Viver é isto
A morte deTina Turner levou-me para os anos áureos da minha juventude, das viagens para as discotecas, nas noites de sábado de verao,para Viana do Castelo, ou Ofir.
A mulher que o meu irmão dizia que tinha as pernas mais bonitas do mundo.
Depois, no programa "Essencial" do Jornal da Noite, da SIC, as três vítimas de assédio sexual na infância e adolescência, por padres , chocaram-me com as suas declarações.
E trouxeram-me lembranças da minha inocente infância, quando ia confessar os meus pecados ao padre, e eu pensava para mim mesma que não os tinha.
Quando ele me perguntava quais foram os que cometi e respondia que me tinha zangado com os meus irmãos, ou que não fizera o que a minha mãe mandava.
Eram sempre os mesmos. Mas a minha mãe mandava -me confessar-me e eu ia.
Eu inventava porque eu era criança e não sabia o que era fazer mal a alguém.
E poucos minutos após confessar os "pecados" , dava a absolvição e ainda tinha de rezar não sei quantas Avé Marias( hoje rezo porque quero e pela fé que tenho).
Acabado o Jornal da Noite, peguei no telemóvel, entrei no Sapo blogs e vejo um destaque cujo nome reconheci.
E li.
As orquídeas que a Isabel trouxe de casa da mãe, e cuidou delas.
E neste primeiro aniversário do seu falecimento, com muito orgulho, e em sua homenagem mostra-nos a fotografia.
E que lindas orquídeas!
E as lágrimas caíam pelo meu rosto, limpava-as com as mãos.
Sempre que há uma notícia da morte de alguém, traz memórias da minha mãe.
Fiquei sem mãe, pai e dois irmãos, mas a minha mãe é a primeira pessoa que está sempre comigo.
Faleceu a 13 dias de completar 53 anos.
Quando fiz 60, pensei " a minha mãe morreu com 52, a minha irmã com 56, o irmão com 55".
Respirei de alívio e comentei: "eu passei!"
E tudo isto põe-me a chorar.
Talvez seja a forma de libertar o que me preocupa no presente e que tento mostrar que está tudo bem.
Viver é isto.