Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cantinho da casa

cantinho da casa

Calendário do Advento - 10

Calendário, 10.jpg

"O menino das línguas de gato"

Terça-feira passada, passei na para ver o Presépio, começava a Missa, só era possível vê-lo no fim, e como havia lugares fiquei atrás para assitir à celebração da Eucaristia da Imaculada Conceição de Maria.

Viam-se alguns casais com crianças, uma  mãe teve de sair da igreja porque a filha gritava.

Uma jovem mãe, seguida pela criança que teria cerca de três anos, ocupou o lugar no canto oposto ao banco que estava à minha frente, estavam um pai com um rapazito no outro canto.

A criança, que trazia na mão um pequeno e redondo tupperware  com línguas de gato, sentou-se ao lado da mãe e, uma a uma, levava à boca as deliciosas ( adoro!)  biscoito, ora se levantava e pousava o tupperware no banco para com os pés trepar a coluna da parede, ora deixava-se estar de pé a comer.

Estava na dele, não fazia qualquer ruído. De quando em vez, olhava para mim, eu sorria com os olhos.

Do meu lado direito, junto à coluna da ala central,  estava um pai com uma uma menina que não teria dois anos. 

Uma dada altura, o senhor pôs a garota no chão.Ela viu o menino a comer, aproximou-se dele, não falou, e ele deu-lhe uma língua de gato para a mão.

A menina virou costas, foi por trás das pessoas, deu uma volta, o pai sempre atento a olhar para onde ela ia, foi ter com o pai.

Depois de comida a primeira língua de gato, ela voltou a aproximar-se do menino, que lhe ofereceu outra. E a menina deu-lhe um abraço.

E repetiu-se isto umas quantas vezes.E a garota ia dar o seu passeio.

Eu olhava para trás, seguia a menina, percebi que quem estava junto à entrada principal da catedral, estava atento,também, para que ela não se afastasse demais do pai. Mas o pai não deixava passar dez segundos, ia buscá-la.

E foi então que reparei na família.

Ocupava um banco. Contei dois rapazes e uma rapariga,e a mãe. Pela altura das crianças, a filha mais velha teria dezasseis anos, os dois rapazes teriam treze e dez anos, e a menina de colo. Portanto, um casal com quatro filhos que assistiam à missa sem que qualquer um deles desse sinal de não querer estar ali. Só a menina não paráva.

Voltou ao menino. Tentou sentar-se no banco.A  mãe dele pegou nela e sentou-a ao seu lado. Mas foi por segundos. A garota desceu do banco, estendeu a mão ao menino para lhe dar outra língua de gato, que caiu no chão. ...E elas estavam a chegar ao fim.

A mãe do garoto, apanhou-a  e guardou-a no bolso do casaco. O filho deu outra à menina,  ela voltou ao passeio( tenho a certeza que atrás de mim todos estavam a achar piada às duas crianças).

As línguas de gato acabaram, a mãe do menino virou-se para trás fez um sinal ao marido que se aproximou e lhe deu a tampa do tupperware.

Acabadas as línguas de gato, o menino foi à carteira da mãe e tirou dois carrinhos.

Em pontas de pés, tentava pô-los a andar na coluna, ou colocava-os em cima da caixa das esmolas fixa na parede.

A menina voltava ao menino, mas não queria os carrinhos. Não havia mais línguas de gato, foi embora e não voltou mais.

Toda a família da menina foi à sagrada comunhão ( fiquei emocionada ).

Acabada a Missa, o menino e a mãe ainda ficaram algum tempo no banco.

Do outro lado, a família da menina também. Estariam à espera, como eu, que saíssem as pessoas para irem ver o Presépio.

Em toda esta cena das duas crianças, não ouvi as vozes delas.

Geralmente, as crianças não têm paciência para ficar tanto tempo dentro da igreja sem fazer nada. 

Os meus sobrinhos netos não conseguem estar quietos ou calados.

E sou das que pensa que os mais pequenos não deviam ir para a igreja com os pais. Todos sabemos que elas não páram e a tendência é para fazer ruído.

Mas estas duas, tiveram um comportamento exemplar. Nenhuma falou, entenderam-se com as línguas de gato, o menino mostrou saber partilhar o que tem.

Por sua vez, ela, sossegada no colo do pai, só deu nas vistas quando foi para o chão e andava de um lado para o outro, estendia a mão ao menino para receber a língua de gato e seguia o seu caminho sem um ruído.

Pensei nesta grande família cristã, que me pareceu ser cheia dos valores que a sociedade de hoje carece: educação, humildade, simplicidade.

A menina foi um bom exemplo disso.

Nunca vi nada igual.

 

Woodstock, 50 anos depois

A vida traz-nos surpresas lindas sobretudo quando alguém quer alguma coisa que faz parte do seu passado.

Vi a reportagem do 50° aniversário do Festival Woodstock, o louco ano de 1969  (era eu adolescente) em que tudo aconteceu.

Li aqui que dois jovens que se conheceram na estrada, a caminho do local do festival, desde esse dia nunca mais se separaram: casaram, tiveram filhos.

Contavam aos filhos e netos como se conheceram, nesse dia de muita chuva, estavam eles abraçados, partilhavam o  cobertor (toda a história aqui), quando foram fotografados. 

50 anos depois, contactados por alguém que sabia da reportagem sobre Woodstock que passaria no canal norte americano PBS, que vira a foto dos dois, daquele belo momento, o casal viu a reportagem, lá estava ela, a prova.

A revista People deu a conhecer a histótia e homenageou o casal  recriando a fotografia de 1969 e na actualidade.

Duas fotografias que se distanciam 50 anos, mas belíssimas as  suas expressões neste "reencontro".

Há sempre uma oportunidade na nossa vida de rever ou encontrar o que mais nos fez e faz feliz.

1566075016_376466_1566075310_noticia_normal_recort

 

Dia Mundial dos Avós

eles, que têm um papel muito importante na ajuda aos filhos.

Não sou a única que vai buscar os netos aos colégio, levá-los ao parque infantil, dar um passeio pelas ruas da cidade, dar-lhes o lanchinho ou o jantar, porque as crianças têm rotinas, e esta hora é sagrada, cantar as nossas e velhas canções, aprender novas, é tudo uma questão de participar no crescimento das crianças que são a nossa felicidade.

Não tenho filhos, tenho cinco sobrinhos netos, o sexto chegará em Setembro.

O V é único sobrinho neto que está mais próximo da família. Os outros quatro vivem fora do país, só nas férias de  Verão. Hoje, vou para a casa da praia ficar com os dois sobrinhos netos brasileiros. 

Deixo uma fotografia do meu sobrinho neto mais novo, da nossa brincadeira no parque ( desculpem não mostrar o rosto, respeito a decisão dos pais de não publicar fotografias dos filhos).

IMG-20190725-WA0000.jpg

Feliz Dia dos Avós

voce-sabia-que-dia-26-de-julho-e-comemorado-o-dia-

 E aqui a história deste dia.

 

 

as minhas arrumações

no escritório, continuaram hoje com a limpeza dos livros.

" Belezas de Portugal 1915", junto aos antigos dicionários, o livro que nunca lhe dera a atenção devida, ponho-o de lado para o ver com mais pormenor, continuei as minhas arrumações.

Um livro que abrange muitos temas do início século XX, não só do país, mas também da Europa e do mundo, consta  de relatos de factos históricos e religiosos, crónicas, poesia, contos, escritores, páginas de ilustrações católicas, estas com  fotografias de pessoas comuns, reis, rainhas, pinturas, guerra, arte, escultura, anedotas históricas, publicadas na Revista Literária de Informação Gráfica  da época.

Não me recordo de o meu pai ter contado se o comprara ou trouxera juntamente com a mesa antiga que herdara da mãe. A capa teria sido substituída, está como nova.

Passarei  a transcrever alguns textos que li, antigos mas interessantes, assim como fotografias de muitas aldeias e cidades de Portugal da época.

 

Anedotas Históricas - Ditos e Pensamentos

IMG_20180303_222806.jpg

 

Jefferson

 

Franklin, quer pela grandeza do seu talento, quer pela inteireza do seu carácter, representou, em França, os Estados Unidos  duma maneira brilhante. Sudeceu-lhe Jefferson .

Quando este eminente estadista chegou a Paris, o ministro francês  disse-lhe:, seguidamente a um afectuoso acolhimento:

- Vindes substituir Mr . Franklin...

Jefferson apressou-se em interromper:

- Franklin é insubstituível, eu apenas lhe sucedo.

Estas palavras grangearam-lhe a consideração pública  e acreditaram-no mais firmemente que todas as credenciais.

 

Thomas+Jefferson.jpg

 

 

 

 

 

 

 

uma história

IMG_3735.JPG

 

Feito o "check-in" na organização do Passeio da Memória, e enquanto não chegavam as pessoas, estava eu a conversar com a minha irmã sobre a doença, e da nossa amiga Alice, quando, ao meu lado, vejo uma ex-colega de trabalho, que faz parte do grupo "Café Memória", na Brasileira, entra na conversa e aponta-nos algumas senhoras doentes de Alzheimer que, com os familiares, participavam na caminhada.

Contou, então, a história de uns vizinhos seus: um casal com filhos, a mãe de um dos conjuges e um cão.

Tendo a mãe Alzheimer, a minha colega visitava a senhora, dava-lhe algum apoio, e à família. O cão, já velhinho, e sem que a doente lhe desse mais atenção, levou-o para sua casa e cuidaria dele.

O tempo  foi passando, a minha colega visitava-a quase diariamente, até que um dia, com a autorização da família, decidiu levar o cão e verem  a reacção de ambos.

O cão saltou, brincou no seu colo, farejou a casa como se nunca tivesse saído de lá, mas a senhora não o reconheceu.

Levou-o de novo para casa. Nesse mesmo dia, à noite, estava tudo sossegado, não se ouvia o cão. Foram dar com ele morto debaixo da mesa da sala.

O cão morrera de paixão.

E as lágrimas da minha colega foram as nossas lágrimas, também.

 

IMG_3737.JPG

Antes de a caminhada iniciar, fez-se o aquecimento com algumas coreografias de Zumba, partimos, então devidamente equipadas, para o nosso passeio pelas ruas da cidade.

 

IMG_3755.JPG

 

Um gesto que me emocionou foi quando soube por uma das participantes que alguns turistas que passavam pelo local do encontro, quiseram participar neste Passeio da Memória. Vi e fotografei duas senhoras, mas haviam mais.

IMG_3766.JPG

O final foi junto à Brasileira, o local de encontro do grupo "Café Memória"  cuja missão consiste em:

A missão do CAFÉ MEMÓRIA consiste em reduzir o isolamento social em que muitas das pessoas com demência e os seus familiares e cuidadores se encontram, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida. Pretende ainda sensibilizar  a comunidade para a relevância crescente do tema das demências, diminuindo, assim, o estigma que lhe está associado.

 

Acabou a caminhada, junto à Brasileira, com o rufar dos tambores executado por um grupo de jovens que também já nos habituou à sua encantadora exibição.

IMG_3771.JPG

 

depois da procissão

 

 

transferir (1).jpg

 

Ontem foi dia de procissão.

Não tinha intenção de ir, mas combinei com uma amiga bebermos um copo, precisávamos de conversar.

Encontrei o meu mano mais novo e a mulher, fomos juntos ao bar, a procissão ainda estava a decorrer, tivémos de dar uma volta porque era impensável furar a multidão.

No passeio, junto ao bar, sentamo-nos numa mesa, pedimos as bebida, conversámos.

A junta de freguesia da Sé fica em frente ao bar onde nos encontrávamos.

Acabada a procissão, os figurantes passavam junto a nós, iam deixar as vestes alegóricos na junta.

De repente, uma senhora de cerca 70 anos pára à nossa beira e diz:

- Estou cansada de andar na procissão. Doem-me os pés, já não aguento mais.

Levanta a veste e mostra os pés, sem meias, numas sandálias.

- Os meus netos andavam devagar, estavam cansados, uma delas, a mulatinha, anda depressa demais, tinha de a chamar para não avançar e não sairmos do passo. Ai, doem-me os pés.

Comentámos:  - Vimos passar, sim, uma miúda bem gira. É então a sua neta?  

- Sim - respondeu. 

Sabem, eu participo em todas as procissões, por isso, desde quarta- feira que não páro.

De quando em vez, fazíamos um ou outra pergunta, mas o discurso dela era todo seguido.

- Há quatro anos, foi-me diagnosticado um cancro. Fui ao cabeleireiro, rapei o cabelo. Quando fui à médica, ela perguntou-me por que cortara o cabelo. Disse-lhe que queria participar nas procissões. Punha uma peruca e resolvia o assunto.

Ela aconselhou-me a não o fazer. Eu respondi que quem mandava era eu, queria ir, não podia proibir-me. Se tivesse de morrer tanto fazia morrer de cancro como de outra coisa, Deus estava com ela, e ia.

Estavamos muito atentos a ouvir a conversa.

- Sabe, eu paguei 50 euros pelas vestes. Na procissão da burrinha não pagámos nada. Tudo é suportado pela junta de freguesia da São Victor - dizia.

Ficamos admirados. Supuséramos que os fato eram emprestados.

E continuou:

- Para o ano quero ir na procissão da burrinha mas não quero ir a pé, quero ir como o romano, o finório,  que vai deitado, pernas à mostra, e nós fartámo-nos de andar.

Às tantas, ouve-se alguém chamar pela mãe. Era a filha que já despira as vestes, andava à procura dela. As filhas, também. Reclamava que estava na hora de irem para o autocarro.

E a senhora estava tão satisfeita a contar as histórias das procissões que se esquecera das dores nos pés e da hora do autocarro.

Despediu-se de nós.

Eu disse-lhe: 

- Uma Santa Páscoa para a senhora. E não imagina o prazer que nos deu ouvi-la. Adoro escutar histórias.

E a senhora seguiu o seu caminho.

Comentei ao grupo: - Isto é o que gosto. Ouvir histórias de vida de mulheres simples.

Fosse mais cedo,e vivesse perto, convidava-a a sentar-se e beber um copo connosco.

Foi um bom momento.

Uma Santa Páscoa. 

 

 

Lisboa

Uma viagem com um pequeno atraso de quinze minutos, pensei que chegaria a tempo de dar um salto à Gulbenkian para ver a Exposição de Almada Negreiros.

Ficaria alojada em casa da minha sobrinha, que mora a cerca de 500m da Gulbenkian.

Deixei a minha mochila no El Cort Inglês ( que jeito dá guardarem a bagagem) e segui na expectativa que conseguiria aproveitar aquele bocado de tempo para ver a arte de Almada Negreiros.

Mas a sala da exposição estava fechada, a última visita orientada tinha entrado há pouco tempo.

O funcionário aconselhou-me a passear pelos jardins, e lá fui dar uma volta  por este pequeno paraíso mesmo ao lado da confusão de trânsito que "desagua" na Praça de Espanha.

IMG_1772.JPG

 

Embora não tenha muita paciência para andar em recintos fechados fui ver as novidades no El Corte Inglês. Uma volta rápida pela roupa, desci e encontrei a secção de artigos para praia.

Fui ter com a minha sobrinha ao Jardim de Água, os cães passeavam com os seus donos. E o Scott, o cão dela, mete-se com todo os cães que vê. 

No dia seguinte levantei-me cedo, a primeira consulta estava marcada para as nove horas. Leva-me cerca de trinta minutos, a pé, de casa à clínica.

Faço uma boa higiene dentária em casa, não falho as consultas, de seis em seis meses, ora no Porto, ora em Lisboa, estou de parabéns, comentou a médica. A segunda consulta foi logo a seguir. Feita a "inspecção" dentária, estava tudo excelente, há nove anos que sou elogiada pelo cuidado que tenho em nunca falhar uma consulta.

"Visita de médico" diz a assistente quando o doutor R comentou que não precisava de lá ir em Outubro. Volto à clínica no Porto. 

Despedidas feitas, saí em direcção à estação de Sete Rios para apanhar o autocarro que me levaria ao Palácio Marquês de Fronteira.

Na mouche, pois cheguei antes do meio-dia. As visitas são durante a manhã. A pouco e pouco juntou-se um bom grupo, a maioria estrangeiros.

Foi-nos explicado que veríamos a ala principal, uma vez que a outra ala é habitada pelo actuais membros da família.

Para tirsteza minha, não é permitido tirar fotografias.

Fiquei com imensa pena porque o interior é lindo. Predominam a azulejaria portuguesa e holandesa, no caso da Sala dos Painéis ou de jantar. A Sala das Batalhas e a Biblioteca foram as que me cativaram.

Indescritível a quantidade de livros nas estantes, assim como os objectos de decoração na Biblioteca, sobretudo os dois globos, o celeste, o terreste, e o piano. As janelas dão para os jardins. A guia abriu uma das janelas e avisou-nos que era a única oportunidade que tínhamos de, do interior, tirarmos fotografias aos jardins.

 

IMG_1781.JPG

 

A Sala das Batalhas contem painéis de azulejos com figuras alusivas às batalhas da Restauração. E no campo de batalha lá está a figura do guerreiro João de Mascarenhas que viria a ser Marquês de Fronteira. Foi a minha sala preferida.

Nesta sala tem um grande tapete que tem uma história muito interessante. 

Parece que fora encomendado para a cerimónia de casamento do segundo Marquês mas tendo o palácio passado por obras, a factura era demasiado alta não havia dinheiro para o pagar. 

Mais tarde a Fundação comprou-o e lá está ele na parede da bela Sala das Batalhas.

Passamos à sala dos Painéis ( jantar) com azulejos holandeses, que não gostei. Mas o mobiliário e a peças da Indía compensam a decoração da sala.

As duas salas privadas da família, Sala dos Quatro Elementos e a Sala de Juno, esta recheada de fotografias, leva-nos para o ambiente familiar, as conversas, as leituras, o ambiente calmo daquele espaço. Um grande retrato  de uma senhora do século XX (disse-nos a guia que era mãe do  Marquês de Fronteira, falecido em 2011),  ocupa uma parte da parede da Sala Juno.

Feita a visita ao interior da casa, passamos ao exterior: o terraço e os jardins.

IMG_1785.JPG

IMG_1787.JPG

Continua...

 

O Mudo

o-mudo.jpg

A semana passada fomos almoçar a um restaurante na praia, muito conhecido cá no norte. 

A história desta casa, que tem muitos anos, era eu uma criança, vem de os seus donos, um casal, serem mudos.

O espaço era uma cabana de pescadores sito no lugar conhecido por Pedrinhas e que fica a 1 km de Apúlia, com o nome de "Os Mudos".

O casal fazia umas excelentes sardinhas assadas, passou para a confecção de outros peixes e mariscos. Restaurante sempre cheio, fazia-se e faz-se fila para almoçar.

O tempo passou, deixamos de passar férias nesta praia.

O restaurante continuava a servir os clientes que vinham de todos os cantos do país. 

Quando a semana passada decidimos comer umas sardinhas assadas, fomos lá. Deparei com um espaço completamente remodelado, apresentável, comparado com "Os Mudos" de há longos anos.

Entramos. Ao balcão, do lado esquerdo da porta, estava um homem nos seus 47 anos, alto, que controlava os lugares e as mesas,  que perguntou o que queríamos.

"Almoçar" respondemos os três, " e se possível, na esplanada".

A minha irmã dirige-se à esplanada, e diz o homem com voz arrogante: " A senhora não pode ir para aí".

Parvas olhámos para ele, diz a minha irmã: " Mas eu só vou espreitar a esplanada, não vou ocupar nada".

Volta a repetir ele: " Não pode ir para aí".

Se não fosse pelo nosso amigo, juro que me vinha embora.

Fui à casa de banho, quando regressei, eles estavam sentados à mesa. "Não gostei nada da arrogância do homem", comentei.

Os funcionários, muito simpáticos, andavam de um lado para o outro  sempre atentos aos pedidos dos clientes

No final do almoço, a jovem funcionária perguntou-nos se estavamos bem, ao que aproveitei para fazer a pergunta sobre os mudos, os donos do restaurante.

E foi então que soube da história. Os mudos morreram há anos, o filho ficou com o restaurante que por sua vez passou o negócio para o filho ( o homem que estava ao balcão).

O pagamento é feito num outro balcão. Estava ele, de novo, a controlar tudo,  dirigimo-nos lá, a minha irmã pega no cartão multibanco marca o código, mas não dá. Repara que o código é de outro cartão que também o levava consigo, faz a troca. O homem olhava-a, eu olhava-o, ele não articulava uma palavra.

A minha irmã marca  código e diz-lhe: "Quero a factura, se faz favor".

Ele dá-lhe o cartão, o talão e a factura, ainda sem articular uma palavra. Não saiu um obrigado daquela boca.

Saímos do restaurante e comentei; " Homem antipático e arrogante, não sei como o restaurante tem tantos clientes. Por mim, não ponho cá os pés, nunca mais!"

Hoje, fui cedo para a praia. Decidi tomar café no lugar do costume.

Quando cheguei a porta estava fechada. Achei estranho, vira um casal na esplanada de cima.  O café mais próximo era em Apúlia, aproveitei para fazer a minha caminhada. 

Passando à porta de " O Mudo" (é o nome actual) vi uma senhora sentada no banco, cá fora. A porta estava aberta, entrei para perguntar se serviam café.

Ao mesmo tempo que entro, sai uma senhora de porta-moedas na mão, deduzi que tomara lá café, ou não. 

Na grande máquina de café, vi ele, o dono e perguntei: " dá para tomar um café?"

Da mesma maneira que falara para a minha irmã, o mesmo tom de voz arrogante respondeu-me: " Não, não sirvo café".

Saí. Não fiquei surpresa porque esperava esta resposta quando vi quem ele era. Mas estou certa que nunca mais entro naquele lugar e se depender de mim, se alguém me perguntar como é o restaurante, respondo que não conheço.