à pergunta que todas as mulheres solteiras, livres, inteligentes, trabalhadoras, com casa mas sem filhos, discretas, fazem entre si.
Destaco o que nós pensamos e dizemos, sem dúvida:
ISTO NÂO É O QUE PARECE por Paulo Farinha (Notícias magazine)
- Não concordo com a tua teoria. Desde que o homem é homem, que prefere mulheres sem filhos. E o contrário também. Pergunta a quem quiseres. Até dizem que «vem com brinde».
- Sim, é uma expressão muito jeitosa, sem dúvida. Mas garanto-te que há quem prefira assim. Se perguntares a pais separados o que é que preferem para a vida deles, eles respondem todos: «Pessoas que já tenham filhos.» Se for para uma relação, uma coisa mais séria, de certeza que dizem isso.
- E se for para dar umas curvas?
- Isso tanto faz. Com filhos ou sem filhos, desde que tenha casa própria e não seja uma psicopata, basta haver atração.
- Fizeste uma sondagem?
- Falei disso há dias a três amigos, num jantar. São todos divorciados e responderam todos o mesmo. Aliás, a conversa surgiu da mesma maneira que surgiu agora. Uma amiga nossa a queixar-se e a fazer um choradinho, ai, ai, que sou um bom partido e não arranjo ninguém, e até tenho um bom emprego e ganho bem e sou independente e ainda por cima - repara nisto, «ainda por cima» - não tenho filhos. E nós a dizermos-lhe que o problema é exatamente esse: não ter filhos.
- Olha, primeiro, eu não estava a fazer um «choradinho». E explica lá porque é que é preciso ter filhos para engatar um gajo.
- Não é para engatar. Mas se queres arrastar a asa para um tipo com filhos, para uma coisa mais duradoura, se não fores mãe estás em desvantagem.
- Mas porquê!?
- Porque se tiveres filhos é mais fácil - e dá menos dores de cabeça - teres alguém ao teu lado que percebe melhor as coisas. Julgas que é fácil ir para a praia às oito da manhã, com o carro cheio de boias e brinquedos e guarda-sol e geleira, e vir embora às onze? E aturar birras de miúdos e ter de mudar os planos porque eles já não querem um iogurte e só querem um gelado? E ter sempre horas marcadas para refeições, banhos, trabalhos de casa, ir buscá-los à escola ou à natação? E não poderes combinar jantares, cinema, teatro, ficar até mais tarde a beber um copo... E andares tão cansado que adormeces no sofá?
- Isso é normal para quem tem filhos. Nada de mais.
- Mas para quem não os tem obriga a grandes mudanças no estilo de vida. Os filhos são um poderoso antiafrodisíaco, por causa do cansaço e da logística, e é preciso jogo de cintura e muito amor para aceitar isso. Se não tiveres filhos, é mais difícil de entender. Se tiveres filhos e estiveres com alguém que também tem, o choque não é tão grande. E dá muito menos trabalho a explicar tudo. Vocês dão muito trabalho.
- Vocês quem?
- Vocês, os que não têm filhos. E não venhas dizer que tens sobrinhos, porque não é a mesma coisa. Nem digas que falo assim porque sou gajo, porque com os homens é a mesma coisa. Também se lamentam e choram e são uns incompreendidos porque não arranjam ninguém.
- E porque é que nunca ouvi falar disso?
- Porque é malta mais discreta. Não faz tanto alarido. Quem já tem filhos também se lamenta que não encontra ninguém. Também ficam em baixo por não perceberem por que carga de água os amigos todos arranjam alguém e eles não. A diferença é que não se acham assim um partido tããããão espetacular, e não ficam assim tããããão chocados por não arranjarem ninguém. Não sei se é porque a maternidade e a paternidade lhes dá outra noção de prioridades, ou seja lá o que for, mas a verdade é que não se vitimizam por serem a última Coca-Cola do deserto e ninguém aparecer para beber. O discurso é parecido. «Quem quer casar com a carochinha, coitada de mim, tão bonita e formosa, inteligente e bem resolvida.» Mas não falam de filhos.
- Não estou convencida.
- Experimenta namorar com um gajo com filhos. Da terceira vez que ele te der tampa porque o miúdo está com amigdalite, vais dar-me razão.
[18.08.2013]