estava aqui no meu ambiente
de trabalho a escrever um longo e-mail quando aparece uma janela com a notícia "Morreu Nicolau Breyner".
Mais um grande actor e homem que nos deixou.
Este ano tem sido de mais, ou eu estou a exagerar?!
"A velhice não é boa, temos de nos habituar a viver com ela. Mas temos alguns direitos adquiridos, e um deles é esse, dizer o que pensamos."
"Um amigo viu umas análises minhas e disse-me que tinha um problema muito grave. Percebi logo o que era. Nunca tinha feito uma análise na vida. Tirando o cancro, sou o gajo mais saudável do mundo. Aliás, cancro já não tenho. Tenho um coração, uns pulmões, uns ossos, tudo óptimo."
"Aminha mãe e o meu pai educaram-me muito bem. Fiz uma vez uma birra à minha mãe, e subi as escadas a levar estalos até lá acima."
" E o cheiro do Alentejo, das estevas, o cheiro a Verão... Detesto o Inverno. Muitas vezes digo da vida: "Quantos verões me faltam?" Adorava morrer num daqueles dias chuvosos, feios, com vento, para não ter pena."
"Eu e o meu avô fazíamos anos no mesmo dia, 30 de Julho. Era ligado à terra, aos cavalos. Também pintava muito bem e era um contador de histórias espantoso. Viajava imenso com o meu avô em histórias que ele me contava."
"Na família já estou a bater todos os homens, que morrem cedo."
"O Estado são pessoas de má fé, de um modo geral, em todo o mundo. São empresas que tiram o mais que podem e dão o menos que podem."
"A minha visão não me permite ser ministro, secretário de Estado ou deputado. Ser presidente da câmara é diferente, é a única maneira de agir directamente com as pessoas."
"...sou tímido. Ainda hoje, para atravessar um café, vou de cabeça baixa. O meu humor, a minha constante brincadeira, eram uma maneira de vencer a timidez. Nunca tentei perceber o que é a minha timidez. Se entrar num sítio onde não conheço ninguém, e sei que as pessoas me conhecem, ainda fico à espera que venham falar comigo."
"Deixei de beber quando percebi que estava a ficar um bocadinho dependente da bebida - dependências, não. Comecei a cortar, e aos 50 anos cortei completamente. Bebo de vez em quando um copo de vinho."
"Não aprendi, solidifiquei a minha convicção de que, infelizmente, muitas vezes, o ser humano não é fiável. E temos de usar a cabeça - a maior parte do tempo uso o coração. Até quando trabalho, sou mais coração do que cabeça. Sou um actor intuitivo."
Citações do ator, entrevista de Anabela Mota Ribeiro, jornal Público, em abril de 2010.