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cantinho da casa

cantinho da casa

da semana de temporal

Sábado passado, abriu Braga Capital Portuguesa da Cultura 2025.

A chuva veio "abençoar" a abertura que, segundo soube, os espectáculos nos vários lugares que se realizaram foram muito bons.

Eu saí para ver uma jovem canadiana    tocar órgão na Basílica dos Congregados.

Estava à espera de ouvir outro género de música que nos alegra a alma.

Uns acórdãos monótonos, monocórdios, levavam-nos à reflexão, ao nosso interior, e até a adormecer, como vi algumas pessoas. Por vezes, outros sons semelhantes ao piar dos  pássaros,  confesso que não foi do melhor que ouvi.

À noite, houve mais espectáculos e,  no final, os 500 drones que "invadiriam o céu de Braga", pensando eu que conseguiria ver da minha janela, e pelo que vi na Braga TV , o lugar onde eles faziam as suas lindas imagens sobre Braga e sua história, o alto prédio que fica numa rua paralela à minha, impediu que visse o espectáculo.

Na segunda-feira, decidi ir ao cinema depois do almoço.

Uma hora que não tem muito público, e que não se é incomodado pelo mexer das mãos no balde das pipocas, nem o ruído nas bocas de quem as delícia ( eu adoro)

Metade dos lugares estavam ocupados.

Como não poderia deixar de ver "Ainda aqui estou" é um filme bom, não só porque retrata a vida de um casal do tempo da ditadura, mas porque os personagens são bons.

Mesmo  os mais novos, envolvem-nos na vida de uma família numerosa, feliz.

A luta pela procura do marido que foi levado pela polícia federal, a chantagem psicológica na identificação de todos os homens e mulheres presos por nada.

Passados 25 anos, foi declarado o certidão de óbito, foi a família recebê-lo, o culminar da gratidão por, finalmente, terem-no com ela.

Eunice Paiva, é o forte da família.

O seu papel é tão natural, as suas expressões, o seu diálogo, a educação que passa aos filhos, é de uma naturalidade que nos reconhecemos nela.

Momentos tristes, momentos alegres, família que cresceu, eis que no final, e porque quando a família se reunia tirava-se uma fotografia, surge Fernanda Montenegro, no papel da personagem Eunice, idosa,  que  sofria da doença de Alzheimer.

Sentada em frente à TV, os olhos levantam-se para ouvir uma notícia sobre o que acontecera a muitas mulheres que ficaram sem os seus cônjuges.

O nome do marido é mencionado.

Baixa a cabeça.

Vêm os filhos buscá-la para o retrato.

Sempre que havia retrato, havia sorrisos.

Desta vez, todos sorriram. Ela não.

A história é para ser vivida na sala de cinema.

Estes são alguns apontamentos do que é o filme.

Nos dias que vivemos, reflictamos no que foi a ditadura.

Eu vivi alguns anos e sei o que os meus avós e os meus pais passaram.

Na terça-feira, com o tempo horrível que estava, não fiz nada que me distraísse.

Fui buscar o miúdo à escola, levei-o à terapia.

No carro, comia o meu lanche, recebi  chamada da minha irmã.

Falecera a mãe de uma amiga nossa.

Depois de levar o miúdo a casa, fui ao velório.

Conheço poucas famílias que sejam tão unidas quanto esta.

A minha amiga tem três rapazes e uma um rapariga, todos adultos.

Estes jovens sempre acompanharam os avós maternos.

Iam de férias com eles, tinham um amor incondicional aos avós.

O filho mais velho vivia com a avó.

Na missa, o padre fez um homilia pequena que captou a minha atenção, e penso que de todos os presentes, dizendo mais ou menos  estas palavras que me emocionaram: " A perda dói e custa muito.

Mas a vida é feita de perdas e ganhos.

Olhemos para trás e pensemos nos ganhos que os nossos entes nos deixaram".

Uma família muito unida, exemplo de que a educação e o respeito são valores  fundamentais  para que a sociedade se respeite.

E a nossa responsabilidade é passá-los aos filhos, aos netos,  e estes às gerações que virão.

Duas famílias unidas; a do filme, e a real.

Ambas tocaram o meu pensamento e o meu coração.

 

 

 

 

abandonada na pequena estrada

Sábado, a sobrinha foi com o filhote para a praia, ficaram a dormir lá, eu e a minha irmã decidimos passar o dia de domingo com os dois.

Depois do almoço, o menino fez a sesta, eu fui dar uma volta pela praia.

O vento estava mais fraco ( no final da manhã estava nortada), decidimos ir para a praia.

As crianças não páram, como todos sabemos, banho de mar, nem pensar porque estava maré alta, de vez em quando o vento ficava mais forte, estivemos cerca de uma hora por lá, regressamos a casa.

O miúdo tinha a piscina para brincar e mergulhar.

A caminho de casa, na estrada, em frente ao portão de serviço do hotel e das casas deste condomínio, vi um gato caído  no meio da estrada.

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Eu vinha à frente, e antes que o miúdo o visse, voltei para trás e avisei a irmã e a sobrinha do que vira,  que seria melhor o miúdo não ver.

Decidimos que ele ia às cavalitas da mãe, curioso que é, porque gosta de animais, iria aproximar do bichinho e fazer perguntas.

Ele olhava para o gato e perguntava se estava a dormir, nós respondíamos que sim.

Eu e a minha irmã ficamos para trás, queríamos ter a certeza de que estava morto.

Os carros que passavam ali, pedíamos aos condutores que se desviassem dele.

Ainda tive alguma esperança que parassem e/ ou ajudassem a tirar o bicho para a berna da estrada, junto aos contentores do lixo que lá se encontram.

Decidi ir à recepção do hotel, pedir ajuda, ou que me  dessem alguma informação sobre que entidade poderia fazer alguma coisa.

Eu não tinha coragem para pegar no bicho e tirá-lo da estrada.

A jovem da recepção disse-me que não podia fazer nada, e que só a Câmara poderia ajudar.

Pedi que me desse o número da GNR, talvez me dessem alguma dica de quem pudesse lá ir...Mas era domingo.

Falei com quem me atendeu, disse-me que  não é da competência da GNR, só a Câmara, os Bombeiros, se o animal estivesse vivo, ou a Junta de Freguesia... Mas era domingo.

De repente, vejo a minha irmã junto a uma pequena porta ao lado desse portão, que só abre do lado de dentro, que os clientes do hotel e das casas usam para ir para a praia, evitando sair pela entrada principal.

Ela esperitava o gato.

Transmiti o que a GNR me dissera.

Entretanto,a nossa sobrinha sugerira que se tirasse o bicho dali. Pelo que percebi, elas tinham visto caixas de cartão junto aos contentores.

Saímos do portão, ela pegou numa das caixas, rasgou uma das abas móveis, e com esse bocado tentava levantar o bicho para a caixa, ao mesmo tempo que eu empurrava a parte de trás da caixa e ele entrasse.

Deu resultado.

Como seria esperado, colocando a caixa aberta para cima, o corpo morto do bicho virou-se para cima. 

Comentou a minha irmã:"É fêmea! E há pouco, estava um gatinho parado, junto ao contentor a ver a mãe"

Ficamos de coração partido.

Deixamos a caixa junto ao contentor.

Com certeza que os funcionários da Câmara de Esposende passarão, hoje, ou amanhã, para recolherem o lixo, e farão alguma coisa para a enterrar. Ela não pode ficar ali.

Comentou a minha irmã: " Deixar o bicho na estrada, alguém ia esmagar o seu corpo. Conseguimos metê-lo na caixa, mão ficou abandonada na estrada. Demos-lhe alguma dignidade".

À noite, em casa, pensava na gata. E embora não visse o gatinho, certamente, haveria mais que ficaram sem a mãe.

A gata foi atropelada, de certeza, mas não havia marcas de sangue no chão.

Teria ido contra o carro, provavelmente quando atravessava a pequena estrada do pinhal.

Mas quem a atropelou não teve um pouco de sensibilidade de tirar o bicho dali.

Entretanto, o meu sobrinho neto perguntava pelo gato.

Respondíamos que ele estava a dormir.

A gata era linda e novinha.

 

 

 

 

 

 

Dia da Terra ( e das recordações)

hoje é  o Dia Mundial a Terra, o dia que nunca esquecerei o último dia de vida do meu cunhado, pai da Sofia, no ano de 2002.

Estava um dia quente, saí do trabalho por volta das cinco, estacionei o carro, fui vê-lo ao hospital, na altura aqui perto de casa.

Estava tranquilo, olhar perdido na parede branca do quarto, a minha irmã e a irmã dele calçavam-lhe as meias nos pés que elas diziam estarem frios.

Estava afasta da dele,observava-as, e a ele.

A minha visita fora rápida e fizera-a porque o meu coração pedira-me para ir vê-lo.Em nenhum momento ele falou.Deixava que elas tratassem de si.

De repente, pareceu-me que, ao ver-me, esboçara um sorriso.E o seu olhar perdeu-se de novo na parede branca do quarto.

Depedi-me delas, porque não sei se ele me ouviria, com um adeus e saí do quarto a chorar perdidamente.

Tendo estado nos finais desses dias a cuidar dos meus sobrinhos enquanto a minha irmã cuidava do marido, nesse final de dia ela não chegava para jantar, queria dar de comer aos filhos,eles precisavam de dormir.

Ligou-me para lhes dar de comer, chegaria por volta das 21horas. Chegou logo a seguir,muito triste, o marido estava muito mal. Não jantou.

Por volta das 21h30m, o telefone tocou,atendi,pediram-me para a chamar.

Era um dos cunhados,disse-me ao telefone que o D tinha falecido.

Os meninos dormiam,vieram os irmãos buscar a roupa para o vestirem,não deram por nada.

Foi triste.

No dua seguinte, a Sofia foi para a creche, o mais velho para a escola, frequentava o 6º ano.

A mãe foi buscá-lo à escola, à hora do almoço. Foi nesta hora,  à porta da minha casa,  que ele soube da notícia.

Saiu do carro, pegou no telemóvel, foi aos contactos e apagou o número do pai.

Ele tinha uma  admiração infinita pelo pai.

Almoçávamos todos cá em casa.

Eu vi da janela.

Faz hoje dezoito anos que o D faleceu.

Passaram rápido, estes anos.

Mas houve muita dor e revolta. Mas tudo tem o seu tempo,tudo se regenera.

Ficam as recordações e a saudade.

Um livro WOOK,que encontrei neste site,fala disto mesmo:

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o furacão transformou-se em chamas

Ofélia, o furacão que se prevera afectar os Açores, veio para o Continente.

Os Açorianos bateram palmas de alívio. Vento e chuva foi o que resultou, nada que não estejam habituados nestas ilhas do nosso Atlântico.

Nós, por cá, corríamos contra o vento, contra os incêncios que mataram pessoas, que mataram florestas, que incapacitaram os bombeiros de fazer mais e melhor pela nossa floresta.

Tenho vergonha do que se está a passar neste país, tenho vergonha de constatar a incompetência de quem governa este país, tenho vergonha de saber que há quem queira ver estes país a desertificar-se, tenho vergonha do pouco que vi da minha janela, ontem à noite.

Tenho vergonha.

O furacão transformou-se em chamas. Mais uma vez, ontem, Portugal ardeu.

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imagem da minha cidade, Braga