Hoje fui buscar uns sapatos a uma loja de solas aqui na cidade, que estavam para pôr umas solas especiais.
Levei a miúda comigo.
O dono da loja oferece-lhe uma borracha própria para as solas de sapatos.Ela fica estupefacta com o pedacito da borracha e diz «Fixe», ao mesmo tempo que passa a borracha no tampo do balcão.
O senhor , nos seus 45 anos, explica-lhe que em criança vivia numa aldeia onde nem sempre havia aulas porque, de Inverno, quando chovia as árvores caíam e impediam o acesso à escola.Como não tinha cadernos e era difícil arranjá-los, usava um quadro pequeno onde escrevia o que aprendia e, quando se enganava, apagava com um pedaço de borracha como o que acabara de oferecer.
A miúda perguntou-lhe «Quadro? O que é isso?»
«Na tua escola deves ter um quadro preto, ou verde, não sei», respondeu ele.
«Preto», diz ela prontamente. « Mas agora também há uns quadros brancos onde se escreve com uma caneta própria», interrompeu ela.
«Então sabes como é o quadro. Imagina esse quadro em ponto pequeno. Como não tinha cadernos, escrevia na ardósia. A tua mãe, também sabe o que isso é», acrescentou ele dirigindo-me o olhar.
«Mãe? Ela não é minha mãe!», corrigiu. «Ela é minha tia e madrinha»
«Lousa», interrompi eu. «Nós chamávamos lousa». «Quando chegarmos a casa, lembra-me que eu vou à internet procurar uma imagem de uma lousa e vês como é», pedi eu à miúda.
Despedimo-nos do senhor.
Chegámos a casa e encontrei mais do que queria. A imagem vem também acompanhada do lápis que nós usávamos para escrever os conteúdos que aprendíamos.
Nem me lembrara desse detalhe…e da pequena história e do nome que vêm escritos.
É que ela tem um gato, o «Destruction» ou «Distraxa».
«Farrusco», é um nome estranho para uma criança do século XXI.