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cantinho da casa

cantinho da casa

# fique em casa 14 e 15

domingo, tinha coisas para publicar,restringi-me à foto da semana... O dia começou com uma triste notícia.

Na noite de sábado, a minha amiga N tinha ligado, eu não ouvi o telemóvel, vi a chamada quando me fui deitar, 2h20( pela hora actual),de imediato deixei mensagem no messenger a dizer que falaríamos no Domingo.

Ontem de manhã, fui acordada com o toque do telemóvel, saí da cama a correr até à sala para atender. Quando li o nome da minha amiga ( irmã como ela diz que sou) N, pensei que algo estaria mal.

A chorar  desorientada, comunicou-me que o pai falecera. 

Fiquei sem saber o que dizer. E disse não sei o quê.

O pai fora para o hospital no sábado, ficara internado para fazer exames. 

E morreu tranquilo durante a noite.

Desesperada que estava, disse-lhe que ia a casa, precisava de a confortar.

Mas quando saí de casa, naquela inconstância do vai, não vai, depois de uns largos metros de percurso, telefonei à M,outra grande amiga de coração, expliquei o que acontecera, se havia de ir, ou não, o  ter a certeza que ao chegar a casa ia esquecer-me do Coronavírus, ia abraçá-la, dar-lhe conforto, chorar com ela.

Esta disse-me que seria melhor não ir, que lhe ligasse, ela ia compreender.

Quando desliguei o telefone, já tinha voltado para casa.

Liguei-lhe. E ela entendeu. E chorou, e chorámos.E demos conta do que nos está a impedir de nos abraçarmos,de conversarmos, de lembrarmos os nossos entes queridos que já foram.

Hoje, foi o funeral.

Dissera-me que o funeral  seria no cemitério, apenas dez pessoas poderiam estar presentes, que a funerária dava máscaras e luvas.

Eu comuniquei que estaria presente, mas longe uma vez que a família tinha prioridade.

Quando lá cheguei, estariam mais de dez pessoas, não saí do carro.

A minha homenagem foi o meu silêncio, dentro do carro.

Depois do cortejo fúnebre passar o portão do cemitério,  foi fechado.

Quatro homens estavam cá fora com máscaras nas mãos, presumi que haveria outro funeral.

E nesse curto espaço de tempo que estive no carro,chegaram quatro carros fúnebres. Esperavam a sua vez para entrar.

Um entrou, sem ninguém para a cerimónia,os outros ficaram à espera.

Só quando saíu o grupo do funeral do pai da minha amiga, entraram os outros carros,em que estavam apenas duas pessoas a acompanhar.

E foi então percebi e senti a dor das imagens que vira nas notícias ( deixei de ver) dos funerais  das vítimas do Coronavírus.

A dor de não poderem estar presentes nestas horas de desespero em que dar a mão e o abraço são tão importantes,de sentirem que no sofrimento os familiares e amigos estão ali,mesmo que por breves minutos.

Quando a minha amiga me viu,dentro do carro, acenou-me.

Aproximou-se.Ficou a cerca de três metro de mim. 

Falámos um pouco,chorámos.

Os familares mantinham alguma distância. Despediram-se dela e de mim, com um levantar da mão.

O pai da minha amiga tinha 91 anos e morreu tranquilo.O coração fraquejara, desta vez.

Não teve o funeral que merecia.

Tempos tristes e esquisitos estamos a viver.

Fossem estes  "normais", estaria em casa da minha amiga a dar-lhe o conforto que tanto precisa.

 

 

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