O Mudo
A semana passada fomos almoçar a um restaurante na praia, muito conhecido cá no norte.
A história desta casa, que tem muitos anos, era eu uma criança, vem de os seus donos, um casal, serem mudos.
O espaço era uma cabana de pescadores sito no lugar conhecido por Pedrinhas e que fica a 1 km de Apúlia, com o nome de "Os Mudos".
O casal fazia umas excelentes sardinhas assadas, passou para a confecção de outros peixes e mariscos. Restaurante sempre cheio, fazia-se e faz-se fila para almoçar.
O tempo passou, deixamos de passar férias nesta praia.
O restaurante continuava a servir os clientes que vinham de todos os cantos do país.
Quando a semana passada decidimos comer umas sardinhas assadas, fomos lá. Deparei com um espaço completamente remodelado, apresentável, comparado com "Os Mudos" de há longos anos.
Entramos. Ao balcão, do lado esquerdo da porta, estava um homem nos seus 47 anos, alto, que controlava os lugares e as mesas, que perguntou o que queríamos.
"Almoçar" respondemos os três, " e se possível, na esplanada".
A minha irmã dirige-se à esplanada, e diz o homem com voz arrogante: " A senhora não pode ir para aí".
Parvas olhámos para ele, diz a minha irmã: " Mas eu só vou espreitar a esplanada, não vou ocupar nada".
Volta a repetir ele: " Não pode ir para aí".
Se não fosse pelo nosso amigo, juro que me vinha embora.
Fui à casa de banho, quando regressei, eles estavam sentados à mesa. "Não gostei nada da arrogância do homem", comentei.
Os funcionários, muito simpáticos, andavam de um lado para o outro sempre atentos aos pedidos dos clientes
No final do almoço, a jovem funcionária perguntou-nos se estavamos bem, ao que aproveitei para fazer a pergunta sobre os mudos, os donos do restaurante.
E foi então que soube da história. Os mudos morreram há anos, o filho ficou com o restaurante que por sua vez passou o negócio para o filho ( o homem que estava ao balcão).
O pagamento é feito num outro balcão. Estava ele, de novo, a controlar tudo, dirigimo-nos lá, a minha irmã pega no cartão multibanco marca o código, mas não dá. Repara que o código é de outro cartão que também o levava consigo, faz a troca. O homem olhava-a, eu olhava-o, ele não articulava uma palavra.
A minha irmã marca código e diz-lhe: "Quero a factura, se faz favor".
Ele dá-lhe o cartão, o talão e a factura, ainda sem articular uma palavra. Não saiu um obrigado daquela boca.
Saímos do restaurante e comentei; " Homem antipático e arrogante, não sei como o restaurante tem tantos clientes. Por mim, não ponho cá os pés, nunca mais!"
Hoje, fui cedo para a praia. Decidi tomar café no lugar do costume.
Quando cheguei a porta estava fechada. Achei estranho, vira um casal na esplanada de cima. O café mais próximo era em Apúlia, aproveitei para fazer a minha caminhada.
Passando à porta de " O Mudo" (é o nome actual) vi uma senhora sentada no banco, cá fora. A porta estava aberta, entrei para perguntar se serviam café.
Ao mesmo tempo que entro, sai uma senhora de porta-moedas na mão, deduzi que tomara lá café, ou não.
Na grande máquina de café, vi ele, o dono e perguntei: " dá para tomar um café?"
Da mesma maneira que falara para a minha irmã, o mesmo tom de voz arrogante respondeu-me: " Não, não sirvo café".
Saí. Não fiquei surpresa porque esperava esta resposta quando vi quem ele era. Mas estou certa que nunca mais entro naquele lugar e se depender de mim, se alguém me perguntar como é o restaurante, respondo que não conheço.