Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cantinho da casa

cantinho da casa

desafio de escrita do Triptofano # 6

o pierrot

20220301_144742.jpg

 

Ela até podia vestir aquelas roupas ridiculas de carnaval ,mas ai de quem tentasse pintar-lhe o rosto!

Ela entrava em pânico quando via palhaços na rua, que às vezes se aproximavam para lhe oferecer um balão, fugia deles a chorar, agarrava-se à mãe ou quem a acompanhava.
Mas gostava de ver o Batatton. Sabia que os dois personagens não estavam perto dela.
Estava no 7ºano, e numa pequena peça de teatro que ia haver na escola, foi-lhe entregue o papel de pierrot.
Ficou desolada, chorou, disse aos pais que não queria voltar para a escola.
Os pais tentaram ajudá-la a superar aquele medo pelos palhaços, disseram que a única forma de ela os enfrentar era participar no teatro.
Seria apenas aquela vez, mas não a obrigavam a isso, falariam com a professora para lhe dar outro papel.
Mas ela o que não gostava mesmo era das caras pintadas, nem de os ver por perto, insistia com os pais.
Algum tempo depois, convenceu-se que os pais tinham razão, tinha que superar essa fobia por palhaços.
Foi aos ensaios na escola sem nunca ter dado a entender que não queria representar.
E no dia em que os pais foram buscar o fato à costureira, para o experimentar, ela chorou muito.
Os pais já se sentiam culpados. Mais valia ter falado com a professora, pensavam.
Puseram o fato em cima da cama e pediram-lhe que o observasse e pensasse bem se era capaz ou não de o vestir, sobretudo na pintura que teria de fazer no rosto.
No final do dia, pouco antes de jantar, apareceu diante dos pais com o fato vestido.

Não tinha as tintas para o rosto, lembrou-se que a mãe tinha um creme de limpeza que aplicado na pele ficava como uma máscara branca, e com o lápis preto dos olhos fez o risco nas pálpebras e desenhou a lágrima que caía do olho esquerdo.
Se ela entrava em pânico quando via um palhaço, desta vez era ela o palhaço.

Os pais ficaram estupefactos com o que viram.
O candeeiro da sala evidenciava a tristeza, a amargura que saía do peito da filha.
As lágrimas escorriam dos olhos dos pais. Perceberam que a filha lhes dera uma lição.
Aproximaram-se dela. Abraçaram-na com muito amor.

participação no Desafio de Escrita do Triptofano.

outros bloggers que participam:

Ana de Deus, busy as a bee on a rainy day
Bruno, no fumo do meu cigarro
Cristina Aveiro, contos por contar
Marta - o meu canto
Maria Araújo, cantinho da casa
Maria, abrigo das letras
Triptofano