o médico
Há 4 anos que não ia à consulta de otorrinolaringologia no hospital onde fui operada há 15 anos.
O médico esteve ausente, por doença, cerca de 2 anos, procurei um especialista aqui na cidade para as consultas de rotina.
Soube, no ano passado, que o médico recuperara, que regressara ao trabalho.
Há dias, lembrei-me de marcar consulta para ele, visto que me acompanhou ao longo destes anos todos e sempre tive confiança nele, estava na hora de voltar.
Fui hoje. Quando lhe disse que não ia à consulta há 4 anos, ele dizia 2, até que foi ver a minha ficha e confirmou que sim, 2013 foi o último ano que lá estive.
Óbvio que não referi que o motivo da minha ausência fora o seu estado de saúde. Não me competia tocar no assunto. Disse-lhe que neste período de tempo tinha consultado um médico cá da cidade quando tivera um zumbido no ouvido esquerdo; que fizera audiograma, que estava normal, que ultimamente não tenho tido zumbidos nem dores.
Depois de examiná-los, comentou que não tenho pólipos no nariz, a garganta está bem.
Ora, ao longo deste 16 anos de consultas, este médico sempre mostrou ser uma pessoa serena e pouco faladora. Por vezes sentia-me pouco à vontade com o silêncio que se gerava no consultório, dava-me a sensação que estava de mal com a vida.
Colegas minhas mudaram de médico, achavam-no antipático. Eu sempre afirmara que gostava dele, era feitio seu falar pouco com o paciente, que apesar de ser um homem de poucas falas, confiava nele.
Na estrada, pensava como iria encontrá-lo. Mais frágil? Mais calado?
Uma hora de espera, como sempre, para esta consulta, mal entrei, sorri. Contrariamente ao que pensara, está com bom ar, um pouco mais velho, como é natural, mas com uma postura dinâmica, simpática, comunicativa.Teria sido uma grande luta, com certeza.
E na despedida, comentou que gostou muito de me ver.
E eu fiquei muito contente de ver que ele está bem.
Para o ano, volto.