" E esta, hein?!"
Fernando Pessa, conhecido por relatar situações caricatas do nosso país acabava o relato com a expressão " e esta,hein?!", veio-me à memória por algo que se passou aqui à porta da minha casa.
A minha rua tem parquímetros, poucas são as pessoas que tiram o bilhete de estacionamento. É habitual estacionarem os carros, vão à vida e depois não querem ver a multa nos seus carros. O ano passado um carro esteve estacionado 4 dias, teve direito a 4 multas.
Ora, hoje, estava eu de saída para ir à estreia do filme " As Lamas do Mississipi", reparei que um carro branco tinha uma multa no pára-brisas. Ao lado deste carro, um jipe, de onde vejo sair um homem de cerca de 50 anos que, sem olhar para lado nenhum, tira a multa do carro branco e põe no seu jipe.
Quando estava a fazê-lo, reparou que eu observava a cena, mas não alterou nada o seu gesto. Vai à porta de trás, abre-a, sai um miúda. Atravessam a rua e seguem o seu caminho.
Fiquei sem palavras. Apetecia-me tirar a matrícula e avisar a ESSE.
A sessão de cinema era às 17h20m, o filme não acabaria antes das 19h30m teria de andar 20 minutos a pé, decidi levar o carro. Voltei a casa para pegar a chave.
Quando desci, estava o funcionário da ESSE a imprimir uma multa, que põe no jipe. Reparei que o carro branco estava com a multa que lhe pertencia.
Fui tirar o meu carro da garagem e quando saí do portão o jipe já não estava estacionado.
O que pensei? O chico esperto foi levar a miúda algures e para não tirar um bilhete de 25 cêntimos, o mínimo que tem de pagar, que deve ser por um período de 10 minutos, viu a multa no carro branco e pôs no seu, convicto que o funcionário da ESSE não passasse tão cedo.
Se alguém viu o que eu vi e fez queixa ao funcionário que estaria por perto, não sei, o que sei foi que tudo aconteceu num curto espaço de tempo que não foi mais de 7 minutos.
O chico esperto pensou que teria sido eu fazer a queixa, e bem merecia que tivesse sido. Não fui, mas gozei com a situação porque a espertície dele saiu-lhe cara.
No meu carro, falava eu sozinha e alto: " É preciso ter lata.! Que vergonha fazer uma coisa destas! Nunca vi nada assim!"
E foi quando me lembrei do nosso saudoso Fernando Pessa que, se visse isto, diria :" E esta, hein?!"