Dia Internacional do Brincar
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continuo a bater na mesma tecla de que as crianças são as que mais saem prejudicadas deste confinamento.
O meu sobrinho neto é uma criança de rotinas. Desde bebé.
No colégio, tem actividades de música e ginástica, almoça pelas 11h30, 12h00, depois tem a sesta.
À tarde terá outras acividades lúdicas, a partir das 16h00 brinca com os colegas e as auxiliares.
Costumo ir buscá-lo pelas 17h00, damos um passeio pelo centro da cidade, ou trago-o para minha casa, brincamos os dois, a mãe vem ter connosco depois do teletrabalho ( desde Março de 2020 que assim é).
Se no primeiro confinamento foi complicado gerir o tempo do teletrabalho com a criança, e eu tive de gerir o meu para dar apoio à mãe, cuidando menino, este confinamente tem sido mais difícil para nós.
Umas vezes, vou para casa dela, brinco com o miúdo, ora no quarto dele, ora na sala onde a mãe trabalha. E lá estou eu a ouvir a conversa com os colegas de equipa, as reuniões, e a criança ouve a mãe a falar e tenta chamar a atenção para si.Ou pega nos carrinhos e vai brincar com eles na mesa onde a mãe trabalha.
E vou eu buscá-lo, ou chamo-o, para brincarmos, jogarmos à bola ( que ele adora),mas nem sempre está para me aturar.
E ontem foi um dia complicado. O tempo estava de chuva, não deu para sair com ele, andar no triciclo, desviá-lo da atenção que requer da mãe.
Então, fez de tudo o que uma criança faz quando está farta de estar em casa, de brincar com os brinquedos. E ele é criança para estar bastante tempo com os carrinhos, sem incomodar ninguém.
Depois, tem a televisão, que ajuda a entreter, mas cansa, também.
E tem as almofadas do sofá, que as atira para o chão, deita-se em cima delas, ou então sobe para o sofá e faz as piruetas inimagináveis para uma criança de três anos, desafiando-se e a quem está por perto.Ele é um menino de desafios. Gosta de fazer o mais difícil. Gosta mais disso de que fazer certas actividades, como desenhos.
Mas é uma criança tranquila, e meiga, e tem as suas horas de dormir.
Ontem, fartou-se de fazer corridas no corredor da casa, com o carrinho de brinquedos do Ikea. Primeiro com os brinquedos que lá estavam, depois sem nada. E ria-se, e dava o sinal de partida, emtrei na brincadeira dizendo: um,dois, treês. E advertindo-o para correr com calma.
Quando acaba o teletrabalho, a mãe dedica o tempo que tem até à hora do banho dele, e de jantar, para brincar ou fazer actividades com cartolina, ou desenhos, ou jogos.
Com aquela brincadeira da criança, que estava excitada de tanto correr, a mãe comentou comigo que à noite com certeza que ia cair na cama de sono com tanta brincadeira.
Por volta das 22h00, a mãe ligou-me , desesperada, porque o miúdo, que vai dormir por volta das 20h30, não adormecia. E que, de cada vez que ia ao quarto, e tentava adormecê-lo ( e ele é uma criança que se deita e adormece logo), e pensando que estava a dormir, ia para a sala porque queria trabalhar um pouco, ele acordava e choramingava, ou aparecia na sala a choramingar.
E isto aconteceu várias vezes, e no preciso momento que ela falava comigo.
E ela desabafava que já estava farta de confinamento, que isto é muito mau para as crianças, que só tem um e é complicado, quanto mais quem tem dois ou mais filhos, está em teletrabalho, e ainda tem de os ajudar nas aulas online.
E eu muito calada. Não sabia o que dizer, sinceramente. E ela sabe que estou do seu lado.
A minha sobrinha é grata pelo que lhe faço, eu sei. Mas há horas que são dela, outras que são minhas, e eu também fico cansada disto tudo.
Se todos pensassemos que temos de ser uns para os outros e se cumprissemos, o mínimo, as regras de higiene , a distância de segurança durante esta pandemia, certamente, não estaríamos tanto tempo confinados.
Quero ter esperança de que dentro de um mês estejamos a desconfinar, mesmo que faseado, e que os primeiros a saírem deste "buraco" sejam as crianças.
A ML, deixou-me a pensar por muito tempo com o comentário que escreveu neste post : "Não percebe e está a perder um ano da sua infância".