Aluguei, com uma amiga, um quarto em Esposende para passar o maravilhoso fim de semana que se previa quente.
Fomos na sexta-feira, alojamo-nos, saímos para um passeio, fotografamos o pôr-do-sol.
Depois de jantar, que nos fez não comer a sobremesa, de tão bem que comemos, fomos passear pela marginal de Esposende. A temperatura estava convidativa a bebermos um copo, entramos no hotel Suave Mar que tem uma esplanada coberta que dá para a avenida.
Há muito anos que não entrava neste hotel.
Os risos e algumas parvoíces de quem precisa de esquecer a rotina da semana, a conversa descontraída, regressamos ao quarto pelas 2h. Sentia-se uma leve aragem fresca, própria da estação, do rio e do mar daquela cidade.
Combinara com a minha amiga, fazer a minha caminhada pelos passadiços da beira do rio, até ao farol, no dia seguinte, de manhã
Manhácedo, e depois de tomar o pequeno-almoço, segui o meu caminho.
Também combinara,ligar-lhe para nos encontrarmos a meio da manhã, por que precisava de mudar de roupa e irmos para a praia.
Às 9h30 a temperatura estava bastante agradável, percebi que em pouco tempo iria aquecer mais.
A meio do percurso, comecei a sentir cólicas ligeiras.
Apressei o passo, por onde passava os cafés, que ficam abertos à noite até tarde, àquela hora ainda estavam fechados.
Eu precisava de tomar um café.
Fui andando até encontrar o único café aberto, depois de passar o farol, que fica junto à praia.
De quando em vez, as cólicas davam sinal.
No regresso, liguei à minha amiga, disse que ia ter com ela para me dar a chave do quarto.
Mudei de roupa, e fomos para a praia.
As dores aumentavam, mas em momento algum senti necessidade de evacuar.
Na praia, não parava quieta, ia ao mar refrescar-me, andava de um lado para o outro sempre a tentar perceber o porquê das dores.
Não estivemos muito tempo na praia, decidimos ir almoçar por voltas das 14h.
A esplanada estava cheia, escolhemos um lugar num cantinho sem sol.
Eu nem queria ver comida à minha frente, pedi um chá de cidreira.
Fui tomando, enquanto a minha amiga almoçava uma salada.
Eu levava a mão à barriga, fazia massagens.
Até que bastante tempo depois, levantei-me e fui em direcção da casa de banho.
E libertei um pouco o instestino.
Felizmente,🙏, que nada aconteceu dentro da casa de banho, que eu fechara por dentro.
Saí, voltei a sentar -me na cadeira, e só me lembro de ter dito: "estou a sentir-me mal".
E desmaiei.
Quando recuperei, tive a noção de abrir os olhos e ao mesmo tempo sentir uma convulsão no braço esquerdo.Uma sensação de que estava a acordar de uma anestesia.
Foi muito estranho.
Vi pessoas que me olhavam, fechei os olhos, e foi então que ouvi a voz da minha amiga dizer que tinha desmaiado.
Já recuperada, apenas ouvia as pessoas falarem e a voz da minha amiga.
Ao que parece, uma senhora aproximou-se dela e perguntou se permitia que me prestasse os primeiros socorros, tinha formação para isso.
A minha amiga disse que sim, e eu só ouvi dizer para me deitarem no chão.
Um casal que almoçava na mesa ao lado também veio auxiliá-la, ele, mais forte, pegou em mim, deitou-me no chão, de lado, e a senhora pediu a toalha de praia para apoiar a cabeça.
E de repente, senti água fresca no pescoço e na testa.
Às vezes, uma mão passava pela minha cabeça.
Entretanto, várias pessoas tentavam ligar o 112, foi pedida uma ambulância.
Ao que parece, não demorou muito tempo.
Os bombeiros pegaram em mim, meteram-me dentro, mediram a pressão arterial a febre. Estavam normais.
Ainda tinha cólicas, mas estava consciente do que estava a acontecer.
A minha amiga estava do lado de fora a falar com as pessoas que prestaram-me auxílio, e a ajudavam, também, conversando com ela que estava perturbada com o que acontecera.
Ela não podia entrar na ambulância até ser dada a informação do hospital para onde me levarem , visto que os mais próximos, Espodende e Barcelos tinham as urgências fechadas.
Era preciso o meu CC.
Estava consciente, embora débil, do que se passava à minha volta, respondi que costumo trazê-lo sempre comigo para onde quer que vá, mas nessa manhã decidi não o trazer.
O discernimento fez-me lembrar que tinha a aplicação do SNS no telemóvel, teria, com certeza, os dados necessários.
Fui à aplicação, andei um pouco perdida à procura até que me lembrei que só na minha áera pessoal poderia encontrar. E lá estava.
E assim que passei o telemóvel para o jovem bombeiro, voluntário, que estuda na universidade de Aveiro, tudo ficou resolvido.
Foi dada a informação que a ambulância deveria levar-me para Braga.
Só mesmo o Hospital Central de Braga.
E lá fomos nós, auto-estrada fora,numa ambulância que,segundo a minha amiga,era antiga, os solavancos mais me fazia gemer de dores, mas também nada podia ser feito, ia a caminho do hospital, era o mais importante.
Ia escutando a conversa entre a minha amiga e os dois jovens bombeiros.
Um é estudante na Universidade de Aveiro, aos fins de semana é voluntário nos Bombeiros de Esposende.
A minha amiga elogiou-o por isto.
Dei entrada nas urgências do hospital de Braga às 17h03, fui imediatamente para a triagem, a minha amiga contou o que aconteceu, segundo a médica iria fazer um electrocardiograma e análises.
Foi colocada a fita amarela no pulso, levaram-me para a sala de espera " atolhada" de utentes em cadeiras de rodas. E eu também.
Os bombeiros foram embora, agradecemos a simpatia e a eficiência, ficamos ali na sala.
Peguei no telemóve,liguei ao meu único irmão que sei que estava em casa, e expliquei o que aconteceu, pedi-lhe que levasse a minha amiga a Esposende para trazer a roupa, uma vez que o carro ficara à porta do alojamento que alugamos, não iríamos voltar.
Ele respondeu que em poucos minutos estaria à porta das urgências e que levaria a minha amiga.
Deixei o meu telemóvel com ela.
Mas no preciso momento que lhe dou o telemóvel, peguei no lençol que me cobria o corpo, baixei a cabeça e vomitei tudo o que tinha cá dentro.
A minha amiga correu pelos corredores a pedir ajuda.
Eu só senti que alguém por trás da cadeira, levou-me para uma sala vazia.
Entretanto, quando a minha amiga passou na sala de espera, quem lá estava disse que um funcionário tirara-me dali.
Ela foi à minha procura, e chegou até mim.
Eu estava toda suja e cheia de frio.
Deram-lhe uma bata e um lençol para eu vestir.
Eu tinha o biquini vestido. A camisa que tinha na altura que entrei na maca estava suja, tirei-a, ela tinha os meus calções, vesti-os, e fui coberta com o lençol.
Deram-me um saco para o caso de vomitar.
De seguida, alguém levou-me para fazer o electrocardiograma, a minha amiga tinha o meu telemóvel, e desde aí, não me viu mais.
Foramos informadas que eu ficaria no hospital por longas horas, havia muitos utentes em espera.
Tudo, felizmente, bem combinado, porque em horas de aflição nem sempre ocorre, o meu irmão foi buscá-la e levá-la a Esposende.
E neste período de tempo em que fiz o electrocardiograma, e ao que supostamente seria de esperar,e porque na triagem foi dito, seria levada para a sala de enfermagem das urgências para tirar sangue e meter soro.
Após o electrocardiograma, alguém por trás do carro empurrou-o e deixou-me encostada à parede a dois passos da porta da sala de tratamentos, e desejando-me as melhoras, não disse mais nada, fiquei 3 horas sem que alguém perguntasse porque estava ali.
Eu ouvia os funcionários chamarem pelos utentes para entrarem para a sala, eu via os utentes saírem e não percebia porque não ouvia chamar o meu nome.
O que pensei foi que teriam muitos outros utentes mais urgentes, ia aguentando a espera, e com as dores que não desapareciam. E eu sabia que precisava urgentemente de soro.
Uma dada altura,saiu um funcionária, perguntei que horas eram,respondeu-me " quase sete", e eu ali há duas horas sem atenção.
Uns largos minutos depois, outra funcionária viu-me, no mesmo sítio, perguntou-me o nome, entrou na sala e não apareceu mais.
De vez em quando, de tão cansada que estava, apoiava a cabeça nas mãos, fechava o olhos, dormia por breves minutos.
Vejo sair uma funcionária, pedi que me ajudasse a esclacrecer... dizendo ela: " eu venho já", e não voltei a vê-la.
Já tinha perdido a noção das horas, quando vejo a minha irmã entrar, pára à minha frente e pergunta-me o que aconteceu.
Ela estava perturbada,mas também sabia o que tinha acontecido, perguntei pela nossa amiga, que ela devia estar comigo porque só ela estava comigo quando tudo aconteceu, "quero-a comigo".
Respondeu-me que estava do lado de fora e que lhe disse para entrar para ver como eu estava.
Pedi por tudo que fosse chamá-la.
Vieram as duas, e foi quando disse que estava naquele sítio há 3h e ninguém me chamara, que tentassem saber o que se passava.
E que caso não resolvessem nada, queria sair dali e ir para o privado ( que eu sei que não iria melhorar a situação ), mas eu só queria saber o que falhara.
A minha irmã entrou na sala, vê um enfermeiro, explicou a situação. E eis que aparecem os dois. A minha amiga estava ao meu lado, ele perguntou-me a que horas dera entrada, e o que me fizeram desde então.
A minha amiga explicou tudo o que acontecera desde o desmaio na praia, até ao desmaio no hospital, e que a partir dali não tivera acesso a mim, porque tinha ido buscar a roupa e o carro a Esposende.
Nós pedimos desculpa por tê-lo" atacado" de rompante, mas compreendíamos que o sistema está dificil e complicado para eles, mas precisavamos de saber porque nem soro tinha.
Ele respondeu que ia falar com uma médica, e voltava.
Uns minutos depois, levou-me para a médica, a minha amiga entrou comigo, e foi tudo posto em claro .
A médica disse que tinha de fazer uma TAC e imediatamente fazer análises e pôr soro.
Às 20h45 tudo estava a ser feito.
Peguntei à enfermeira, tão novinha!, se a TAC era feita depois do soro. Ela respondeu que não,que não me preocupasse porque quando fosse chamada, o soro ia comigo.
Dez minutos depois, levaram-me para fazer a TAC.
Mas estavam duas pessoas acamadas que entraram à minha frente, o enfermeiro disse-me: " estou de castigo, disseram-me para a trazer e agora dão prioridade a estes doentes".
Eu respondi que que estava tudo bem, que esperava.
A TAC foi rápida, voltei para a sala enquanto o soro ia entrando a pouco e pouco na veia.
Logo a seguir,fui levada para a consulta.
A médica viu o relatório,disse que não havia nada de maior, mas que devia procurar o médico de família para que lesse o relatório em que aconselhavam que fosse feita uma ressonância abdominal.
Voltei à sala, cerca de cinco minutos depois, o soro acabou, tinha alta hospitalar, saí do hospital às 23h45.
Entre a hora de entrada, às 17h03 e as 20h30, foram 3h30 que estive encostada "à box" sem que ninguém desse por mim.
Entre as 20h30 e as 23h45, tudo foi feito, graças ao jovem enfermeiro, que pediu desculpa, que bastava o serviço ter mais uma ou duas pessoas e as coisas andavam melhor.
E agora vêm os agradecimentos.
Primeiro à minha amiga que, quando me viu sentada e desmaiada com a cabeça para trás, agiu por instinto, depressa puxou-a o que fez com que eu vomitasse.
À senhora que se aproximou da minha amiga, disse que sabia como fazer nestas situações,mas não queria fazer nada sem a sua autorização.
Ao casal que estava a almoçar, que interropeu a refeição, e com as indicações da senhora, ele, com os braços por trás das minhas costas, ela que segurava as pernas, levantaram-me da cadeira e deitaram-me no chão.
Soube pela minha amiga que nunca a largaram até entrar na ambulância, que foram muito simpáticos. E nesta pequena conversa, ficou a saber que não são de Braga, mas vivem em Braga, e agradeço-vos tudo o que fizeram por nós.
Ao apoio que recebi dos jovens bombeiros o meu agradecimento, também sempre que alguma coisa me perguntavam, e até deixarem o hospital.
Ao enfermeiro que veio ver-me e percebeu o que falhara nesta longa espera ( quem me deixou encostada à parede não comunicou que eu estava ali para ser tratada,; que esconhecia o que se passava junto à porta da sala onde a equipa assistia, e bem, todos os utentes).
Durante todo este tempo não ouvi ninguém discutir ou reclamar pelo tempo de espera, o que significa que as pessoas compreendem a situação que estes profissiomais de saúde estão a passar.
A minha gratidão a esse jovem enfermeiro por prontamente tratar de tudo.
À equipa de enfermagem que parece ser unida e ajudar-se mutuamente, o meu obrigada.
Não parávam. Estavam cheios de trabalho, a sala cheia de utentes, a maioria com soro U ma jovem com uma transfusão de sangue, idosos pacientes e calados à espera que depressa passasse o tempo para saírem dali,como eu também queria.
Mas estes profissionais tratavam os seus utentes com um sorriso, e sempre incansáveis, uma disposição positiva ao ponto de ouvir "o meu enfermeiro" dizer: " o meu Benfica só ganha por 1-0".
Eu estava muito melhor, apeteceu-me perguntar-lhe como ficara " o meu" Braga.
Entretanto, a minha irmã entrou na sala, pedi-lhe o telemóvel e vi que tinha ganho.
Antes de sair, as três agradecemos tudo o que fizeram e estavam a fazer pelos utentes do SNS,que estavamos com eles nas dificuldades que estão a passar; que o Estado tem de lhes dar mais apoio.E eu disse que os enfermeiros são os que mais trabalham e precisam da nossa compreensão e apoio.
Eles agradeceram as nossas palavras.
A canção de Sérgio Godinho, que sempre gostei, " A paz, o pão, habitação, saúde, educação" nunca perdeu a sua essência e actualidade.
O meu obrigada a todos.E lutemos por estes direitos fundamentais que fazem um país crescer.
Bem hajam.