artista de rua
O homem terá trinta e poucos anos, encontra-se durante parte da manhã e/ou da tarde nos semáforos de um dos cruzamentos da Avenida 31 de Janeiro.
Tem cerca de 60 segundos para fazer os malabarismos e manipular os 4 a 6 pinos que tem na mão.
É muito expressivo, se algum pino lhe cai, leva para a brincadeira, faz um gesto de surpresa, rapidamente o apanha, continua a execução, acabando-a uns segundos, com uma mímica ou um posar característicos, antes de o sinal verde abrir para os condutores.
Pega no chapéu e, sorridente, percorre os carros agradecendo com gestos simpáticos, quer tenha ou não a moeda, que por vezes nem dá tempo a que seja colocada no chapéu.
Sem que alguma vez levasse a mal não receber nada, com palavras simpáticas e cheias de vida diz, mais ou menos, o seguinte " bom dia, haja alegria, haja saúde, a vida é bela, viva-a com algeria."
Hoje, às 10h da manhã, lá estava ele. Vários carros aguardavam o sinal verde.
Tinha a minha carteira no banco de trás, consegui puxá-la, tirei 30 cêntimos, as moedas que tinha e pensei: " pela simpatia deste rapaz, vou dar-lhe o que tenho".
Várias vezes deixei a moeda no chapéu, outras alturas digo-lhe que fica para a próxima, ele agradece sempre.
Quando se aproximou do carro ( ele já me conhece porque passo todos os dias ali quando vou para o ginásio), pousei a moeda dentro do chapéu e disse-lhe: " A sua simpatia conquista toda a gente"
Sorriu e agradeceu.
Todos os condutores deixaram a moeda dentro do chapéu.
Penso que estes pensam o mesmo que eu: " este homem põe uma pessoa bem disposta logo de manhã".
É que há outros jovens que vão para lá fazer o mesmo, mas não têm a mesma simpatia deste.
Logo a seguir, noutros semáforos, o pedinte ( de quando em quando desaparece, deve ir bater o coro para outras cidades vizinhas) que costuma vir também e há anos para este cruzamento, a quem dei muitas vezes a moeda, com ar de sofrimento, que não tem, com um aspecto de pessoa que é bem tratada, que usa a perna como pretexto para pedir, leva a mão à boca a querer dizer que quer uma esmola para comer que, e por que ninguém acredita nele pelos comentários incomuns que em tempos fazia, ninguém lhe dá nada.
E fica com ar de troça, de chateado, o que piora as coisas.
Lucra o artista de rua com a sua simpatia.