36 anos de 25 de Abril
36 anos, muito aconteceu, pouco mudou no que ao poder diz respeito.
Lembro-me que nesse dia fui para a escola, logo de manhã, aqui bem perto da minha casa, onde vivo actualmente.
Falava-se da queda do governo.
Mandaram-nos para casa.
Rádio a toda a hora, TV também. Ninguém queria acreditar.
Minha mãe estava ansiosa e com medo que as armas disparassem, por cá.
Meu irmão encontrava-se na Guiné, em combate.
Foi um alívio para ela. Vivia em constante ansiedade.
De cada vez que eu ia à caixa do correio, que fica na entrada da porta do prédio, se eu demorasse um pouco mais subir, pensava que havia alguma má notícia. Se houvesse, seria por telegrama, era entregue em mão.
Naquele tempo,escreviam-se aerogramas a via mais simples de os filhos da guerra escreverem à família.
Uma folha de papel fino, amarelo, que era dobrado em três. Escrevia-se o remetente e o destinatário e lá chegava o bendito aerograma.
Gostaria de os ter de recordação, mas não os encontrei. Deduzo que minha mãe teria rasgado quando meu irmão regressou a Portugal.
Hoje comemora-se mais um ano do dia dos cravos.
Tenho grande admiração por todos os homens que foram combatentes de guerra.
Os amigos do meu irmão, amigos meus também, combateram em Angola e Moçambique. Um amigo e funcionário na empresa do meu pai, combateu em Timor. Todos foram separados. Estão por cá, alguns já são avós. Meu irmão, não. Está "lá noutras vidas" , com minha mãe, minha irmã e meu pai.
(imagem da internet)