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cantinho da casa

cantinho da casa

desafio arte e inspiração # 6

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Sobreiro de D. Carlos de Bragança

 

quadro 6

Dentro de casa a azáfama era demais, o aroma do bolo de noz, no forno, espalhava-se pela casa, as crianças corriam de um lado para o outro, as mulheres mandavam-nos lá para fora, eles insistiam que queriam ajudar a fazer os bolos. "quereis ajudar é a meter os dedos na massa e lambê-los. ide daqui para fora. ide brincar!", escorraçavam-nos elas.
Joaquim afastou-se da confusão, não estava ali a fazer nada, saiu de casa e foi sentar-se debaixo do velho sobreiro que tantas vezes ao longo da sua vida lhe fizera companhia.
As memórias de um tempo de trabalho árduo, a doença da mulher que sucumbira pouco depois de dar à luz o filho mais novo, a dificuldade que teve em criar os três filhos , não fossem os sogros deitarem-lhe uma mão enquanto ia para o campo trabalhar.
Estava no final do tempo, o cancro veio rapidamente, tiveram de antecipar o parto, era urgente que se fizessem os tratamentos, ele estava desesperado, amava muito a mulher, tão bonita, tão forte, tão amiga dele.
E ficou sozinho com aquela filha de três meses quando ela morreu. Os outros, mais crescidos, sentiram a falta da mãe, mas eram a alegria da casa.Era à noite, no seu leito, que chorava a morte dela, que rezava para que nunca lhe faltassem as forças para criar os seus filhos.
O tempo passou muito depressa, todos três frequentaram a escola.O mais velho, João, trabalhava num banco em Lisboa, o do meio, Luís, trabalhava na junta de freguesia, e a mais nova, era engenheira agrícola, tomara conta da quinta que, graças a Deus, ia muito bem.
Tinha muito amor aos filhos, mas esta era o seu ai Jesus.
E se por algum motivo a filha tivesse de vir a casa e o via sentado debaixo do sobreiro, o seu fiel companheiro, sabia que ele queria este momento só para si, para chorar as mágoas do passado. E não o incomodava.
E sabia quando chegar perto e sentar-se à conversa com ele, ou ajudá-lo a levantar-se ,dar-lhe o braço e levá-lo para casa.
Meiga, sempre atenta : " pai, precisas de descansar; pai, queres vir comigo à cidade? pai, eu levo-te ao centro de saúde". Nunca lhe faltara com nada.
Todos casados, são a sua felicidade, mais os netos que têm.
Ainda hoje sente a falta da mulher, a vida que ela tinha nas lides da casa, no brio em fazer roupa para os filhos, comerem à mesa e saber como fora na escola, deitar as crianças, e voltar a sentar-se à mesa para falar do dia, da quinta, dos filhos.
- Avô, avô, vem à cozinha! A minha mãe diz que é hora de comeres o lanche!
E o neto mais velho abraçava-o, ajudava-o a levantar-se, iam os dois para casa.
Parava a meio do caminho, e olhava o seu fiel amigo, dos desabafos, das doces recordações da sua mullher, do quanto estava grato a Deus por ter aqueles filhos, e os netos tão queridos.
No dia seguinte, a neta, com seis meses, ia ser baptizada. E teria o nome da sua mulher.

Isabel.

 

Neste desafio Arte e Inspiração, participam:  Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yue, Bruno EverdosaCélia, Charneca Em FlorCristina AveiroFátima BentoImsilvaJoão-Afonso MachadoJosé da XãLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaOlgaPeixe FritoSam ao LuarSetePartidas

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