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cantinho da casa

cantinho da casa

"Dê-me uma moeda"

Há cerca de um mês que não ia ao cemitério, doía-me  a alma só de pensar que ninguém lá vai e as flores estariam miseráveis.

Ontem, fui ao mercado municipal, comprei flores, preparei os ramos para  pôr nas urnas.

E hoje podia chover a cântaros, nada me impediria de lá ir.

Passava das 11h, e depois de ter ido fazer exames de sangue, deixou de chover, o cemitério fecha à hora do almoço, tinha 1h30 para lavar duas campas e pôr as flores.

Meti-me no carro, balde e vassoura, detergente, e lá fui.

Tenho uma capa comprida que uso quando lá vou nestes dias de muita chuva, que comprei há mais de 25 anos, em Espanha.

Ainda bem que fui de manhã, tive a sorte de não ter chovido enquanto lá  estive, porque desde a hora do almoço que não pára de chover.

Ora, quando estava a estacionar, surge-me, à frente do carro, um homem que, de vez em quando, anda por lá a pedir a moeda.

Já tinha reparado que ele é mal educado e insulta as pessoas se não lhe dão dinheiro, mas também  sei que ele terá algum problema psíquico, e que as pessoas dão-lhe a moeda, ou não lhe dão importância.

Quando abri a porta para sair do carro, com uns modos rudes, diz-me ele: " Dê-me uma moeda"

Respondi que não trazia dinheiro, que lhe daria na próxima vez que fosse, ao que ele reagiu com gestos rudes: " Olha que  p*&#@! Sei lá bem quando vem! Olha-me esta p*&#@!" 

E, por breves segundos, fiquei estática a olhar para ele, que continuava com os insultos.

Mais atrás estava outro pedinte, que não dizia nada.

Peguei no balde, na vassoura e nas flores, que por acaso pus junto ao banco de trás, e para não levar a carteira comigo, pusera-a na mala do carro, antes de sair de casa. O telemóvel levava-o no bolso das calças. E fechei o carro e segui para o cemitério.

Enquanto limpava as campas, pensava se realmente teria fechado o carro. Se ele tivesse percebido que não, enfim, eu já não sabia o que tinha feito, podia abrir e levar a carteira.

Quando saí, vejo os dois homens, o primeiro olhou-me, sem dizer nada, o segundo continuava calado, mas reparei que tem um tique nas mãos que me fez deduzir que deve haver naquela cabeça um problema grave.

Antes de abrir a porta com o comando, aproximei-me e vi que fechara o carro.

Voltei a pôr tudo junto ao banco de trás, mas não abri a mala para que eles não a vissem cheia e com a carteira.

Segunda-feria, volto lá para pôr círios.

Vou levar moedas para não ter de ouvir os insultos, que me chocaram, e porque com este tipo de homem não vale a pena dizer não.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"fui entrevistada"

Estava a acender um círio na campa dos meus avós paternos, onde está também sepultado o meu irmão mais velho, quando quatro jovens, um rapaz preto, e três raparigas, estas vestidas com blaser preto, mais me pareceram que tinham ido a um funeral e precisavam de alguma coisa, e que os vira a falarem entre si, aproximarem-se e, timidamente, perguntarem-me se podiam falar comigo.

Falavam tão baixo que mal percebi o que disseram.

Apresentaram-se como estudantes de Relações Públicas da UM, e tinham de fazer um pequeno inquérito, e o lugar era no Cemitério.

Perguntei se iam gravar, a mais desinibida disse-me que iam tirar alguns apontamentos. Era o rapaz que apontava.

Então o que tinha de dizer:

-a idade

- quem estava ali sepultado

-alguma história que quisesse contar sobre algum deles

Elas tinham o telemóvel na mão, pareceu-me que uma delas estava a gravar,mas tambérm não me importei, não era nada demais.

Disse que ali estavam o meu irmão e os meus avós paternos, e noutra secção estavam a minha irmã e os meus pais.

A história que contei, foi que, e apontando para a fotografia do meu irmão, ele foi  um homem simpático e com sentido de humor bastante grande, que  fora tropa e estivera na Guiné uns anos antes do 25de abril de 1974. Que trabalhou na empresa da família.

Perguntaram qual o nome da empresa, respondi que podia ver na lápide dos meus avós a alcunha que tinha "ONÇA". 

Que a minha avó era uma boa mulher, gostava de ter os netos perto dela.

Que dava uma mesada aos netos, enquanto que às netas sentava-as ouvirem contar as histórias dela enquanto lhes dava o lanche.

Resumidamente, foi isto, perguntei se queriam saber mais alguma  coisa.

Disseram que gostaram muito de ouvir, que estavam muito gratos por ter colaborado.

Eu comentei que tive muito gosto em ajudá-los neste pequena entrevista, que lhes desajava muita sorte, e que fossem felizes.

Quando fui à campa dos meus pais e da minha irmã, estava mais um grupo a "entrevistar" um homem, jovem, muito bem parecido.

Quando regressava para sair do cemitérios, um grupo de três rapazes acabavam de entrvistar uma senhora, aproximaram-se de mim e eu comentei que já tinha sido entrevistada pelos colegas.

Com o sorriso nos rostos, agradeceram-me a ajuda.

Pareceu-me que os três grupos que vi, foram bem sucedidos .

 

 

uma rosa

Fui ao cemitério.

Antes, fui tomar café.

De repente, lembrei-me que esquecera de pôr dinheiro na carteira.

Fui ver os trocos no porta-moedas.

Tinha 2,59€, chegava para o café e comprar os três círios para as campas dos meus familiares.

Depois de tomar o café, deixei-me estar sossegada num canto a ler alguns blogs.

Fui pagar o café, dei 1€, tive troco de 0,20€. O café está mais caro 0,10€.

Os círios custam 0,60€ cada, pelo que faltava 0,01€  para os pagar.

Sou cliente da florista há muitos anos, ela sempre me pôs à vontade para me servir do que quiser e se não tiver dinheiro, pago depois.

Quando cheguei lá, a jovem mulher, que tem um namorado cigano e está sempre com ela a vender enquanto ela faz arranjos, chamou-o para me atender.

De imediato disse que queria três círios, mas faltava 0,01€, que me esquecera do dinheiro.

Ela perguntou se eu precisava, que me emprestava.

Agradeci, e respondi que não.

Ele pegou nos círios, meteu-os num saco de plástico, e estendeu o braço para um vaso com rosas, tirou uma e ofereceu-ma.

"Oh! Obrigada!", disse eu.

Entreguei o dinheiro contando as moedas todas e comentei com ela, a jovem mulher, " fico a dever um cêntimo e ainda levo uma rosa. Muito obrigada".

O cigano tem uns olhos azuis lindíssimos.

Ele fala muito pouco, parece ser muito tímido.

Também me parece ser educado.

A jovem mulher  deixou-me triste quando, há algumas semanas, ouvi ela mandar a mãe calar-se e tratar de trabalhar, estava lá para isso.

E a loja é da mãe.

Soube que estavam zangadas (foi a mãe que me contou), e andavam em tribunal.

O que o tribunal decidiu, não sei. Provavelmente, a filha  teve que a aceitar, mas quem orienta o negócio é ela.

Esta tem dias que é uma simpatia, outros que não fala para ninguém.

Pensei em mudar de florista mas decidi continuar, uma vez que sempre confiei em mãe e filha.

Mas não gostei nada do que vi e ouvi.

Hoje, a mãe não estava.

O cigano foi um amor, ela foi simpática, e eu tive uma rosa que coloquei na lápide da minha irmã.

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coisas do meu dia

em Janeiro, já se previa o confinamento, fora ao cemitério pôr flores decorativas, não plásticas,que tinha em casa.

ontem, com o primeiro dia do desconfinamento para as creches e escola do 1º ciclo, pensei que talvez o cemitério estivesse aberto, fui ver ao google, e sim,confirmava.

quando lá cheguei, as flores estavam intactas, não desbotara a cor

mas este post é para contar o seguinte:

estava na campa dos meus avós, mais à frente, umas mulheres de etnia cigana limpavam a campa dos seus familiares, comentavam que o cemitério não devia ter fechado, e tal.

estava eu a encher o balde com água, reparei que as duas mais velhas estavam à procura de alguma coisa no caixote do lixo.

ouvi-as comentar qualquer coisa, mas  não liguei.

 voltararam à campa, até que a mais velha  diz-me que a neta perdera o telemóvel e que teria sido ali pela beira da torneira, assim como dez euros que ela os vira e apanhara, mas o telemóvel não.

eu comentei que se alguém levasse o telemóvel também levava o dinheiro, que procurasse melhor ou que perguntasse  se ela teria deixadoi o telemóvel em casa ou no carro.

ela respondeu que a neta tinha a certeza que o trouxera, e comentou que ela viera de táxi.

decidi ajudar a mulher perguntei se sabia o número de cor que ligava, talvez o taxista desse pelo telemóvel e atendesse.

mas ninguém atendeu

ela agradeceu, desejou-me muita saúde, e foi para junto dos familiares.

de repente, ela aproximou-se e pediu-me se lhe fazia um favor

resposta afirmativa minha, pediu-me  que fizesse uma chamada, que a pagava

deu-me um número, alguém atendeu, pergunto se era para falar com ela

respondeu que sim, passei-lhe o telemóvel para a mão.

falou algo que não percebi nada, não demorou mais de trinta segundos, entregou-me o telemóvel e agradeceu.

fui às outras campas dos meus familiares e ,quando estava de saída, passei perto,vi -a e perguntei se sabia alguma coisa do telemóvel.

respondeu-me:"o telemóvel apareceu, está na florista".

dei o bom.dia e saí.

na ida à campa dosmeus familiares, e para prevenção, guardei os dois números para onde ela tinha ligado:
1º "cigana do cemitério que perdeu o telemóvel

2º  " chamada  que a cigana fez"

e porque guardei estes números?
porque se me ligassem,sabia com quem estava a falar.

apagá-los-ei mais para a frente.

 

 

 

 

as filas não são só para o supermercado

... infelizmente por nossa  culpa..

Em Março,quando o pai da minha amiga M faleceu ( doença não covid), o panorama na entrada do cemitério era este:

A minha homenagem foi o meu silêncio dentro do carro.

Depois do cortejo fúnebre passar o portão do cemitério, foi fechado.

Quatro homens estavam cá fora com máscaras nas mãos, presumi que haveria outro funeral.

E nesse curto espaço de tempo que estive no carro,chegaram quatro carros fúnebres. Esperavam a sua vez para entrar.

Um entrou, sem ninguém para a cerimónia,os outros ficaram à espera.

Só quando saíu o grupo do funeral do pai da minha amiga, entraram os outros carros, em que estavam apenas duas pessoas a acompanhar.

E foi então percebi e senti a dor das imagens que vira nas notícias ( deixei de ver) dos funerais  das vítimas do Coronavírus.

Dez meses depois, o panorama é este:

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(imagem que fui buscar ao blog do último)

 

 

 

de novo na caixa do supermercado

Na próxima semana, o cemitério de Braga vai limitar o número (250) de pessoas que vão limpar  as campas dos seus familiares.

Ora pensando  eu que já na próxima semana vai haver um número substancial de pessoas que vão querer antecipadamente fazer esse  trabalho, decidida a ir na segunda de manhã cedo, pensei melhor, e fui hoje.

Ontem, no supermercado, tinha visto uns vasos com flores, que aguentam a semana e os Santos, lembrei-me de comprar dois e deixá-los hoje.

Além dos vasos, escondido no meio dos ramos de flores estava um de pequenas margaridas brancas. Adorei as flores, trouxe-o.

Fui para a caixa fazer o pagamento ( a funcionária não me deixou colocar as coisas no tapete sem antes o desinfectar, gesto que raramente vejo nos outros supermercados e mesmo no hipermercado) estava a tirar o cartão, pergunta-me: "

- Não quer comprar uma lotaria de Natal?

Fiquei a olhar para ela e comentei:

- Então também vendem lotaria? Eu até costumo comprar,mas ainda não me tinha lembrado que estivesse já à venda.

Está bem, levo uma.

E a funcionária ficou contente por vender a cautela. E depois de lhe dizer que a factura é digital, diz-me:

- Não queira digital. Leve em papel porque se lhe sair alguma coisa, tem a prova de que comprou aqui.

E é isto.

Agora até no supermercado se vende lotaria.

Quando tal, chegam as raspadinhas.

Fui ao cemitério, lavei as campas, pus os vasos com as flores, as margaridas na jarreira.

Os vasos de plástico eram fracos, passei numa loja de plantas ( vira uns modelos giros e baratos, a semana passada, quando comprei uns vazinhos de amores para nos vasos da varanda), comprei dois em preto.

Depois do almoço,voltei ao cemitério.

Isto para vos dizer que, quer de manhã, quer de tarde, muitas pessoas fizeram o mesmo que eu.

Foram lá hoje.

E encontrei a minha amiga N.

 

continuo por casa

saio para ir às compras,ou para ir ver o meu sobrinho neto, que vive a  poucos metros de minha casa, percebo, nestes pequenos percursos, que  muitas pessoas arranjam pretexto para sair de casa,. 

pois hoje, queria ir ao mercado municipal, que ainda funciona provisoriamente perto da Câmara Municipal, estava indecisa, ainda não me sinto à vontade para enfrentar as pessoas. e não fui.

depois, pensei ir ao cemitério, a pé, mas com o vai, não vai ao mercado, já não era muito cedo, e tendo em vista que o horário do cemitério, com esta situação do coronavírus, fecha às 12h30, tinha de me despachar, resolvi ir de carro .

comprei flores, não havia círios, não tinha troco para pagar,  assim como a florista também estava sem moedas, fui  ver o que tinha, faltavam cinquenta cêntimos, deixei as moedas todas, e sendo cliente há anos, " paga para a próxima" disse.

saía do cemitério, em direcção ao meu carro, estava perto deste um homem, que supus ser imigrante de leste,  que mandava umas bocas às mulheres que passavam, tipo" boa mulher!". não dei importância. mas quando me aproximei para pôr as coisas na mala, diz ele:  "há muitas mulheres boas por aqui".

continuei na minha, e quando abri porta, diz ele" dê-me alguma coisa"

respondi que não tinha moedas,insistiu, disse-lhe que não tinha nada, que ficara a dever dinheiro na florista. ele deixou-me em paz.

mas neste entretanto, fui absorvida por uma voz feminina que falava muito alto, dizia palavrões, insultando quem estava com ela.

como é óbvio, a tendência é para olhar para a pessoa. a mulher estava acompanhada de dois homens, saíam do cemitério, os palavrões eram dirigidos ao homem mais novo. este, mais à frente. parecia querer fugir,com vergonha, dos olhares de quem a observava. 

pelo teor da conversa, presumi que algum familiar teria falecido, falariam de interesse/ herança?, porque ela dizia, com palavrões pelo meio, que ele só queria dinheiro, e ele resmungava com ela, que não. e ela dominava a conversa com insultos.

esta gente parecia ser pessoas de classe média baixa ( com um bom carro), mas a linguagem dela deixou muito a desejar, não só porque estava na rua e havia pessoas por perto, mas sobretudo porque estava a sair de um lugar sagrado, de culto, de respeito.

e eu não atino com estas discussões nestes lugares.

no percurso para casa, verifiquei que são muitas, mas muitas, as pessoas que andam na rua como se o coronavírus fosse algo que acontecesse lá longe... algumas com máscaras, outras não.

e eu continuo em casa. mas tenciono ir ver o meu sobrinho neto que esteve com os primos, na praia, chegou hoje de manhã.

 

 

 

 

no cemitério

Não chovia quando saí de casa para ir ao cemitério fazer aquelas limpezas mais profundas às campas dos meus familiares.

No cemitério há armários em todos os sectores, com regadores azuis e vassouras para as pessoas servirem-se e colocá-los no lugar depois de os usarem, o que faço  sempre que lá vou.

Ora,  hoje, calculei que estariam muitas pessoas nas limpezas, levei um balde azul e uma vassoura. 

Lavada a dos meus avós ( onde está o meu irmão mais velho, muito querido que foi deles) fui para a dos meus pais e irmã mais velha.

Numa das vezes que fui buscar água, estavam duas senhoras junto à torneira, apontando para o meu balde diz-me uma delas:

- Dê-me esse.

Respondi que era meu e que no cemitério não há baldes, mas regadores, e que estava a precisar dele.

- Ah, tem razão.

Uns minutos depois, estava eu a lavar a campa, aproximam-se uma mãe e filha, páram na campa em frente e diz a mãe para mim, tratando-me por tu:

- Olha, quando acabares dá-me esse balde.

Fiquei parva a olhar para as duas, primeiro porque me tratou por tu e não a conheço, nem ela a mim, tanto quanto eu saiba, de lado nenhum, e porque também ela sabe que no cemitério há regadores e não baldes.

Respondi  que o balde era meu, que se quisesse dava-lhe a vassoura porque tenho várias na garagem, que estava a acabar a limpeza e ia embora, não podia deixar-lhe o balde.

- Ah, desculpa. Vou ver se encontro alguém que me empreste um regador.

Voltei à torneira, enchi o balde, reparei que no armário tinha um regador.

Peguei nele e levei-o para ela.

Numas campas mais à frente, na tentativa de que alguém lhe passasse o regador,  e tratando-a por "senhora", disse-lhe que tinha um para ela e que deixava a vassoura.

Agradeceu e comentou comigo, agora retribuindo a forma de tratamentoque a campa está escura, que mandara aplicar um verniz para proteger da humidade, mas não resultara.

Não suporto esta forma de tratamento de  "tu" que a sociedade  moderna usa como se todos fossemos familiares, colegas, amigos (as).

Sou uma pessoa simples e informal, mas por incrível que pareça, tenho amigas e colegas de trabalho mais jovens que não consigo tratá-las por " tu".

E nada tem a ver com  idade. 

 

a chica-esperta

Das cinco bancadas de flores que há no largo junto ao cemitério há anos que compro na senhora Helena, a florista nos seus 70 anos, que tem a filha a ajudá-la, e  actualmente o companheiro desta.

A minha mãe faria ontem 89 anos, a minha irmã mais velha faria amanhã 67 anos, fui hoje ao cemitério pôr flores e  círios, que faço habitualmente de 15 em 15 dias ou sempre que posso.

Quando cheguei à bancada das flores, uma cadeira com uma caixa de fósforos em cima vedava a passagem para o interior, nenhum dos vendedores por ali, vejo uma senhora  com muito boa aparência, também na casa dos 70, que se aproximou e disse que não estava ninguém mas que tinha flores para vender.

Convicta que estaria a guardar a bancada enquanto os donos não chegavam, apontei para as flores brancas que  queria, perguntei-lhe o preço, ao que me respondeu que não sabia, que estava ali para vender as suas flores, e apontava para um balde, que estava ali sem ninguém saber, que não mexera em nada, e insistia na compra das suas flores.

Respondi que gostava das suas flores para as jarras de casa, não as queria para o cemitério.

Volto à carga pergunto se sabia onde tinha ido a florista, ela pega no seu balde de flores e põe junto às flores brancas repetia que tinha aquelas para vender, pedia-me que comprasse as suas, até que eu digo-lhe exactamente isto:

- Vou levar círios e flores brancas, por favor, quando a senhora chegar diga-lhe que uma cliente serviu-se do que queria e vem pagar quando sair do cemitério. Ela já sabe, sempre me disse que levasse o que quisesse quando não estivesse aqui, ela confia  mim.

E foi então que ela me respondeu:

- E eu sei lá bem dizer quem é a senhora! Ela não me conhece, eu estou aqui para vender as minhas flores. Vá lá, compre, cada ramo custa 1 euro.

Farta de a ouvir, comprei dois ramos de orquídeas.

Insistia para levar um ramo de flores azuis, respondi que não,  que queria as brancas da florista e quando me dirijo ao balcão para pegar nos círios, atrás de mim ouço uma  voz muito indignada que perguntava o que estava ela a fazer ali.

Virei-me e vejo a filha da senhora Helena, e o companheiro, que teriam ido tomar  pequeno-almoço no café que fica do outro lado da praça, com certeza com os olhos postos no estaminé, ter-se-iam apercebido da cena, vieram em defesa do que lhes pertence.

Eu pedi desculpa, disse que pensava que a senhora estaria ali a tomar conta da bancada, que ela insistira comigo para comprar as suas flores, que não sabia quem era aquela senhora.

Educadamente a florista mandou a senhora sair dali, que não tinha nada que invadir um espaço que não lhe pertence, que se queria vender as suas flores que o fizesse longe da sua bancada, que a senhora era uma atrevida.

E a senhora das flores justificava-se que não estava ali para tirar nada, que vira que não estava ninguém, decidira vender as suas flores  a quem se aproximasse, e que não fez nada de mais.

A estas palavras, a florista exalta-se, repete que ela é uma atrevida, que invadiu o seu espaço, que saia dali para fora,  que não volte a aparecer à sua frente.

Fiquei palerma com tudo isto que nem a vi pegar nas suas coisas e desaparecer.

Comentei com a florista que se ela não tivesse aparecido ia servir-me, a mãe sempre me pusera à vontade, que sabia que eu pagaria na volta. Comprei as flores brancas e os círios.

A cena acabou, mas fiquei com aquela imagem da senhora, nos seus 70 anos, de boa aparência, uma atrevida que não respeitou o lugar de quem ali trabalha, e que mostrou ser mais uma chica-esperta das muitas e muitos que proliferam neste país.

 

 

do meu dia

Tenho andado muito calma nas tarefas do meu dia-a-dia, faço as coisas com tempo, ou se deixo algo por fazer não fico stressada, desligo o computador para que não me distraia a ler blogs ( a minha perdição) e me esqueça do que ficou em suspenso, enfim, gosto deste momento que passo e espero continuar por muito mais tempo.

Ontem de manhã, depois do ginásio, fui à florista comprar um ramo, pequeno e simples, para a campa dos meus pais e irmã mais velha.

Seguiria de imediato para o cemitério, queria fazer uma pequena limpeza ( que é feita sempre que lá vou ) evitaria a confusão de hoje. A hora do almoço é a ideal, fiz o que tinha previsto fazer.

Tinha em casa dois vasos com crisântemos que deixara propositadamente para hoje, visto que faltava limpar a campa dos meus avós e meu irmão mais velho e queria comprar flores para o caso de ser preciso compor uma das campas.

Fui de manhã à feira de flores na Praça do Município, viria a casa fazer uns arranjos e seguiria a pé, porque no dia de hoje é impensável levar o carro para o cemitério... E queria fazer tudo de manhã.

Tudo  pronto: dois vasos de crisântemos, um arranjo, um ramo de flores, uma garrafa de água para regar as flores, tesoura.

Meti-me então a fazer o percurso a pé, cerca de 20 minutos. O peso ainda era substancial, pensei  levar o carro, mas não, perderia mais tempo a encontrar estacionamento. Troca o saco mais pesado ora para uma mão, ora para a outra, equilibrava o cansaço, cheguei rápido e bem.

Pus os vasos nas respectivas campas, segui para a do meu cunhado. Ontem verificara que as flores colocadas no Domingo estavam a murchar, não aguentariam muitos dias. Tirei-as, arranjei a floreira com o ramo que comprara na feira.O vaso coloquei-o aos pés da campa, pensei que quem lá fosse com certeza que o deitaria ao lixo, mas não me competia a mim fazê-lo, não fora eu que o pusera lá.

Sobejou o arranjo pequeno, passei na campa da mãe da minha amiga N, deixei-o lá. 

A fome apertava, 2h da tarde, não estava com vontade de cozinhar, passei no restaurante junto à padaria onde compro o pão, trouxe arroz de pato. 

Precisava de tirar umas fotocópias, de passar no estúdio fotográfico e fazer umas fotografias dos meus sobrinhos netos que nasceram recentemente, saí e... estúdio fechado!

Passo quase diariamente na sapataria Calçado Guimarães, não costumo entrar, não me desperta grande atenção, nunca comprei nada, embora já tivesse ouvido comentários de terem bom calçado.

Entrei. Percorri as prateleiras, vi botins que gostei mas que não me interessavam pelas cores, que já tenho,  fui às botas de cano alto, há 2 anos que procuro em pele, cor camel, e não encontro.  Não tinha nem gostei de nada do que vi.

Já de saída, reparo noutra prateleira com botins da salto baixo e em camurça. A cor vermelho, chamou-me a atenção.

Procuro o número, pego na caixa, perguntei à funcionária se não havia a mesma cor mas com o salto mais alto. Não, não havia.

Calcei. Gostei. Paguei... e trouxe um spray para aplicar e que protege a camurça.

Regressei a casa deixando para 5ª feira as fotocópias e as fotografias, sentei-me a ler enquanto tinha luz do dia ( esta mudança da hora não devia ter acontecido). 

É noite de Halloween, há 2 ou 3 anos que o grupo costuma jantar em São Pedro de Este, não recebi qualquer chamada nem SMS, presumo que este ano decidiram ficar por casa.

 

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