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cantinho da casa

cantinho da casa

O regresso e a solução

Estava à espera de algo com humor sério, nada de jagunços, bananas, pauladas, ofensas.

Quatro homens que nada disseram que valesse a entrevista.

Também fiquei na dúvida se Rodrigo Guedes de Carvalho sabia como orientar a entrevista ou se foi mesmo uma surpresa para si o modo como esta foi "levada" pelos quatro entrevistados.

Nada supreendente.

Fiquei decepcionada.

 

 

 

 

 

 

 

 

Jorge de Sena

 

 

Se este escritor fosse vivo, completaria amanhã 90 anos.

Na RTP2 fala-se, ri-se, critica- se Jorge de Sena.

 

 

 

 

Ode ao Amor

 

 

 

Tão lentamente, como alheio, o excesso de desejo,
atento o olhar a outros movimentos,
de contacto a contacto, em sereno anseio, leve toque,
obscuro sexo á flor da pele sob o entreaberto
de roupas soerguidas, vibração ligeira, sinal puro
e vago ainda, e súbito contrai-se,
mais não é excesso, ondeia em síncopes e golpes
no interior da carne, as pernas se distendem,
dobram-se, o nariz se afila, adeja, as mãos,
dedos esguios escorrendo trémulos
e um sorriso irónico, violentos gestos,
amor...
             ah tu, senhor da sombra e da ilusão sombria,
vida sem gosto, corpo sem rosto, amor sem fruto,
imagem sempre morta ao dealbar da aurora
e do abrir dos olhos, do sentir memória, do pensar na vida,
fuga perpétua, demorado espasmo, distração no auge,
cansaço e caridade pelo desejo alheio,
raiva contida, ódio sem sexo, unhas e dentes,
despedaçar, rasgar, tocar na dor ignota,
hesitação, vertigem, pressa arrependida,
insuportável triturar, deslize amargo,
tremor, ranger, arcos, soluços, palpitar e queda.

Distantemente uma alegria foi,
imensa, já tranquila, apascentando orvalhos,
de contacto a contacto, ansiosamente serenando,
obscuro sexo à flor da pele... amor... amor...
ah tu senhor da sombra e da ilusão sombria...
rei destronado, deus lembrado, homem cumprido.

Distantemente, irónico, esquecido.

Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'