Os poucos momentos em que me sinto triste, sem motivo aparente, penso nas famílias (pais e filhos) e o que os levam a chegar ao limite da relação : incompreensão, desespero, falta de diálogo, falta de tempo, trabalho.
Nunca esqueci as imagens. Mas do tempo que já passou, sim.
Uns meses depois do massacre, ironia do destino, num dos nossos jornais portugueses apareceu uma notícia com a foto de um jovem de 15 anos, vítima do massacre, cujos dados de identificação correspondiam aos de um grande amigo meu.
Contatei-o.
Mas nunca soube se fizera alguma coisa por ele, o filho "esquecido" e fruto de um amor que eu sabia ser verdadeiro e, ao mesmo tempo,louco.
Uma coisa sei. Esse filho, se é vivo, nunca conheceu o pai.
Tenho a notícia algures aqui guardada, com outras.
20 anos passados e essa imagem do filho "esquecido", vem-me muitas vezes ao pensamento.
Hoje, depois do jornal da SIC, e quando estava para começar a jantar, apercebi-me do assunto da Grande Reportagem, "Este País não é para Velhos". Deixei-me ficar por uns minutos aqui na sala, e vi que se tratava da "3ª idade", da vida dos idosos que vivem isolados e/ou nos lares onde são acolhidos.
A refeição acompanhou-me no sofá.
O abandono dos idosos por parte dos filhos, alguns deles presos dentro de casa, sem comida, e a quem foi "roubado" a parca reforma que possuíam.
Entretanto, passava a cena de um filme do realizador Grego Constantin Pilavios.
Pai e filho sentados num banco do jardim de sua casa. O filho lê o jornal. Um pardal, com o seu encantador canto,desperta a atenção do homem mais velho que pergunta "O que é aquilo?"
O filho comodamente a ler o jornal responde: "É um pardal", regressando à sua leitura.
Depois de várias tentativas, sempre com a mesma pergunta, de chamada de atenção do pai, o filho responde aos gritos que um é um pardal.
Aquele o pai levanta-se entra em casa e regressa com um diário...
Se a reportagem me fez dó pelo que a maioria dos idosos passa com o despreso e abandono dos filhos, esta cena sensibilizou o mais intímo do meu coração.