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cantinho da casa

cantinho da casa

De que é que elas falam, quando falam de nós?

Mais um texto  de Noticias Magazine sobre nós mulheres, e os homens.

Em  destaque o que concordo que algumas de nós falamos... porque há exceções, e do que pensamos sobre os homens, suas conversas, seus segredos.

 

«Mas de que é que vocês tanto falam?» Se, a propósito de alguma conversa interminável da vossa mulher com uma amiga nunca fizeram esta pergunta - ou se nunca tiveram necessidade de fazer esta pergunta -,então, meus caros, vocês são tipos estranhos. Ou, pronto, são diferentes. Ou elas é que são estranhas. Ou diferentes. As generalizações são complicadas e, normalmente, têm uma grande margem de erro, mas é um facto comummente aceite: nós, homens, não percebemos bem por que raio as mulheres falam tanto entre elas. E do quê!

As nossas dúvidas, porém, são fáceis de resolver. Basta perguntar-lhes. O problema é que, na maioria das vezes, não acreditamos nas respostas. Porque custa-nos entender que duas pessoas sejam realmente capazes de estar durante cinco ou mais horas a falar de... tudo. Falam de mulheres, de homens, de relações, de trabalho, da família, de sapatos, dos filhos, de sexo, de traições, de engates, de conquistas, de restaurantes, de revistas de moda, de séries de televisão, de sapatos (a repetição é propositada), de filmes no cinema, de fotografias no Instagram, de publicações no Facebook, de chefes parvos, de colegas que arrastam a asa, de receitas, de sapatos (sim), das aulas de zumba no ginásio, de casas, de amigas em apuros... de tudo.

Nós também somos capazes de falar de tudo. Mas concentramos menos assuntos em cada conversa, demoramos mais tempo em cada tema e não voltamos tantas vezes ao mesmo. É precisamente aí que se traça a principal linha que separa os hemisférios do palavrear masculino e feminino: na quantidade de informações que nós não conseguimos colocar no mais pequeno troço de linguagem.

O mais flagrante exemplo disso está, naturalmente, nas conversas sobre homens, em que se confirma o quão detalhadas as mulheres conseguem ser. Também há as que não gostam de falar destas coisas. Que torcem o nariz a entrar em pormenores e que se sentem incomodadas - sonsas!, chamar-lhes-ão as amigas que querem saber das cenas picantes - ao abordar temas da alcova. Mas essas, acredito, são a exceção. As outras, a esmagadora maioria, falam de tudo isto com à-vontade. E se ao início estão mais renitentes, logo se reúne o Conselho Geral das Amigas Desbocadas, normalmente à volta de uma mesa e de umas garrafas, prontas a exercer o seu magistério de influência para sacar informações da resistente armada em pudica.

Já se sabe que nós não falamos muito sobre as nossas namoradas ou mulheres. Se o assunto mete sexo, então, revelamos pouco. Somos capazes de falar com os amigos para desabafar e até para afogar em álcool as mágoas de causas diversas, todas ligadas à mulher que divide a vida e a cama connosco, mas não nos alongamos muito. Se se trata de um engate ou de um filme a rolar, até somos desbocados, se houver tema de conversa e não apenas bazófia. Mas mesmo aí há um limite para o nível de detalhe a que chegamos. Uma espécie de fronteira que só se ultrapassa para ajavardar em camaradagem de testosterona.

No caso delas, no entanto, isto não ocorre. Se for um marido de muitos anos, talvez se poupem na quantidade de orgasmos que eles lhes dão ou na perícia que o cavalheiro tem para usar as mãos ou a língua. Mas apenas guardam o que é mesmo, mesmo passível de suscitar curiosidade nas amigas. Do resto, de tudo o resto, elas falam. Tal como falam de todos os outros. Sabem aquele vosso amigo que tem a alcunha de «João Pequeno»? Onde é que acham que nasceu aquele epíteto? É muito provável que tenha saído da boca de uma ex-namorada que disse às amigas todas os centímetros que ele tinha. E como os usava.

[08-09-2013]

 

 

Gosto de o ler, Paulo Farinha