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cantinho da casa

cantinho da casa

no cabeleireiro

No outono do ano passado, abriu um cabeleireiro no ginásio.

Uma senhora, sul americana, é a cabeleireira das mulheres.

Em Janeiro, decidi marcar pintura e corte de cabelo.

Gostei do trabalho, fiquei cliente.

Hoje, fui pintar, e decidi cortar as pontas, e ficar com uma franja discreta.

Aplicada a tinta, sentou-se a senhora, chilena, na cadeira junto do lavabo, e disse-me: "a Maria é muito querida aqui".

Com surpresa, olhei-a , sorri e interroguei : " sim?!"

"A Maria é boa pessoa e simpática", acrescentou.

Comentei: "Eu dou-me bem com todas as pessoas, isto é, falo com algumas que sinto mais empatia, mas não  sou  curiosa ao ponto de querer saber da vida delas".

Iniciamos uma conversa interessante sobre muito do que está a acontecer neste mundo louco, e a propósito de ela dizer que a filha não quer ter filhos.

Falamos de imigração, de racismo, de educação, de valores.

Se eu já admirava a postura da senhora, hoje, fiquei a admirá-la mais.

E está a aprender português.

E sei porque ela fez o comentário sobre mim.

 

 

 

 

da semana de temporal

Sábado passado, abriu Braga Capital Portuguesa da Cultura 2025.

A chuva veio "abençoar" a abertura que, segundo soube, os espectáculos nos vários lugares que se realizaram foram muito bons.

Eu saí para ver uma jovem canadiana    tocar órgão na Basílica dos Congregados.

Estava à espera de ouvir outro género de música que nos alegra a alma.

Uns acórdãos monótonos, monocórdios, levavam-nos à reflexão, ao nosso interior, e até a adormecer, como vi algumas pessoas. Por vezes, outros sons semelhantes ao piar dos  pássaros,  confesso que não foi do melhor que ouvi.

À noite, houve mais espectáculos e,  no final, os 500 drones que "invadiriam o céu de Braga", pensando eu que conseguiria ver da minha janela, e pelo que vi na Braga TV , o lugar onde eles faziam as suas lindas imagens sobre Braga e sua história, o alto prédio que fica numa rua paralela à minha, impediu que visse o espectáculo.

Na segunda-feira, decidi ir ao cinema depois do almoço.

Uma hora que não tem muito público, e que não se é incomodado pelo mexer das mãos no balde das pipocas, nem o ruído nas bocas de quem as delícia ( eu adoro)

Metade dos lugares estavam ocupados.

Como não poderia deixar de ver "Ainda aqui estou" é um filme bom, não só porque retrata a vida de um casal do tempo da ditadura, mas porque os personagens são bons.

Mesmo  os mais novos, envolvem-nos na vida de uma família numerosa, feliz.

A luta pela procura do marido que foi levado pela polícia federal, a chantagem psicológica na identificação de todos os homens e mulheres presos por nada.

Passados 25 anos, foi declarado o certidão de óbito, foi a família recebê-lo, o culminar da gratidão por, finalmente, terem-no com ela.

Eunice Paiva, é o forte da família.

O seu papel é tão natural, as suas expressões, o seu diálogo, a educação que passa aos filhos, é de uma naturalidade que nos reconhecemos nela.

Momentos tristes, momentos alegres, família que cresceu, eis que no final, e porque quando a família se reunia tirava-se uma fotografia, surge Fernanda Montenegro, no papel da personagem Eunice, idosa,  que  sofria da doença de Alzheimer.

Sentada em frente à TV, os olhos levantam-se para ouvir uma notícia sobre o que acontecera a muitas mulheres que ficaram sem os seus cônjuges.

O nome do marido é mencionado.

Baixa a cabeça.

Vêm os filhos buscá-la para o retrato.

Sempre que havia retrato, havia sorrisos.

Desta vez, todos sorriram. Ela não.

A história é para ser vivida na sala de cinema.

Estes são alguns apontamentos do que é o filme.

Nos dias que vivemos, reflictamos no que foi a ditadura.

Eu vivi alguns anos e sei o que os meus avós e os meus pais passaram.

Na terça-feira, com o tempo horrível que estava, não fiz nada que me distraísse.

Fui buscar o miúdo à escola, levei-o à terapia.

No carro, comia o meu lanche, recebi  chamada da minha irmã.

Falecera a mãe de uma amiga nossa.

Depois de levar o miúdo a casa, fui ao velório.

Conheço poucas famílias que sejam tão unidas quanto esta.

A minha amiga tem três rapazes e uma um rapariga, todos adultos.

Estes jovens sempre acompanharam os avós maternos.

Iam de férias com eles, tinham um amor incondicional aos avós.

O filho mais velho vivia com a avó.

Na missa, o padre fez um homilia pequena que captou a minha atenção, e penso que de todos os presentes, dizendo mais ou menos  estas palavras que me emocionaram: " A perda dói e custa muito.

Mas a vida é feita de perdas e ganhos.

Olhemos para trás e pensemos nos ganhos que os nossos entes nos deixaram".

Uma família muito unida, exemplo de que a educação e o respeito são valores  fundamentais  para que a sociedade se respeite.

E a nossa responsabilidade é passá-los aos filhos, aos netos,  e estes às gerações que virão.

Duas famílias unidas; a do filme, e a real.

Ambas tocaram o meu pensamento e o meu coração.

 

 

 

 

Calendário do Advento - 10

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"O menino das línguas de gato"

Terça-feira passada, passei na para ver o Presépio, começava a Missa, só era possível vê-lo no fim, e como havia lugares fiquei atrás para assitir à celebração da Eucaristia da Imaculada Conceição de Maria.

Viam-se alguns casais com crianças, uma  mãe teve de sair da igreja porque a filha gritava.

Uma jovem mãe, seguida pela criança que teria cerca de três anos, ocupou o lugar no canto oposto ao banco que estava à minha frente, estavam um pai com um rapazito no outro canto.

A criança, que trazia na mão um pequeno e redondo tupperware  com línguas de gato, sentou-se ao lado da mãe e, uma a uma, levava à boca as deliciosas ( adoro!)  biscoito, ora se levantava e pousava o tupperware no banco para com os pés trepar a coluna da parede, ora deixava-se estar de pé a comer.

Estava na dele, não fazia qualquer ruído. De quando em vez, olhava para mim, eu sorria com os olhos.

Do meu lado direito, junto à coluna da ala central,  estava um pai com uma uma menina que não teria dois anos. 

Uma dada altura, o senhor pôs a garota no chão.Ela viu o menino a comer, aproximou-se dele, não falou, e ele deu-lhe uma língua de gato para a mão.

A menina virou costas, foi por trás das pessoas, deu uma volta, o pai sempre atento a olhar para onde ela ia, foi ter com o pai.

Depois de comida a primeira língua de gato, ela voltou a aproximar-se do menino, que lhe ofereceu outra. E a menina deu-lhe um abraço.

E repetiu-se isto umas quantas vezes.E a garota ia dar o seu passeio.

Eu olhava para trás, seguia a menina, percebi que quem estava junto à entrada principal da catedral, estava atento,também, para que ela não se afastasse demais do pai. Mas o pai não deixava passar dez segundos, ia buscá-la.

E foi então que reparei na família.

Ocupava um banco. Contei dois rapazes e uma rapariga,e a mãe. Pela altura das crianças, a filha mais velha teria dezasseis anos, os dois rapazes teriam treze e dez anos, e a menina de colo. Portanto, um casal com quatro filhos que assistiam à missa sem que qualquer um deles desse sinal de não querer estar ali. Só a menina não paráva.

Voltou ao menino. Tentou sentar-se no banco.A  mãe dele pegou nela e sentou-a ao seu lado. Mas foi por segundos. A garota desceu do banco, estendeu a mão ao menino para lhe dar outra língua de gato, que caiu no chão. ...E elas estavam a chegar ao fim.

A mãe do garoto, apanhou-a  e guardou-a no bolso do casaco. O filho deu outra à menina,  ela voltou ao passeio( tenho a certeza que atrás de mim todos estavam a achar piada às duas crianças).

As línguas de gato acabaram, a mãe do menino virou-se para trás fez um sinal ao marido que se aproximou e lhe deu a tampa do tupperware.

Acabadas as línguas de gato, o menino foi à carteira da mãe e tirou dois carrinhos.

Em pontas de pés, tentava pô-los a andar na coluna, ou colocava-os em cima da caixa das esmolas fixa na parede.

A menina voltava ao menino, mas não queria os carrinhos. Não havia mais línguas de gato, foi embora e não voltou mais.

Toda a família da menina foi à sagrada comunhão ( fiquei emocionada ).

Acabada a Missa, o menino e a mãe ainda ficaram algum tempo no banco.

Do outro lado, a família da menina também. Estariam à espera, como eu, que saíssem as pessoas para irem ver o Presépio.

Em toda esta cena das duas crianças, não ouvi as vozes delas.

Geralmente, as crianças não têm paciência para ficar tanto tempo dentro da igreja sem fazer nada. 

Os meus sobrinhos netos não conseguem estar quietos ou calados.

E sou das que pensa que os mais pequenos não deviam ir para a igreja com os pais. Todos sabemos que elas não páram e a tendência é para fazer ruído.

Mas estas duas, tiveram um comportamento exemplar. Nenhuma falou, entenderam-se com as línguas de gato, o menino mostrou saber partilhar o que tem.

Por sua vez, ela, sossegada no colo do pai, só deu nas vistas quando foi para o chão e andava de um lado para o outro, estendia a mão ao menino para receber a língua de gato e seguia o seu caminho sem um ruído.

Pensei nesta grande família cristã, que me pareceu ser cheia dos valores que a sociedade de hoje carece: educação, humildade, simplicidade.

A menina foi um bom exemplo disso.

Nunca vi nada igual.

 

o que dizem os olhos

Faz-me espécie, e é inevitável, quando vou buscar o sobrinho neto ao colégio, conhecer as educadores e as auxiliares de educação pelos olhos.

Por vezes,  por breves segundos, e com a devida distância, apetece-me dizer para baixarem a  máscara para ver com quem falo e vice-versa.

Mas foco-me nos seus olhos, são estes que,  acompanhados das palavras  correu tudo bem, o menino comeu bem,(ele come muito bem) assim como os abraços que lhe dão na despedida, e ele, um menino de abraços,devolve com o mesmo entusiasmo, os acenos de um até amanhã tranquilizam-me,  e à mãe também.

Está no colégio certo...e tem actividades de ginástica e música, que ele adora.

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Imagem que trouxe daqui.

 

 

 

 

 

no cemitério

Não chovia quando saí de casa para ir ao cemitério fazer aquelas limpezas mais profundas às campas dos meus familiares.

No cemitério há armários em todos os sectores, com regadores azuis e vassouras para as pessoas servirem-se e colocá-los no lugar depois de os usarem, o que faço  sempre que lá vou.

Ora,  hoje, calculei que estariam muitas pessoas nas limpezas, levei um balde azul e uma vassoura. 

Lavada a dos meus avós ( onde está o meu irmão mais velho, muito querido que foi deles) fui para a dos meus pais e irmã mais velha.

Numa das vezes que fui buscar água, estavam duas senhoras junto à torneira, apontando para o meu balde diz-me uma delas:

- Dê-me esse.

Respondi que era meu e que no cemitério não há baldes, mas regadores, e que estava a precisar dele.

- Ah, tem razão.

Uns minutos depois, estava eu a lavar a campa, aproximam-se uma mãe e filha, páram na campa em frente e diz a mãe para mim, tratando-me por tu:

- Olha, quando acabares dá-me esse balde.

Fiquei parva a olhar para as duas, primeiro porque me tratou por tu e não a conheço, nem ela a mim, tanto quanto eu saiba, de lado nenhum, e porque também ela sabe que no cemitério há regadores e não baldes.

Respondi  que o balde era meu, que se quisesse dava-lhe a vassoura porque tenho várias na garagem, que estava a acabar a limpeza e ia embora, não podia deixar-lhe o balde.

- Ah, desculpa. Vou ver se encontro alguém que me empreste um regador.

Voltei à torneira, enchi o balde, reparei que no armário tinha um regador.

Peguei nele e levei-o para ela.

Numas campas mais à frente, na tentativa de que alguém lhe passasse o regador,  e tratando-a por "senhora", disse-lhe que tinha um para ela e que deixava a vassoura.

Agradeceu e comentou comigo, agora retribuindo a forma de tratamentoque a campa está escura, que mandara aplicar um verniz para proteger da humidade, mas não resultara.

Não suporto esta forma de tratamento de  "tu" que a sociedade  moderna usa como se todos fossemos familiares, colegas, amigos (as).

Sou uma pessoa simples e informal, mas por incrível que pareça, tenho amigas e colegas de trabalho mais jovens que não consigo tratá-las por " tu".

E nada tem a ver com  idade. 

 

" quanta gentileza!"

Quinta-feira à tarde, tenho curso (  aula de Pilates em pequeno grupo e paga) às 17h30.

Estive todo o dia em casa a fazer aqueles limpezas mais profundas, que as empregadas não fazem, e que tanto me irritam. Nem o que está à frente dos olhos limpam bem.

Por volta das 16h30 parei as limpezas, não queria faltar.

Ainda passei na lavandaria para deixar o edredão de inverno.

Estacionei o carro no parque do ginásio, entrei para o elevador. 

Mal entrei, e já tinha carregado no botão " recepção" , entra um homem nos seus 30 e poucos anos, saco ao ombro. Carrega no botão das setas de fechar porta. 

Pensei para o meu decote: " Se já carreguei no botão para a recepção, porque carregou ele no das setas? A porta fecha-se por si própria...".

O elevador tem duas portas: a que dá para o parque e a da recepção.  Entrei primeiro, encostei-me perto da porta da recepção para ser mais fácil a saída, pois costumo levar uma mala com as minhas roupas. A subida é rápida.

De telemóvel na mão, quando o elevador estava a prestes a parar, percebi que ele não iria deixar-me sair primeiro.

E assim aconteceu. Mal a porta do elevador se abre, ele passa à minha frente, sai do elevador e dirige-se ao balcão.

" Quanta gentieza! Que falta de educação! ",  murmurei baixinho.

E eu até tenho idade para ser mãe dele.

Presumo que será um daqueles jovens executivos que pensa que é melhor que todos os outros. Mas um pouco de educação ficava-lhe muito bem.

 

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Senhores da Golden Energy

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Façam-me o favor de contratarem pessoas, quer sejam jovens, ou menos jovens, com modos e perfil para lidarem com os clientes e de modo a que, quando tocarem à campainha de uma residência, se identifiquem como sendo funcionários da vossa empresa, e não da EDP que vêm para ver o contador da luz e gás. 

Depois, que tratem o dono da casa como uma pessoa de respeito e não como se fosse um qualquer da sua laia, tá?  

E antes de os enviarem para a rua angariar clientes, dêem-lhes formação sobretudo de regras de tratamento de pessoas, certo?

E não enviem os seus colaboradores para pedirem faturas com a treta que está a pagar a mais x de eletricidade, y de gás e z de contador deste, tá?

Passo a explicar.

14:30h tocam à campainha. Pelo intercomunicador faço a pergunta habitual:

- Sim?

- Boa tarde, somos da EDP, queremos ver o contador da luz e gás.

Abri a porta. Aparecem-me dois rapazes com idades entre os 23 e 30. Vestiam coletes em tom cinzento.

Tiro o quadro que esconde o contador da luz quando passa cá o funcionário da EDP.

- Tenha calma, não é já que vamos ao contador - respondeu o mais novo, mostrando uma simpatia invulgar.

- A senhora tem gás natural?

- Sim - respondi.

- Podemos ver uma fatura?

- Sim, mas as faturas são eletrónicas, tenho-as numa pasta no computador.

O pc estava ligado, abri a pasta, procurei uma fatura recente.

Enquanto o colega foi ao andar de cima, este, com o maior à vontade,senta-se na cadeira ( eu, parva, esperei para ver e ouvir) e de repente vê a fatura em meu nome e pergunta:

- Você vive sozinha?

- Como? O que é que isso lhe interessa ?, - perguntei

- Ah, não fique chateada, só perguntei. Olhe, você não tem desconto na luz, tem no gás, está a pagar aluguer de contador do gás...

- Desculpe, mas vocês são da EDP?

Desta vez não sei o que me respondeu mas foi de forma abusiva, porque eu reagi tratando-o por senhor:

- O senhor veja como fala para mim. Está em minha casa, e além disso eu tenho idade para ser sua mãe.

Ficou um pouco atrapalhado e respondeu:

- É a minha maneira de falar com as pessoas.

- É sua maneira, mas é falta de educação falar assim para as pessoas - já estava a passar-me, não pensava em mais nada senão neste à vontade e abuso de confiança.

Entretanto, o colega desce, a porta estava aberta e pergunta:

- Posso?

- Podes - respondeu ele imediatamente, e sem que eu tivesse tempo para dizer nada.

Eu já estava a prever o que vinha a seguir,  já fervia, até que reparei que o colete tinha umas letras, vejo um G que me pareceu Galp.

- Afinal vocês são da Galp?! O que é que querem? 

- Ó mulher- responde - nós não somos da Galp.

Alterada que fiquei com o "ó mulher", com o dedo apontei para porta e digo:

- Ponham-se imediatamente daqui para fora! Não admito que me tratem desta forma dentro da minha casa.

Resposta dele:

- Tantas casas que vamos, falo desta maneira porque é o meu jeito de falar, nunca ninguém reclamou, vem você reclamar agora.

- Fora da porta, já disse. Se os outros admitem, eu não admito. Não o conheço de lado nenhum nem andamos juntos na escola para falar comigo dessa maneira, entendido? 

Saíram. Quando fechava a porta, abro-a num ápice, e antes que desaparecessem, perguntei:

- Digam-me, qual é a vossa empresa?

Responde alto e com ar desafiador e descarado:

- Somos da Golden Energy, a melhor empresa do mundo.

- Pois pode ter a certeza que vou enviar um e-mail a participar o vosso comportamento.

- Mande. Quero lá saber!

Fechei a porta, fiquei incomodada e alterada.

Esta coisa do tratamento por tu, só gera conflitos. 

Tinha duas aulas de Pilates, valeram-me estas para tentar esquecer o assunto.

 

 

é preciso ter lata!

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ontem, quando cheguei do passeio ao Gerês, antes de entrar no gaveto que dá acesso à minha garagem, por cortesia, deixei entrar os três familiares, um deles conheço, o cunhado da vizinha do r/c, a madame do batom vermelho. 

Ora eles passaram, não agradeceram, pararam à entrada do portão da rua, a conversar. Eu, com o carro a trabalhar, esperava que suas excelências se  desviassem. Bastava encostarem-se ao muro e deixavam-me passar.

Calmamente, em passo de caracol, continuaram a sua "caminhada" até às traseiras do prédio. 

Devagar, atrás deles, resmungava comigo própria a passividade propositada dos gajos . Mereciam que acelerasse e os assustasse para se desviarem.

Quando, finalmente virei, para estacionar o carro em frente à garagem, a minha, pararam a conversar... E foi então que vi uma moto  estacionada  mesmo em frente à porta.

Aguardei que subissem as escadas de acesso à casa da madame.

Como não tinha intenção de guardar o carro porque saíria hoje de manhã cedo para o ginásio, estacionei o meu carro bem colado à moto.

Como se nada nem ninguém estivessem ali, subiram as escadas da casa e entraram.

Se tivessse de meter o carro na garagem, teria de lhes pedir para tirarem a moto que obstruía a entrada.

Outros familiares da madame  viram a cena, sabiam que o veículo não devia estar ali. Ignoraram-me.

Saí do carro, fechei-o e vim para casa.

Havia festa em casa da madame do batom vermelho.

Quando tudo estava sossegado, fui à janela e vi que a tinham tirado do lugar, estava encostada  ao portão da minúscula garagem de arrumações do vizinho da cave.

De manhã, continuava lá.

O sol é de mais nas traseiras do prédio, o carro fica muito quente.  De manhã fui ao ginásio, quando cheguei estacionei-o dentro garagem.

Dia de aniversário da Mafalda, à tarde, fui beber um copo com as minhas amigas. E saí de carro.

Ao final da tarde tinha compras de supermercado para fazer, cheguei a casa por volta das 20h.

Decidida a guardar o carro na garagem, deparo-me, novamente, com a moto em frente à portão.

Saí, abri o ruidoso portão e meti-me no carro esperando que alguém enxergasse e a tirasse dali.

Ninguém do r/c veio à janela. Fosse eu a vizinha do prédio ao lado, faria alarido, caíam o Carmo e a Trindade, mas como não quero confiança com esta gente, buzinei.

Das escadas surgiu o rosto da madame do batom vermelho que disse qualquer coisa a alguém que, imediatamente, também das escadas, levantou-se um dos três homens da cena de ontem, que as desceu, desviou a mota, virou-me as costas e subiu de novo.

Guardei o carro na garagem, fechei o ruidoso portão, vim para casa.

Nenhum deles pediu desculpa por ter o veículo a obstruir a entrada.

A madame não tem carro, não tem garagem, não tem direito a qualquer pedaço de gaveto de acesso às garagens. Se tivesse carro, 

teria de pedir autorização a todos os inquilinos, donos dos apartamentos, para estacionar o carro junto ao prédio.

Sabe disso, mas abusa.

Quando vai acompanhada do marido, passa por mim, não me cumprimenta. Fá-lo, sim, quando  sozinha e se não puder evitar.

Retribuo-lhe com a mesma moeda. Não quero conversa, não quero confiança. Detesto esta mulher.