a comédia
Pois na passada terça-feira, fui ver a Comédia a La Carte, dois dias em cena, cá em Braga.
Tinha comprado os últimos bilhetes para terça-feira.
Ora o espectáculo começou com a entrada dos actores no palco e com muitos aplausos do público.
César Mourão começou por saudar os presentes, dizendo que o Theatro Circo é a sala mais bonita do país.
O início da comédia dá-se quando ele conta, com o seu humor característico, que os portugueses, nos espectáculos, são diferentes da maioria dos europeus e do público em geral.
Porquê?
Por que enquanto todos os outros envolvem-se no que acontece no palco, nós estamos sempre à espera que algo corra mal. Dá vários exemplos. Um deles: Stevie Wonder.
Vêmo-lo ao vivo, pensamos: " como é possível aquele homem cego, toca piano, como é que ele faz? E de repente, Stevie Wonder levanta-se, agradece os aplausos, de repente, não "vê" os fios que andam pelo palco, tropeça neles e cai.
Ora, se temos uma característica que nos define, se damos mais atenção à desgraça, ao que aconteceu, esquecemos o resto. E, no dia seguinte, alguém pergunta como correu, se gostou, e tal, o que respondemos? "Ah, já não me lembro. Mas eu estava lá e vi quando ele tropeçou e caiu" .
Ou seja, ele quis dizer que estamos sempre alerta para o que pode acontecer de mal, para o imprevísivel.
Começou a representação. Cerca de três minutos depois de ele ter contado a história, ouviu-se um estrondo no palco.
O público ri às gargalhadas, os actores viram-se para trás
Vemos dois músicos levantarem-se. O público continua a rir às gargalhadas, os actores também.
A cena demora cerca de um minuto.
O que aconteceu foi que o baixista, sentado na cadeira em cima de um pequeno palco, caiu de costas.
Os outros colegas tentavam levantá-lo.
Todos se riam, eu também.
Mas de repente, pareceu-me que estava a ser difícil levantá-lo.
Fiquei precupada quando percebi que certamente teria acontecido sido algo mais grave. Que ele não conseguia mexer-se.
Surge então o baixista entre os dois que o levantavam.
Cesar Mourão ria-se. Mas perguntou-lhe o que acontecera e se estava bem.
Ajeita-se a cadeira, responde que está bem, senta-se.
Os aplausos de todos.
Com razão, César Mourão acabara de definir o comportamento do nosso público nos espectáculos. Coincidência ( se as há) algo insólito acontecera.
E não foi propositado, disso tenho a certeza.
Daí para a frente foi só rir, rir, rir.
Nada mais aconteceu de mal. Foi um grande espectáculo.