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cantinho da casa

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O respeito

 

Fui ao cemitério limpar a urna dos meus familiares (não é só em vésperas de finados que o faço) fui comprar círios e flores, pedi um balde emprestado (consegui fazer tudo com a mão esquerda) e no momento que estava a fazer o pagamento, a florista (cerca de 62 anos) levanta a voz "porque a senhora quer estes fetos, mas estes não lhos dou porque são caros, dou-lhe dos outros".

Viro-me para trás e vejo uma senhora idosa, forte, vestida de preto que,com ar arrogante, reclamava o quê?

Segundo a florista me contou, a filha da idosa andara por todas as bancadas à procura de umas flores (não conheço, nem sei o nome) de cor verde, lindas, por sinal, mas muitos caras. Como nesta bancada encontrou as mais bonitas e arranjadas, comprou-as.

A idosa achava que a florista devia oferecer-lhe os fetos "x" e que ela era cliente, e que a florista tinha obrigação de lhe oferecer o que ela queria. 

A florista dizia-lhe que não lhe dava esses, mas outros mais baratos, porque também  tinha de pagar ao fornecedor e a vida dela não é fácil, por isso, dava-lhe os outros.

A senhora não tem mais nada: tira o dinheiro, paga as flores ao mesmo tempo que diz para a florista: "A senhora é uma ladra!"

Palavra que esta disse, e espanto meu que nem queria acreditar no que ouvira: "Ladra, eu? A filha da senhora andou aqui e acolá a ver as flores, veio à minha banca porque disse que as minhas eram as mais bonitos e chama-me ladra só porque não lhe ofereço os fetos mais caros? Se a senhora quer os fetos leva os que lhe ofereço, ou então não lhe dou nada!"

E a idosa continuava a reclamar e volta à carga: "a senhora é sim, uma ladra".

A filha da idosa aproxima-se, conversa com a mãe, baixinho, vira-se para a florista e diz "então a senhora não dá os fetos à minha mãe?"

A florista contou o que acontecera e que a mãe a insultara de ladra. E a filha em defesa da mãe, responde: "a senhora é uma ladra, sim!"

E foi então que a filha da florista, que fazia os ramos e mantivera-se calada, reagiu também. Vai em defesa da mãe e atiram-se às outras duas...

E eu nem queria acreditar no que ouvia e via.

Tentei acalmar os ânimos, disse à florista para não lhe responder, não se sabe o que estas pessoas podem fazer, "deixe lá", dizia eu, ao mesmo tempo que a filha desta dizia aos berros,e para arrumar com a discussão: "Mãe, esquece. Acaba com a conversa. Deixa-as ir. Cliente destas não queremos aqui. Mãe, pára de barafustar"

E a florista reclamava "Olhe que isto é um caso de políca. Chamar-me ladra! A senhora não entende que não posso dar-lhe o que quer? Ladra, eu?"

E a idosa, de bengala, e ajudada pela filha, vão para o carro. Entretanto, dois homens também de idade avançada,sentados num banco em frente à bancada, levantam-se, acompanham a senhora e a filha, entram no carro e vão embora.

Os dois homens assistiram a tudo e não intervieram. Provavelmente, já conhecem as peças (coisas minhas).

No final, comentei com a florista: "Há idosos que pensam que porque são mais velhos têm direito a benesses e abusam dos mais novos. Neste caso, não teve respeito por si. Não se incomode, está um dia bonito, esqueça o assunto".

E fui à minha vida. Quando regressei para lhes entregar o balde, elas estavam mais calmas.

É um facto que constato: os idosos merecem todo o respeito, mas muitos não têm o direito de fazerem o que lhes apetece, só porque são idosos.

 

 

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