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cantinho da casa

cantinho da casa

três imagens

Quando era criança, a minha mãe dizia que não devíamos ver as notícias à hora de jantar.

Não queria que os filhos vissem a desgraça.

E nessa altura havia apenas um canal de televisão.

Embora o meu pai quisesse ver o que acontecia no mundo, ela impunha a sua decisão, a hora de jantar era para estarmos comer e conversar, se houvesse  tema.

Eu costumo ter a televisão desligada até à hora de jantar. Vou vendo as notiícias, ora vou para a cozinha, ora venho para a sala, vou deitando o olho e o ouvido ( tevevisor na cozinha, nunca!). Contudo, durante o dia, recebo as notícias no PC ou no telemóvel, vou vendo e lendo o que me interessa.

Desde que a Ucrânia foi invadida pelas tropas de um ditador,  egoísta, criminoso,  psicopata, ia  vendo como estava a situação no país,  até que as imagens de sangue, de valas comuns,  de corpos abandonados nas ruas, me incomodavam de tal maneira, que deixei de ver.

Gosto de ouvir os comentários de José Milhazes e Nuno Rogeiro, de ver as imagens que escolhem para mostrar o quão de maldade há em Putin e na élite que o rodeia.

Ontem,vi um pouco do desvaste, da chacina, que as tropas russas deixaram como sua marca, em Bucha.

Foram apenas alguns segundos, não quis ver mais nada.

Penso na minha mãe e no que ela dizia,eacho que à hora de jantar não deveriam ser mostradas estas imagens.

Muitas famílias vêem as notícias a esta hora. Os filhos à mesa vêem o que deviam ser poupados de ver.

Estas imagens deveriam ser passadas quando as crianças estão a dormir, até porque há notícias todo o dia,e que se repetem.

Sigo a página oficial de Zelenskiy, com vídeos e fotografias de tudo um pouco, umas chocantes, outras que mostram  a beleza que "foi salva" no meio da destruição.

E são estas três imagens que fui buscar à sua página.

Talvez queira dizer-nos que é um sinal de esperança de que um dia, talvez lá longe no tempo,a Ucrânia vai reerguer-se da terra queimada, das cinzas, e da destruição.

 

 

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Missa de cinzas

Hoje faz cinco meses que meu pai faleceu.

Um pedido que fizera foi que, durante pelo menos um ano, mandassemos dizer uma missa por ele.

No passado mês de Outubro de 2009, marcámos para todo o ano de 2010, as missas que ficaram pagas também. 

No mês de Janeiro fomos às 11: 00, pois era Domingo, mas estava marcada para as 19:00h. Engano nosso.

Durante a semana a missa diária é às 18:00h. Não me esqueci e fui.Prometi que iria sempre que não tivesse algo que me impedisse de assistir. Não me custa nada ir à missa.

Já fui assídua. Deixei de ser há alguns anos. Poucas vezes me concentrava naquele acto litúrgico e via que a maioria das pessoas iam por hábito e/ou obrigação.

Hoje,se quero um pouco de silêncio e reflexão, se me apetece entrar numa igreja, faço-o. Com mais devoção.

Deixei a Sofia no café de um amigo, ao fundo da minha rua. Disse-lhe que à semana a missa é mais pequena, visto que não há homília, por isso não iria demorar.

Contrariamente ao que dissera, hoje foi diferente. Teve homília e  a cerimónia de colocação das cinzas.

Ver imagem em tamanho real

 

Quando ouvi o padre dizer para não fazerem confusão e posicionarem-se com ordem em duas filas, pensei no que iria ele fazer

Sinceramente,nem me lembrava. Desde criança que não assistia a isto.

Penso que fui a única pessoa que não se deslocou até ao altar.

Deixei-me estar e, quando já faltavam poucas pessoas, vi que o padre punha o seu dedo, não sei qual deles, na testa das pessoas.

Fez-me lembrar uma parte da cerimónia do crisma, quando eu era criança.

À minha frente sentavam-se três senhoras, sendo uma delas minha conhecida, que mais do que a atenção à cerimónia da missa, olhavam para tudo quanto era pessoa, sei lá bem se para verem quem era. Mas, depois da cerimónia das cinzas, vêm para os seus lugares, sentam-se, e diz a minha conhecida, alto, para quem quisesse ouvir: "O padre parece que estava a pôr pimenta. Encheu-me a testa de cinza. Está suja?", ao mesmo tempo que passava a mão e limpava o que teria,ou não teria, na testa.

As outras diziam, "ficamos com as testas todas sujas...". Quem estava por perto riu-se.

Eu pensei: "se não queriam sujar a testa,deixavam-se estar sentadas a assistir. Mas cala-te meu pensamento porque, quando chegares à idade delas não sabes se vais fazer pior!".

Aguardei o resto da missa. O nome do meu pai e esposa foram anunciados pelo padre, no meio de mais 5 ou 6 nomes.

Cada um a 10 euros, bolas, é fácil ganhar um dinheirito.

Nada contra dizer missas por....Mas 10 euros????

Costumo deixar sempre a conhecida e célebre "esmola". Dou quando quero e geralmente dou 50 cêntimos ou 1 euro. Depende dos trocos.

Se já pagámos a missa, não, hoje decidi não deixar lá nada.

É que, no dia do funeral do meu pai, meu irmão deixou uma nota de 5 euros.

Confidenciou comigo que lhe pareceu que o senhor que ajuda à missa, antigamente designado de "sacristão", havia tirado a nota...

Se não fosse por que o meu pai pediu...

Afinal o que conta é a devoção.

 

 

 

 

Quarta-Feira de cinzas

Depis da folia do Carnaval,

 

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vem a 4ª Feira de cinzas.

É costume fazer-se a abstinência da carne, neste mundo cristão.

Sou católica, já fui mais crente nas palavras de quem apregoa a religião.

Agora faço o que a minha alma diz, aquilo que sei e que respeito fazer e seguir.

"Hoje é dia de comer peixe", digo sempre aqui em casa, a quem vem almoçar.

Há pouco a Sofia, como sempre,pergunta-me o que vamos almoçar.

Respondi "peixe". "Peixe????" , reclamou de imediato.

"Sim, e não mudo", retroquei.

Óbvio que não sou uma obssessiva cumpridora destas culturas religiosas exageradas, mas se não me lembrar, assim como à Sexta-feira durante a Quaresma, se tiver de comer carne,como.

Mas, como gosto de peixe e quase todos os dias o meu jantar consta deste alimento delicioso, não tenho qualquer problema em seguir o que a religião(???) diz.

(Lembro-me de há nuitos anos uma tia comprar a bula, para poder dar carne à família, que não dava a menor imporância a estas exigências da Igreja. E, com todo o respeito por ela, por volta dos 40, mudou radicalmente de religião. Tornou-se Testemunha de Jeóva. Agora,  com os 80 que tem,  ainda anda de porta em porta a semear a palavra da verdade).