uma foto # 35
Uma, não!
Duas!
Obrigada, equipa do 🐸, pelo destaque.
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Uma, não!
Duas!
Obrigada, equipa do 🐸, pelo destaque.
Estive no fim de semana de 15 de Agosto em Aver-o-Mar, a pouca praia que fiz limitou-se a uma manhã com sol e pouco vento, porque os seguintes foram muito ventosos, e como estavamos alojadas no hotel em frente ao mar, com piscina interior e exterior, usufruímos de tudo o que tinhamos direito, de modo que nos dias seguintes, não fomos à praia.
Há uma semana, fui cinco dias para Esposende, instalamo-nos no Hotel Suave Mar, que conheço há anos de um casamento que fui, mas nunca usufuíra de alojamento para praia,visto que, na época balnear, costumo sair para outros lugares.
E uma das sobrinhas tem casa em Ofir, é esta a praia que frequento assiduamente.
Este ano, decidimos ficar por perto, mais a norte não conseguimos quarto, nem nos melhores hoteis, ficamos por este que, admito, sendo antigo, tem tudo o que muitos hoteis de 4* têm.
O tempo não foi o melhor.
Este ano, quer o mês de Julho, quer o de Agosto, foram muito instáveis.
As praias com muito vento e as noites frias ( e também houve alguma chuva)
Mas o que me leva a escrever este post, é que enquanto em Aver-o-Mar não vi cães na praia, em Esposende, o fiel amigo do homem era o elemento das famílias que por lá iam gozar da praia.
Na verdade, foi uma surpresa, porque não reparei se havia alguma sinalética que permitisse cães na praia.
É uma das duas praias "pet friendly" do concelho de Esposende. O espaço onde pode levar o seu patudo a banhos situa-se entre a Praia Suave Mar Norte e a Praia de Cepães e está devidamente equipado com depósitos para recolha de dejetos e pontos de água.
Para acederem a esta praia, os cães devem estar identificados e licenciados na Junta de Freguesia da sua área de residência, usar coleira, peitoral ou açaimo e trela."
Então era ver as famílias, os casais, mulheres e/ou homens sozinhos com os seus animinais.
A maiorira eram pequenotes.
Ora, num dos melhores dias, estavamos sentadas de frente para o mar, a minha amiga apercebeu-se de um casal sentado uns metros mais à frente que tinha um cão ( sem a trela) muito sossegado sentado ao lado do dono e que todo o movimento que este fazia, ele ora arrebitava as orelhas, ora tentava ir atrás dele, caso fosse para o mar, ora se aconchegava a ele e fazia o gesto de quem queria atenção e mimo,muito mimo.
À senhora, o bicho não lhe prestava qualquer gesto de carinho ou atenção. Era sempre o seu dono, que ele estava atento ou pedia mimo ( tive imensa pena de não tirar uma fotografia).
Pela hora do almoço, o casal levanta-se, o cão também, e todos os gestos que o senhor fazia, ele não largava o olhar.
Se ele parava,o cão parava. Se se baixasse para pegar na toalha, o cão seguia com o olhar todos os gestos que o dono fazia.
Passam ao nosso lado, eu fiz um gesto ao cão para ele se aproximar ( percebi que era meigo e não me faria mal), e diz a minha amiga:
- O seu cão é um amor. Ele está sempre atento a tudo o que o senhor faz.
Comenta ele:
-É sim, um amor. Ele adora-me. A ela, a esposa, que está todo o dia com ele, porque eu estou a trabalhar, não lhe dá nenhuma importância. Mas,mal chego a casa, é uma alegria.Não me larga."
E dizia esta palavras com muito orgulho.
Demos os parabéns por ter um cão tão deliciosamente meigo.
Durante o dia, a minha amiga falava no cão. E na hipótese de um dia ter um cão pequeno.
O quê?- perguntei.
Não te esqueças que tens de o levar à rua para fazer as suas necessidasdes, de apanhar o cocó. E faça sol,faça chuva, e pelo menos duas vezes ao dia, é uma grande responsabilidade.
Esta minha amiga odeia pêlos de animais, afasta-se de qualquer animal por perto, não faz um carinho, não se aproxima, e quer ter um cão?
-É um caso que ainda vai levar tempo a pensar-, respondeu-me.
No dia seguinte, mais um dia de praia razoável,o vento não era de mais, lá estavam os cães com os seus donos, com as trelas presas ao guarda-sol, ou às pernas dos seus donos.
Ao final da tarde, agora mais cedo porque os dias estão mais pequenos, um homem vestido "a rigor" para a pesca, preparava o isco, lançou a primeira cana, uns minutos depois a segunda.
Por perto, os jovens banhavam-se no mar, e enquanto as canas fixas na areia junto ao mar esperavam que o peixe caísse na arma do anzol, o homem, sentado na areia, ia enrolando os fios de pesca, ou talvez organizasse os materiais que estariam misturados.
Um dado momento, um cãozito parou entre as duas canas.
Olhava para um lado, olhava para outro, onde os jovens tomavam banho, e ficava quieto.
Rapidamente peguei no telemóvel.
Fotografar a cena não seria a mesma coisa, decidi filmar o cachorrro.
Uns minutos na mesma posição, eis que aparece a correr um miúdo que se mete com o cão.
Este desata a correr praia fora por entre os corta-ventos, e desapareceu.
O pescador continuava concentrado no seu trabalho. Uma dada altura levantou-se, foi ver a primeira cana de pesca, Tirou-a...sem peixe.
Foi pô-la junto à caixa dos materiais.
E desceu o bocado de areia que separava do mar, e ficou junto à outra cana.
Quando decidimos sair da praia, eu caminhava atenta para ver se o cão estaria com alguma família, até que, perto da esplanada do café da praia, em frente a uma barraca e sentada de frente para o mar, uma mulher que parecia ser idosa que estaria entretida a fazer alguma coisa, a seu lado estava sentado o cão que viramos no mar.
Fiquei enternecida.
A minha amiga também.
Não tirei fotografia.
Pensei que este momento era dos dois.
E mais uma vez a minha amiga falou em ter um cão..."Mais para a frente, quando sentir que é altura de ter um companheiro fiel"
Talvez quando se reformar... Mas ainda tem uns anos pela frente.
Mais um Festival de Jardins de Ponte de Lima, o 19º, este ano com o tema " O Imaginário na Arte dos Jardins” , aproveitei o dia de hoje, com uma temperatura bastante agradável, para visitar a Exposição.
Não vou falar sobre os Jardins, que vou escrever e publicar algumasfotografias,mas do Festival Medieval Solidário, onde havia algumas tendas de tudo um pouco, e os habituais comes e bebes, apelativas ao convívio com os amigos e a família sentados à mesa a comer as bifanas,ou o pão com chouriço, e a beber umas cervejas.
Dava eu a volta ao fresco e verde espaço, junto ao rio Lima, vi uma cena que me deixou feliz.
Um homem, que teria 50 anos, ou mais, com deficiência nas duas pernas, ajudado pelas muletas, jogava à bola, e bem, com dois adolescentes nos seus 12, 13 anos.
Ora cabeceava e atirava para os rapazes, que por sua vez, chutavam para ele.E para onde quer que a bola fosse, esticava o braço para que a muleta tocasse a bola e, com força, atirava-a para os rapazes.
Não passou despercebido a quem estava sentado nas mesas mais próximas.
Foi uma imagem que me ficou na mente, sobretudo pela empatia que os dois jovens tinham com o homem.
É disto que o mundo precisa.
A inclusão,que muito se fala, não é somente para as crianças com deficiência ou portadoras de outras doenças genéticas.
É para os mais velhos, também.
Esta cena lembrou-me uma que se passou, há muito tempo, com a Sofia, minha sobrinha, e que tinha a certeza de ter ums post sobre isso.
Demorei a encontrá-lo,mas consegui.
É para isto que tenho o blog: recordar.
agosto de 2012
A propósito deste programa de entretenimento que vi no passado sábado na RTP1, um dos sketches foi sobre a religião ligada ao Brasil, e este fez-me lembrar a viagem que fiz no comboio urbano, na semana passada, ao Porto.
Em frente a mim sentou-se uma jovem bonita, piercing no nariz, vários brincos/ piercings nas orelhas. Vestida de preto, mala de estudante na mão, sorriu.
Logo a seguir, um homem que nos perguntou se nos incomodava sentar-se ali.
A jovem respondeu que sim, eu também. E sentou-se ao meu lado.
O comboio sai da estação, e o homem começa a dizer umas coisas para a jovem. Nada de provocações, elogios, mas umas palavras que eu não percebi, que ela comentou, e vi que era brasileira.
O homem começou então a falar.
Nasceu em Braga mas há muitos anos que vive em Gaia, que estava reformado, que trabalhou, e casou, em Gaia, e por lá ficou. E que desde que se reformou que gosta de vir almoçar a Braga.
Disse qual era o restaurante e perguntou-nos se sabíamos onde ficava. A jovem disse que não, e eu, que tinha dito ser de Braga, comentei que sabia qual era a rua, mas não o restaurante. Ficou admirado, dizia que é um bom restaurante ( percebi que é um daqueles que serve diárias), mas não dei grande importância. Contou o que come ( quase sempre bacalhau porque adora ) ,que bebe uns copos, quanto paga, o prazer que lhe dá vir uma, duas , três vezes por semana, almoçar.
Perguntei se vinha encontrar-se com os amigos de Braga, ao que me respondeu que não.
Vinha sempre sozinho, e não se encontrava com ninguém, que os amigos são interesseiros, que não tem amigos, que gosta de andar sozinho.
A jovem ouvia tudo, mas as suas expressões mostravam que a maioria das palavras que ele dizia não entendia ( de vez em quando eu piscava-lhe o olho e sorria), não só porque ele falava depressa e dizia palavrões ( nada que ofendesse), mas também porque misturava os assuntos: a familia, Braga, os cartões urbanos que o levam para onde ele quer.
Era um homem simpático, fazia-nos rir, e ria-se do que contava.
Uma dada altura, falou da esposa, que mudou para outra religião, que vai para aquelas igrejas que gritam e sacam o dinheiro aos pobres; que em tempos iam de autocarro para Lisboa; que foi várias vezes com ela para os encontros, mas como ele não se interessa pela religião, embora respeite todas, que era uma fantochada, deixou de ir; que os pobres vão à procura de milagres; que a casa do Bispo é grandiosa; que a esposa é importante na igreja, mas ele não se mete no assunto, porque se o dinheiro que gasta é dela, está tudo bem, que faça o que quiser.
Estavamos em Ermesinde. Às tantas, fala sobre o Brasil, de o povo ser fanático nestas religiões. A jovem intervém dizendo que não frequenta essa religião, e diz o homem :" Ó, c*%&#+o que você é brasileira!".
A jovem ri-se, e comento eu:" Só agora é que o senhor percebeu que ela é brasileira?!"
O homem pediu desculpa, ela respondeu que não tinha importância, que ele estava a ser simpático, estava a gostar da conversa.
Na verdade, eu também estava a gostar de o ouvir.Era um homem puro naquilo que dizia. E respeitador.
Quando chegamos a Campanhã, ela despediu-se de nós, que íamos para a estação de São Bento, e disse que teve muito prazer em nos conhecer.
Chegados a São Bento, o senhor pegou no saco que trazia e disse-me que dentro dele tinha oito quilos de arroz.
Comentei com os meus botões :"será que não há arroz nos supermercados em Gaia?"
Despediu-se, e cada um de nós seguiu o seu caminho.
Por acaso, eu ia para Gaia.
Há cerca de um mês que não ia ao cemitério, doía-me a alma só de pensar que ninguém lá vai e as flores estariam miseráveis.
Ontem, fui ao mercado municipal, comprei flores, preparei os ramos para pôr nas urnas.
E hoje podia chover a cântaros, nada me impediria de lá ir.
Passava das 11h, e depois de ter ido fazer exames de sangue, deixou de chover, o cemitério fecha à hora do almoço, tinha 1h30 para lavar duas campas e pôr as flores.
Meti-me no carro, balde e vassoura, detergente, e lá fui.
Tenho uma capa comprida que uso quando lá vou nestes dias de muita chuva, que comprei há mais de 25 anos, em Espanha.
Ainda bem que fui de manhã, tive a sorte de não ter chovido enquanto lá estive, porque desde a hora do almoço que não pára de chover.
Ora, quando estava a estacionar, surge-me, à frente do carro, um homem que, de vez em quando, anda por lá a pedir a moeda.
Já tinha reparado que ele é mal educado e insulta as pessoas se não lhe dão dinheiro, mas também sei que ele terá algum problema psíquico, e que as pessoas dão-lhe a moeda, ou não lhe dão importância.
Quando abri a porta para sair do carro, com uns modos rudes, diz-me ele: " Dê-me uma moeda"
Respondi que não trazia dinheiro, que lhe daria na próxima vez que fosse, ao que ele reagiu com gestos rudes: " Olha que p*&#@! Sei lá bem quando vem! Olha-me esta p*&#@!"
E, por breves segundos, fiquei estática a olhar para ele, que continuava com os insultos.
Mais atrás estava outro pedinte, que não dizia nada.
Peguei no balde, na vassoura e nas flores, que por acaso pus junto ao banco de trás, e para não levar a carteira comigo, pusera-a na mala do carro, antes de sair de casa. O telemóvel levava-o no bolso das calças. E fechei o carro e segui para o cemitério.
Enquanto limpava as campas, pensava se realmente teria fechado o carro. Se ele tivesse percebido que não, enfim, eu já não sabia o que tinha feito, podia abrir e levar a carteira.
Quando saí, vejo os dois homens, o primeiro olhou-me, sem dizer nada, o segundo continuava calado, mas reparei que tem um tique nas mãos que me fez deduzir que deve haver naquela cabeça um problema grave.
Antes de abrir a porta com o comando, aproximei-me e vi que fechara o carro.
Voltei a pôr tudo junto ao banco de trás, mas não abri a mala para que eles não a vissem cheia e com a carteira.
Segunda-feria, volto lá para pôr círios.
Vou levar moedas para não ter de ouvir os insultos, que me chocaram, e porque com este tipo de homem não vale a pena dizer não.
A minha irmã questionou-me se eu não me questionava sobre o que andamos a fazer na terra.
Eu respondi que não me questionava sobre o que eu andava a fazer na terra mas "de onde viemos, e como surgiu o homem".
No fim de semana passado, final da tarde, depois de o sobrinho neto fartar-se de brincar com a bola, atirando para um chafariz de um pequeno jardim, e de regresso casa, esperávamos que o sinal abrisse para os peões, eis que ouvimos uma voz de um homem que, parado no sinal vermelho do outro lado da rua, dizia impropérios que nos pareceu ser dirigido a alguém.
Todas as pessoas, que esperavam o sinal abrir, olharam para o homem, que trazia na mão um pacote de vinho.
Do outro lado da rua, também à espera do sinal, estava um jovem negro.
Os insultos eram para ele.
O homem estava bêbado. Falava muito alto, e os insultos eram do pior que se pudesse ouvir. Além dos palavrões nojentos que proferiu, chamava-o de preto, que ele devia estar na terra dele, que era um filho da p* , que devia estar a trabalhar, que ele nasceu para ficar na sua terra e para trabalhar.
Quando percebemos a cena, a minha sobrinha queria a proximar-se do homem e mandá-lo calar, estava a ofender uma pessoa que apenas esperava atravessar a rua.
E eu pedi-lhe que não se metesse, o homem podia ser agressivo, e ela estava com o filho.
O homem continuava, o sinal verde abriu para o peão, o jovem negro atravessou a rua, passou pelo homem sem lhe prestar qualquer atenção.
O homem parou a meio da passadeira, insultou-o, chamou-o de preto nojento, de invadir a nossa terra que fosse para a dele trabalhar que é lá o seu lugar.
Levava as mãos à braguilha e dizia para o jovem, que já estava distante dos sinais, que ele queria era aquilo.
Às tantas, e com os insultos que fez parar toda a gente, todos perceberam o que se estava a passar, e eis que uma jovem mulher decide não atravessar a rua, volta para trás e vai ter com o homem para o chamar à atenção.
Mas este homem não via nem a ouvia ninguém..
Um casal disse à jovem mulher que não lhe desse conversa, ele estava muito embriagado, que perdia tempo com esta pessoa.
Seguimos todos o nosso caminho, comentei com a minha sobrinha: "O jovem teve uma atitude exemplar. Ignorou o homem. Ele está bêbado, não sabe o que está a dizer"
Respondeu-me: "Não! Ele é racista. O seu estado de embriaguez é que está a mostrar o ódio que tem pelos negros."
Auma grande distância de nós, ainda se ouvia as injúrias dele.
Fiquei chocada e incomodada com o homem.
F
a minha rua tem árvores.
nunca vi o que vi hoje.
saí de casa por volta das 11:00h, não dei mais de vinte passos, junto a uma das árvores reparei num homem que estava demasiado próximo dela, passo a seu lado,olhei para ele e vi o jacto de urina que lançava para o tronco da árvore.
estive para o chamar à atenção, mas reparei que do outro lado do passeio dois agentes da PSP multavam os carros mal estacionados.
atravessaram a rua na minha direcção, disse-lhes: " desculpem, mas aquele homem estava a urinar para a árvore"
" o quê?" perguntaram os dois ao mesmo tempo.
e virei-me para trás, já o homem seguia o seu caminho, os dois agentes chamam por ele.
mas ele, "ó pernas para que vos quero", fez-se de surdo.
os agentes olharam a árvore com a mancha, mas não insistiram em chamá-lo.
as motas estavam estacionadas bem junto à árvore, acho que se preocuparam mais em ver se estas tinham marcas nos pneus.
do prédio saía uma senhora que percebi ter fugido para dentro quando viu o homem em plena via pública a fazer o seu chichi como se nada se passasse.
apeteceu-me perder o verniz e dizer-lhe:" badalhoco, não sabe procurar um WC?" ( há três cafés nas redondezas)
discutem-se leis para ficarem guardadas na gaveta.
Tudo preparado para sair de casa, logo de manhã e mais cedo para não perder a reserva da aula, ouço os nós dos dedos de alguém que batia à minha porta.
A Sofia tem esse hábito, sei quando é ela porque a maioria das vezes vem almoçar comigo, mas como está no Porto a estudar e nesta época anda em exames, não poderia ser ela.
Perguntei de dentro quem era, respondeu-me uma voz rouca de homem. Não percebi nada do que disse.
Espreitei pelo monóculo, vi o homem que teria mais de sessenta anos, voltei a perguntar o que desejava. A voz era indistinguível, quando voltei a perguntar o que desejava, respondeu-me que estaria enganado, e subiu as escadas para o terceiro andar.
Tenho estacionamento pago no parque do ginásio, costumo tirar o cartão da carteira em casa, ponho-o no tablier do carro, o lugar mais acessível para, à chegada ao parque, passá-lo na máquina e não perder tempo a procurá-lo.
Entretanto, quando saí de casa, o homem estava no andar de cima, ouvia-se a voz do filho do casal a falar de dentro, continuei a não endentender nada do que dizia, até que o som do intercomunidar da porta do prédio fez-se ouvir várias vezes.
Saí de casa, não sei o que se passou.
Quando chego ao parque do ginásio, lembrei-me que não pusera o cartão no carro, fui à mala onde levo a minha roupa, procuro no bolso de fora, não sinto a carteira.
Estavam o telemóvel e porta-moedas, mas a carteira não. Abri a porta do carro, saí, tirei a mala para fora, tirei tudo do bolso. Nada.
O que me veio à mente: quando o homem batera à porta, eu tinha a carteira na mão pronta para tirar o cartão, mas pusera-a em cima do móvel e nunca mais me lembrara dela.
Ora, na carteira, tenho todos os documentos de identificação e os do carro.
Se por algum motivo tivesse de apresentar os documentos ( que raramente acontece), não os tinha comigo.
Estacionei o carro no parque exterior, fui à recepção levantar a senha. Para a levantar, tenho de ter o cartão do ginásio, o mesmo que me dá acesso a entrar no parque.
Disse ao recepcionista que me esquecera do cartão em casa.
Conhecendo-me muito bem por ser cumpridora e não abusar de nada, entregou-me a senha ( a aula estava reservada), voltei ao carro para ter a certeza de que não a tinha lá.
Fiz a aula, regressei a casa, lá estava ela no móvel da entrada.
Felizmente, nada aconteceu, como aqui, nem apanhei a polícia que, de quando em vez, está parada nas rotundas por onde passo nas minhas idas e vindas para/do ginásio.
E por falar em aqui, tenho algo para contar sobre este assunto.
Finalmente, quase um ano depois de acordar com o trolha patrão para fazer a obra na garagem, chegou, ontem, o dia, mas depois de muitos telefonemas ao longo de 2017, com interrupção entre Novembro e Fevereio, porque já não adiantava insistir, a resposta era sempre a mesma " tenha paciência, espere mais um mês, tenho serviços fora."
Há uma semana, liguei, foi a última tentativa: "ou pega na obra, ou entrego a outra pessoa".
Garantiu-me que vinha esta semana, e por cá andam.
Ontem, vieram dois homens, jovens, na casa do 20,30 anos.
À tarde, só estava um.
Quando desci, a meio da tarde para ver o andamento das coisas, reparei no que me chamara a atenção de manhã.
Um homem alto, elegantérrimo, trazia umas calças de ganga, uma sweat, coberto de pó, claro, o trabalho não perdoa.
Tinha tirado o colete azul escuro acolchoado ( o trabalho aquece, pois).
Uma pequena conversa sobre a obra, o trabalho que agora abunda, mas que há anos tivera de ir para Espanha, onde "as obras metiam medo", dizia, porque havia todo o tipo de pessoas: marroquinos, paquistaneses, romenos, ucranianos.
Agora, está bem por cá, "trabalho não falta, embora a vida esteja cara", dizia, "mas vive-se".
Não fiz perguntas de nada, não sei se é solterio, casado, divorciado.
E porque escrevo sobre o trolha?
Porque tem um rosto bonito, um olhos pequenos de um castanho claro que combinam com a cor do cabelo, também claro, porém de branco do pó da parede, e uma barba perfeita, bem escanhoada, muito bem tratada.
Não entendo nada de barbas, embora cá em casa os sobrinhos a usem, uns mais curta, outros menos, cuidam bem dela, senão a tia azucrina-lhes a cabeça, a do trolha não fica nada a dever à dos meus queridos.
Um homem apresentável, ágil na forma como coloca a massa na parede, pergunto-me como é possível uma coisa destas não ter a oportunidade de muitos outros e lançar o charme nas passerelles da moda. Mas não duvido nada que o lance ao fim de semana nas discotecas e bares da cidade.
Este jovem, com idade para ser meu filho, foi das melhores "coisinhas" que vi nos últimos tempos.
E foi a barba que me chamou a atenção.