fui à procura dos farricocos
mas não os encontrei.
Em tempos, neste dia, quinta-feira santa, andavam descalços pelas ruas da cidade a agitar as matracas. Dava-me gozo ouvir aquele ruidoso som.
Passei pela Sé, os padres em fila, seguido em último pelo arcebispo, entravam na catedral cheia de pessoas para verem a cerimónia do lava-pés.
Hoje vou à procissão "Ecce Homo" ver os farricocos com os fogaréus e as matracas, já que não os vi durante a tarde.
Mas andaram por aqui, hoje de manhã.
O tempo está de sol a noite vai ser fresca, mas sabe bem ver o centro da cidade cheio de gente.
Gosto da cidade durante a Semana Santa.
O farricoco era, no passado, uma forma dos fiéis cristãos bracarenses se penitenciarem dos seus pecados, propondo-se caminhar descalços e incógnitos nas procissões que percorriam a cidade. O confessor dava a penitência durante a confissão e os fiéis cumpriam à risca tal preceito. Ajudavam a iluminar as ruas durante os préstitos e a chamar os fiéis às celebrações com o auxílio das matracas, dado que os tilintar dos sinos era proibido durante este tempo especial. O som estridente das matracas, com o seu ruge-ruge era também sinal de penitência...
Entretanto, os farricocos foram-se aproveitando do seu anonimato para denunciar publicamente os pecados daqueles que não faziam penitência. O ambiente era, por isso, temeroso, e algumas pessoas recusavam vir às janelas, não fosse cair-lhes em cima alguma acusação.
Hoje, as procissões já quase não servem para penitências, mas o farricoco mantém-se como figurante primordial.
Dada a sua originalidade, é um símbolo da cidade e o artesanato cada vez mais explora esta figura e ainda bem!