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cantinho da casa

cantinho da casa

As mulheres que somos

Mulher empoderada é um frase que nada me diz. É uma modernice, apenas.

Somos mulheres todos os dias, no emprego, em casa, na diversão,na educação, entre amigas, na família, no ginásio ( hoje "perdi-me" numa longa conversa, a primeira vez, com uma senhora venezuelana que deve achar que eu inspiro confiança, ou talvez porque seja a única pessoa que falou com ela.Não o sei).

Partilhamos algumas pequenas histórias da nossa vida, da política actual, da imigração, da situação mundial, do futuro.E de Portugal a partir do dia 10 de Março.

Este dia, que está a ser de muita chuva e não fiz o que tencionava fazer: pôr flores nas campas dos meus familiares,  lembrei-me de escolher algumas fotografias daquelas que são as mulheres que somos: as da família e amigas mais próximas de mim.

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a minha irmã e a filha, Sofia

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as irmãs e minhas sobrinhas

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as minhas amigas mais chegadas

 

E das outras mulheres que, em casa, cultivam o seu terreno e fazem a sua profissão: vender no mercado os legumes, as  frutas, as flores.

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Estão algumas das mulheres a quem compro habitualmente.

Com elas partilho algumas coisinhas da minha alimentação; partilho os sacos de plásticos que não vão para a reciclagem, mas para as compras de mercado; como faço para congelar os legumes; ralho os preços que estão caros, e por brincadeira ( acho que não devo porque trabalhar no campo tem o seu esforço, e gastos, não são 5 ou 10 cêntimos a mais que me vão impedir de  comprar. Mas há quem o faça ); dizem-me como aproveitar os talos dos legumes, ou outras dicas, e que eu agradeço.

Para elas um merecido destaque no instagram em  @praca_mercadombraga

Feliz Dia da Mulher.

 

do meu fim de semana

Com os bilhetes para o Altice Forum Braga para este  espectáculo, reservara mesa para quatro  pessoas, neste restaurante (as opiniões são favoráveis)  quem me atendeu pediu que fosse para as 20:00h, avisei as outras "miúdas".

Comecei a manhã com uma aula de Yoga,  de tarde estive por casa a arrumar umas coisas, ao final da tarde fui ver a aula de natação do meu sobrinho neto, quase a fazer 2  anos, a aula acabava às 19:00h, ficara por pouco tempo... E que feliz estava ele, com a mãe, a brincar na água, ora com o esparguete, ora com o colchão, ora a bater com as pernas!

Quando me apercebi que depois de sair da piscina a mãe tinha de dar banho ao miúdo, tomar o dela , vesti-lo, vestir-se, não era fácil fazê-lo sozinha, deixei-me ficar para a ajudar.

Tratei dele, passei a toalha pelo corpinho fofo, levei-o para a bancada onde estão os secadores de cabelo, sequei-o. 

A mãe já se encontrava no balneário, ajudei-a a vestir o menino. Pronto ficou, saí do balneário, sentei o miúdo no banco e dei-lhe umas bolachas e um sumo.

Quando saímos do edifício, o relógio marcava 19:30h, tinha uma amiga à porta de casa à minha espera, eu deixara o telemóvel em casa a carregar a bateria.

Eles seguiram para casa do avô, que fazia anos, eu ainda tinha de andar 10 minutos a pé.

Vivo perto do Forum, mas lembrei-me que havia festa depois da actuação dos cantores convidados, eu queria dançar, sair do Forum às 3:00h, ou mais, e regressar a casa a pé com uma das amigas que vive longe, decidi levar o carro e estacioná-lo ( a hora não era a de maior movimento) num parque em frente ao restaurante.

E ainda bem que o fiz.

Às 20.15h entrávamos no restaurante. Faltavam mais duas pessoas, ligámos a avisá-las que chegáramos, esperávamos por elas.

Uma delas, que também vive perto do Forum, chegou um pouco depois, mas a outra ( minha irmã mais nova), que ficara de aparecer em minha casa, não conseguiu aparecer a horas, levava o seu carro e iria ter connosco.

Mas os minutos passavam, ela não chegava, liga, uma, liga duas, liga muitas vezes, ora não atendia, ora quando atendia dizia que andava à procura de estacionamento.

Entretanto, os empregados andavam de um lado para outro a atender os clientes, a nossa mesa ficava em frente ao balcão, ignoravam-nos, até que pedi que viessem atender-nos.

Pedimos para nós as três, avisamos que viria um terceira pessoa, depois pediria o prato.

Como estavamos numa pizzaria, e tendo chegado a horas, e com reserva de mesa,  deduzimos que o serviço seria rápido.

Passavam os minutos, a comida não vinha para a mesa. Perguntaram-nos se queríamos as bebidas antes de os pratos virem para a mesa, que estavam quase prontos, pedimos que viessem junto.

Às 21:00h veio o prato de bacalhau que a minha amiga pedira. As duas pizzas não vieram, a minha amiga esperava que o empregado as trouxesse, eu aconselhei-a a comer, não devia deixar esfriar o bacalhau.

Passaram mais 10 minutos, insisti que iniciasse a sua refeição.

Chamamos o empregado, ele informou que as pizzas estavam a sair, mas o facto é que sempre que víamos pizzas em cima do balcão o destino delas eram outras mesas.

Entretanto, a minha irmã não chegava, ligamos imensas vezes, o telemóvel estava com problemas, nem sempre conseguíamos falar com ela, até que liga-nos e pede por favor que peçamos qualquer coisa para ela, estava a morrer de fome.

As nossas pizzas ainda não tinham chegadao, pedimos uma para ela, questinamos o empregado sobre a demora das nossas " Temos a casa cheia, não esperávamos, o serviço está atrasado".

Às 21:30h vieram as duas, e grandes, pizzas. E a minha irmã, finalmente (com 1:30h de atraso), chegou.

Foi comendo das nossas pizzas, quando eu já estava satisfeita ( comi 4 fatias), passei o meu prato para a sua frente e disse-lhe que fosse comendo, quando viesse a pizza dela ( se viesse), levaria-a para casa, comia-a no domingo.

A pizza foi posta à sua frente 15 minutos depois de chegar. Comeu duas fatias.

O empregado levantou os pratos das pessoas que tinham acabado a sua refeição, e foi então que reclamamos o serviço:

porque reservamos mesa e pediram-nos que fossemos para as 20:00h, que passavam junto à nossa mesa não traziam a lista, que as pizzas deviam ter vindo junto com o prato de bacalhau, que o serviço era muito fraco. 

O empregado não sabia o que fazer, pedia desculpa.

Saímos do restaurante às 22:30h. 

No Forum ainda tirámos umas fotos na passadeira vermelha ( red carpet), os La Frontera já tocavam ( um pouco aos "berros") as melhores canções foram as últimas.

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Seguiu-se Cock Robin, algumas músicas que não conhecia, muito aplaudido, cantou algumas das canções que nos fizeram cantar junto com ele.

À meia-noite, entraram em palco os Boney M. Foi a loucura total.

Cantou-se, dançou-se, aplaudiu-se... e Liz Mitchell dizia a cada intervalo de canção:  "We love you".

E se pudessem ter ficado a noite toda, não nos cansávamos de aplaudir, de cantar, de dançar.

Depois, veio a Festa.

Dois DJ's puseram o pessoal a dançar, a saltar, a cantar tudo o que era música dos anos 70 e 80, não só estrangeira, como portuguesa : Doce, Carlos Paião, Xutos e Pontapés, António Variações, Da Vinci,  Hermam José, José Cid, enfim, as que nos aminaram e deixaram-nos esquecer o trabalho, as preocupações, o cansaço.

Dançámos muito.

Saímos do Forum por volta das 03:45h. Levei-as a casa.

Às 04:30h cheguei à minha, ainda trocámos umas mensagens no whatsapp sobre esta divertidíssima noite ( refiro que estavam muitos jovens mas a maioria do público era maduro), deitei-me às 05:h00. Mas o sono, malandro, não quis nada comigo.

Os comentários?

Adorei, é para repetir, precisamos de mais, a vida não é só trabalho...

Em Dezembro há outro espectáculo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

o pito

Eu não costumo escrever posts jocosos, mas este anda-me entalado de me rir sempre que me lembro dele,  desde o fim de semana passado : "escrevo, não escrevo... é hoje!", pensei.

Meados do passado que uma amiga dizia-me que um dia que a mãe tivesse um pito bom convidava-nos ( eu e amigas) para um jantar.

Ria-me sempre que falava do pito, ela ria-se, também, eu não dava grande importância nem contava às outras amigas que ela tencionava fazer um jantar em sua casa.

Ora, em Setembro transacto, passei pelo trabalho dela, precisava que me esclarecesse um assunto, falou-me, de novo, no pito: "Ah, a minha mãe diz que o pito dela ainda não está crescido suficiente para fazer o arroz..."

Eu ri-me  e respondi que não tinha de se preocupar com isso, que o  jantar seria quando ela entendesse. 

Finais de Novembro, um sábado final de tarde, encontramos o casal com a família dele que também se cruzaram e por ali ficaram a conversar.

Fala-se de filhos, dos tempos que íamos para a night, os namorados que tivémos, do casamentos das amigas, o da minha irmã, os namoros dos filhos, enfim. O marido desliga-se da nossa conversa, virou-se para outro lado da conversa que decorria entre os outros familiares.

Cerca de uma hora depois de tanta treta, e quando estavamos a despedir-nos, diz ela: " A minha mãe diz que o pito dela está quase a atingir o peso ideal para fazermos o nosso jantar. Estai atentas que lá para Janeiro temos pito!"

Fartámo-nos de rir.

Nos 50 anos da nossa amiga Xana, confirmou que seria já este mês o nosso jantar.

Como em tempos fiquei sem o número dela e nunca tive o dele, Domingo, 10h, todas recebemos uma SMS. Não reconheci o número mas pelo texto, desatei a rir: " Bom dia. Jantar do pito sexta-feira, 12.  Beijinhos,  C e M"

Óbvio que respondi de imediato " Bom dia. Ahahaha! Se não se identificassem, não sabia de quem era o pito. Levo vinho. Beijinhos".

E amanhã quatro mulheres vão  sentar-se à roda da mesa, com o casal, mais as duas filhas,  para o jantar de arroz de pito.

E eu adoro demais arroz de pito. Mais do arroz que do pito.

 

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um jantar de amigas

Há anos que o grupo das amigas da discoteca e das noitadas não se juntava para um jantar de Natal.

E quem teve a ideia?

Eu, claro.

A vida é curta, vejo os anos passarem com rapidez.

Tanta mulher! Uma viúva, outras casadas, solteiras, divorciadas, os filhos crescidos, alguns formados, outros ainda a estudar, já não precisam dos pais perto de si.

Precisamos de rir, de conversar, de recordar os belos tempos, e como muito bem a L escreveu no e-mail que me enviou ontem, e que transcrevo:

" Olá, amigas dos "tempos com tempo" no Penico, Ragu, Bracara, 84, Mordillo, Indústria, Luziamar and so on...
A Bé reservou o jantar, no Caldo Entornado, para as 20h30 de amanhã, sexta-feira.
Por acaso, só por acaso, a nossa amiga Bé estava a contar aparecer, no jantar, só no sábado;))

Beijinhos.
 
Três já tinham jantar combinado, mesmo assim, consegui juntar onze.
Vai saber tão bem este jantar!
 
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antes das férias

para as bandas de Vieira do Minho, onde estive há 4 anos, tivemos o nosso encontro de amigas de trabalho.

Um almoço descontraído com entradas de queijos, pão e azeitonas, sangria e limonada.

O arroz de pato bravo, estava seco, delicioso.

As sobremesas constavam de pavlova, tarte de amêndoa, mousse de manga, pudim, fidalguinhos da Doçaria de S. Vicente e salada de frutas.

Um dia sereno e bem passado.

Não me importava de ter esta casa, mais perto da cidade.

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O beagle que há 4 anos corria e saltava, está agora mais sossegado, mais velhinho, quer meiguices . 

 

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quinta-feira quente

planeara ir à praia, tive de os alterar, fui  PVL ao funeral da esposa de um colega.

A minha amiga, tem casa lá, no final íamos regar o jardim e as árvores de fruto.

Levei um vestido de praia para mudar quando chegasse a casa dela.

Andamos a regar as árvores, ela para um lado eu no oposto, passamos um resto de tarde tranquilo.

Trouxe amoras, laranjas e limões. Um bom pomar que ela preza, aproveita todos os bocados de tempo que tem para cuidar dele.

Amanhã  tem um passeio com os alunos, convidou-me para lhes fazer companhia ( já não é a primeira vez). Ligou ao colega, e nosso amigo, responsável pelo passeio, lá vamos nós para  o Parque Aquático de Vila Real .

Pensara ir à praia.

Por esta amiga faço tudo. Alterei os planos.

Vila Real! Se cá é um forno, lá é pior.

Entretanto, as fotos do pedaço de tarde que passamos a regar e a conversar.

 

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francesinha

o prato que evito comer e não aprecio.

Há muito tempo que não como, é uma bomba de calorias.

Excepcionalmente, hoje, fui.

Três mulheres, uma das quais não é de cá, adorou o atendimento. 

O jovem da bebidas deu-nos a provar três tipos de cerveja preta.

Eu escolhi uma, mais leve, a amiga de fora escolheu a mais forte. 

Não há estômago que aguente uma francesinha, cada uma de nós comeu meia.

São as melhores francesinhas da cidade, embora, como já referi, não aprecie.

Depois da bomba, e antes de dormir, não pode faltar a chá.

Dentro de 10 horas, estarei a abraçar os amigos bloggers que não vejo há seis meses.

Vai ser um bom revê-los neste 5º Encontro de Bloggers, nesta cidade que deixa sempra a porta aberta a quem quiser entrar.

 

 

 

 

 

um lanche nos jardins

No dia dez de Março,  escrevi neste post isto:

"Despedimo-nos com a minha promessa que vou reunir o grupo de amigas e fazermos uma visita e um lanche nos jardins da casa de saúde."

Atempadamente, contactei algumas das amigas mais chegadas da Alice. Falei-lhes na ideia  que tive de visitarmos a Alice, e fazermos um lanche, no dia que melhor lhes conviesse.

Uma delas, precisava dos fins de semana de Março, andava em mudança de casa, sugeriu o dia 2 de Abril.

Há cerca de dez dias, os contactos voltaram, ficou então confirmado hoje visitarmos a nossa amiga. Combinamos o que cada uma levaria.

Encontramo-nos na Casa de Saúde por volta das 16:10h.

Entrei na recepção, vejo uma delas sentada no sofá. Em frente, estava a Alice rodeada pela família. Dos jardins entram na recepção duas das nossas amigas que chegaram mais cedo, foram à procura da Alice mas desencontraram-se.

A Alice ficou feliz quando nos viu.

Quando a família percebeu que íamos fazer um lanche, super feliz connosco, disseram-lhe: " Vá, vai lanchar com as tuas amigas".

A Alice despediu-se da família. Aproximou-se da mãe e diz-lhe " Mãe, não vais chorar".

Ficamos todas estupefactas com as suas palavras.

Seguimos na direcção do jardim, fomos para uma zona com bancos.

Decidira levar uma toalha bordada pela minha mãe, que seria a mais adequada ao lanche no jardim. Há muitos anos que tenho essa toalha guardada. Não a uso porque tem uns pequenos buracos. A renda original estava rasgada e um dia, não sei há quantos anos, cortei-a e fiz uma igual.

A renda está impecável, a toalha nem por isso, mas adorei levá-la. 

As amigas comentaram: " Trouxeste toalha? Só mesmo tu!"

Croissants, doces miniatura, morangos e sumos de pacote, foi o nosso lanche.

As doentes que por ali andavam, também foram convidadas a escolher o que quisessem.

Gostei do gesto delas: escolheram os doces, agradeceram, e deixaram-nos a conviver.

Uma hora em saudável convívio. A Alice está sorridente, está bem, mas não consegue  acompanhar as nossas conversas.

Faltam-lhe as palavras quando quer dizer alguma coisa.

Há um pormenor que a minha irmã detectou: a Alice sorri como uma criança e quando vê crianças com os pais que vão visitar os familiares, ela aproxima-se delas, fala com elas.

A visita acaba às 17h. Fomos levá-la à sala por volta das 17h20.

A funcionária que estava de serviço, uma jovem negra, bonita e sorridente,abriu a porta. E falava da Alice. Pelo que me pareceu a Alice não causa nenhum problema. Maquilha-se, arranja o cabelo, convive com todas.

Entregamos tudo o que sobrou do lanche para ela partilhar com as colegas.

Para os tempos ivres, uma das nossas amigas ofereceu-lhe um estojo com lápis de cor e desenhos para ela pintar. Eu ofereci-lhe um saco com chocolates miniaturas.

A Alice faz anos em Maio. Pensamos levá-la a almoçar connosco.

Temos de saber se  autorizam.

Espero que sim.

Depois da visita, fomos tomar um café, conversar um pouco. Há muito que não estavamos juntas.

Despedimo-nos com uma grande vontade de sairmos mais vezes.

Cumpri a promessa.

Em breve, voltarei à Alice.

 

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Fui visitar a Alice

Dois meses e meio depois de visitar a Alice, hoje, voltei à Casa de Saúde.

Quando entrei no corredor onde fica a sala da Alice, estavam várias pessoas sentadas num banco, não vi quem eram, dirigi-me à porta quando ouvi uma voz atrás de mim que me chamava.

Olhei para trás e estava ela, sentada nesse banco, com mais duas senhoras.

Fiquei super feliz porque ela viu-me e lembrou-se do meu nome. Da primeira vez ela reconheceu-me mas não conseguiu dizê-lo. 

Uma das senhoras perguntou-lhe quem eu era. Respondeu que era uma prima.

Não me manifestei. Uns minutos mais, a senhora aproveitou  para despedir-se. E foi convicta que eu era prima da Alice.

Fomos dar uma volta pelo pátio.

Muitas famílias visitavam as raparigas e mulheres internadas. A Alice está lá há cinco meses.

Desde que cheguei até me despedir dela, nunca esqueceu o meu nome.

Mas ela não consegue lembrar-se das amigas que a vão visitar e quando vai contar alguma coisa, diz: " já não me lembro".

No nosso passeio pelos jardins, aproximou-se uma senhora. Baixa, curvada, aparentava uns 70 anos.

Abraçou a Alice.

E dizia que gostava muito dela. Abraçava-a e beijava.

E a Alice retribuia-lhe o carinho.

Às tantas, a senhora conta que costuma limpar o chão, sua tarefa diária.

Ao que parece, há umas quantas senhoras internas que fazem limpeza. Recebem um valor em dinheiro ( penso que deve ser uma pequena  retribuição para os pequenos prazeres delas) . 

Queixava-se, então, que não lhe pagaram o serviço. Pagaram às colegas e ela foi fechada numa sala onde lhe foi dito que lhe davam comida, não recebia dinheiro.  E queixava-se que era injusto trabalhar e não lhe pagarem. E que trabalha muito.

Perguntei-lhe o nome.

Alice, também.

E abraçava a minha amiga Alice e dizia: " Eu sou Alice e gosto muito desta Alice".

Depois perguntou-me o nome. Disse que gostava muito da Alice e se eu sou amiga da Alice, também gosta muito de mim.

Decidi pagar-lhes o lanche.

A minha amiga não quis, tinha lanchado com a amiga que a visitara.

A outra Alice disse que não podia ir ao bar, não tinha autorização de lanchar lá.

Perguntei porquê.

É interna desde os 15 anos. Tem agora 60. E estava ansiosa por sair dali. A família deixara-a lá e nunca mais quis saber dela. Não me soube dizer de onde é. Mas que é de muito onge.

Não fiz mais perguntas.

Dizem-me elas para lancharmos no café.

"Café?!" perguntei.

"Sim", responderam as duas.

Seguia-as.

Depois de passarmos a porta que dá acesso a um longo corredor, percebi logo o que era o café.

Duas máquinas, uma de café, outra de chocolates e sandes, era o café de todas as internas.

Ali ninguém controla nada. A outra Alice pode ter o que quiser, desde que tenha dinheiro.

Pedi que escolhesse o que quisesse.

Escolheu um pacote de cookies.

Meti a moeda de 1 euro. O pacote ficou preso.

Umas simpáticas funcionárias passavam perto, comentaram que com um empurrão aquilo caía. E  empurraram à máquina, mas o pacote não cedeu. Teria que pedir na recepção a devolução do dinheiro.

Disse à minha amiga para escolher alguma coisa.

Não queria. Aliás, ela nunca quer nada. 

Sempre foi uma rapariga de trabalho, honesta, humilde, divertida, a Alice.

Introduzo uma moeda de 1 euro e  carrego nas teclas com o mesmo número do pedido da outra Alice. Talvez o pacote preso caísse.

"Que bom", disseram elas. Caíram os dois pacotes.

Um pacote  para cada uma, a outra Alice agradeceu-me, deu-me um beijo e um abraço. Repetiu: " Gosto muito da Alice. Gosto muito de si " e seguiu por onde entraramos.

Eu e a minha amiga fomos corredor fora. Voltamos ao jardim.

A Alice vê a Ana, uma jovem nos 20, que estava com os pais.

Foi ter com ela.

Aproximei-me sem dizer nada. Ela olhava, desconfiada, para mim. E para a Alice, que lhe fazia festas no rosto.

De repente, a mãe fala do cabelo da Ana, que é bonito e muito comprido. Quando a senhora vai à carteira e tira o passe da filha que se via o cabelo mais curto, a Ana levantou-se e diz para a mãe: " Que nojo. Estás a ver porque não queria que guardasses as minhas coisa? Que nojo".

Afastou-se e foi sentar-se na relva de um dos canteiros.

Os pais foram ter com ela.

A Alice diz-me que é melhor irmos embora e seguimos na direcção da sala.

Despedimo-nos com a minha promessa que vou reunir o grupo de amigas e fazermos uma visita e um lanche nos jardins da casa de saúde.

Saí de lá com o coração apertado. Uma mulher cheia de vida, com Alzheimer, parece-me impossível.

Não sei se a Alice virá a sair de lá.