Quando o mar se revolta
Toda a minha infância e adolescência e até aos 24 anos, passei as minha férias em Apúlia.
Famílias completas juntavam-se, lado a lado nas barracas, em pleno convívo.
Foram muitos os momentos de alegria, diversão, brincadeiras, amores de praia, que tivemos. As noites eram de serenatas, cantares e danças/bailes.
Por vezes, e quando as nortadas não nos pregavam partidas e a maré estava vaza, íamos pela praia até Ofir.Um extenso areal ligava estas duas localidades. As única rochas que se viam estavam no mar...
Risotas, jogo de bola, corrida, brincadeira, eram o nosso divertimento,enquanto fazíamo o percurso.
O regresso era feito pelo pinhal.
Belos tempos...
Lembro-me que nos anos 80 já se falava que o mar estava a subir o nível e mais 20/30 anos não teríamos praia.
Os filhos cresceram, formaram-se, fizeram as suas vidas e as famílias habituais deixaram de ir para Apúlia.
Os meus pais passaram a ir para o Algarve com os meus irmãos mais novos.
Eu fazia as minhas visitas à praia, até que comecei a fazer fins-de-semana em Ofir e/ou Esposende.
Nas manhãs de setembro, enquanto as aulas não começavam, levava os meus sobrinhos à praia.
Nessa altura, ainda havia uma extensão razoável de areal.
De há 12 anos a esta data, as rochas eram mais evidentes o areal menor. Em alguns lugares já nem espaço havia para as barracas.
Cada ano que passa é notório que estas praias estão mais pequenas.
E os anos voam, o mar revolta-se e encarrega-se de nos tirar a praia que tanto gostamos.
Após a tempestade de janeiro, fui vero mar. Calmo, nesse dia, via-se os estragos que ele fez, o lixo que trouxera, o areal mais pequeno.
O tempo continua chuvoso, não voltei lá. Mas vejo as notícias.
Hoje, no FB, no mural de uma jovem que habitualmente pedala até à praia, vi esta foto, com este comentário: "RIP, OFIR".
Fiquei triste.
(minha foto de janeiro)
foto do FB (fevereiro)