5895.JPGIMG_5894.JPG

a carta:

IMG_5899.JPG

IMG_5897.JPG

Perguntei-me como é que só agora descobri isto.

Há doze anos que ela nos deixou, mas vou ter o prazer de a mostrar às filhas.

 

Ser Poeta

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

 

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

 

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

 

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda gente!

para mim, só podia ser este belíssimo poema de Florbela Espanca, e na canção interpretada por Luís Represas, para comemorar este dia 21 de Março, Dia Mundial da Poesia... e da Árvore.

Dia-Mundial-da-Arvore-2019_Prancheta-2-1024x801.jp

imagem, daqui

 

 

Uma ROSA

 

 

 


E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.

Rosa Lobato Faria (Actriz, escritora, autora e poetisa portuguesa)
 

 

Jorge de Sena

 

 

Se este escritor fosse vivo, completaria amanhã 90 anos.

Na RTP2 fala-se, ri-se, critica- se Jorge de Sena.

 

 

 

 

Ode ao Amor

 

 

 

Tão lentamente, como alheio, o excesso de desejo,
atento o olhar a outros movimentos,
de contacto a contacto, em sereno anseio, leve toque,
obscuro sexo á flor da pele sob o entreaberto
de roupas soerguidas, vibração ligeira, sinal puro
e vago ainda, e súbito contrai-se,
mais não é excesso, ondeia em síncopes e golpes
no interior da carne, as pernas se distendem,
dobram-se, o nariz se afila, adeja, as mãos,
dedos esguios escorrendo trémulos
e um sorriso irónico, violentos gestos,
amor...
             ah tu, senhor da sombra e da ilusão sombria,
vida sem gosto, corpo sem rosto, amor sem fruto,
imagem sempre morta ao dealbar da aurora
e do abrir dos olhos, do sentir memória, do pensar na vida,
fuga perpétua, demorado espasmo, distração no auge,
cansaço e caridade pelo desejo alheio,
raiva contida, ódio sem sexo, unhas e dentes,
despedaçar, rasgar, tocar na dor ignota,
hesitação, vertigem, pressa arrependida,
insuportável triturar, deslize amargo,
tremor, ranger, arcos, soluços, palpitar e queda.

Distantemente uma alegria foi,
imensa, já tranquila, apascentando orvalhos,
de contacto a contacto, ansiosamente serenando,
obscuro sexo à flor da pele... amor... amor...
ah tu senhor da sombra e da ilusão sombria...
rei destronado, deus lembrado, homem cumprido.

Distantemente, irónico, esquecido.

Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

 


 

 

 

 

 

Dia mundial do sono/ Dia mundial da poesia

Hoje é o dia mundial do sono.

Faz falta dormir bem, pelo menos tranquilamente, mesmo que se durma poucas horas.

Gostaria de ter esse prazer, mas há anos que durmo pouco, nem sempre com tranquilidade.

Por vezes há pequenas coisas que invadem a minha mente e que, de repente, mesmo cansada e com sono, não me  permitem que eu adormeça de imediato.

A Sexta-feira é um dia muito cansativo, porque tenho muitas horas de aulas. A minha voz fica cansada, quase não consigo articular palavras.

Quando chego a casa, não falo para/com ninguém e isso ajuda-me a recuperar. Mas, mesmo cansada e com uma vontade de me deitar um pouco no sofá e dormir uns breves minutos, não consigo.

Há sempre outras tarefas que me desviam do sono. O cansaço acaba por esmorecer e ocupo-me das pequenas coisas que gosto de fazer: ler blogs, comentar, falar no messenger com as pessoas que eu gosto e ler o meu livro de travesseiro.

Não desperdiço o tempo. Já me habituei a dormir pouco.

 

foto artigo

 

(foto retirada do Sapo)

 

 

No blog carapau, li que hoje é o Dia mundial da poesia. Este meu amigo publicou um post muito interessante sobre Fernando Pessoa e Almada Negreiros.

E, relativamente ao poema que publicou, recordou o rio da sua terra. O rio que ninguém conhece, que outrora era um rio sereno, fresco, que proporcionava à pesca, às brincadeiras, ao descanso.  Rio onde agora a água é escasa devido à evolução(?) do homem.

Não sei qual é o rio da terra do amigo carapau.

Sei que ele está hoje, Sábado, na terra onde viveu e quem sabe, a recordar os tempos da juventude que ninguém jamais conseguirá "secar" e /ou poluir.

E sendo o Dia mundial da poesia, dedico-te, carapau, este poema de Florbela Espanca (gosto dos poemas dela).

 

"O meu Alentejo"

 

Meio-dia: O sol a prumo cai ardente,

Doirando tudo. Ondeiam nos trigais

D' oiro fulvo, de leve... docemente...

As papoilas sangrentas, sensuais...

 

Andam asas no ar; as raparigas,

Flores desabrochadas em canteiros,

Mostram por entre o oiro as espigas,

Os  perfis delicados e trigueiros...

 

Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...

Olhando esta paissagem que é uma tela

De Deus, eu penso então: Onde há pintor,

 

Onde há artista de saber profundo,

Que possa imaginar coisa mais bela,

Mais delicada e linda neste mundo?!

 

P.S.: Abri uma  das páginas do livro de poesias que tenho de Forbela Espanca, e foi o poema que escolhi.

 

 

Papoilas do Alentejo