Hamlet
hoje (com os bilhetes esgotados) e amanhã no Theatro Circo.
Em cima da hora, consegui três bilhetes na plateia para amanhã. E a Sofia também vai.
A Mala Voadora faz um Hamlet – a partir da versão que chegou até nós com o epíteto “mau quarto”. Não somos uma companhia de teatro de repertório. Mas gostamos de “peças”. Com a mesma convicção com que não nos limitamos a elas. As peças, das mais ancestrais às “a estrear”, são mais uma matéria-prima – uma matéria que manipulamos com a liberdade que nos parecer favorável ao espetáculo (o texto ao serviço do espectáculo e não o espetáculo ao serviço do texto). Nunca vimos qualquer pertinência em sacralizar o “texto” e, como nos explicou Fernando Villas-Boas, Shakespeare também não. É a primeira vez que fazemos um Shakespeare. Talvez não tenha acontecido antes devido à nossa desconfiança em relação à ideia de “clássico”. Mas gostamos verdadeiramente desta peça, cheia de teatro: a companhia de teatro incluída na narrativa, uma peça (falsamente!) citada dentro da peça, Hamlet encenador, um pai que encena a própria filha que se encena para o pai, um conjunto de personagens que, com uma curiosa manha, encenam situações e representam papéis, umas para as outras. Para além da meta-teatralidade que daqui resulta, ou de um possível propósito auto-reflexivo que em Hamlet possa cumprir-se, o que verdadeiramente nos interessou foi a possibilidade, designadamente lúdica, que a peça oferece de potenciar o exercício de “fazer de conta”.