coisas do meu dia
Tudo preparado para sair de casa, logo de manhã e mais cedo para não perder a reserva da aula, ouço os nós dos dedos de alguém que batia à minha porta.
A Sofia tem esse hábito, sei quando é ela porque a maioria das vezes vem almoçar comigo, mas como está no Porto a estudar e nesta época anda em exames, não poderia ser ela.
Perguntei de dentro quem era, respondeu-me uma voz rouca de homem. Não percebi nada do que disse.
Espreitei pelo monóculo, vi o homem que teria mais de sessenta anos, voltei a perguntar o que desejava. A voz era indistinguível, quando voltei a perguntar o que desejava, respondeu-me que estaria enganado, e subiu as escadas para o terceiro andar.
Tenho estacionamento pago no parque do ginásio, costumo tirar o cartão da carteira em casa, ponho-o no tablier do carro, o lugar mais acessível para, à chegada ao parque, passá-lo na máquina e não perder tempo a procurá-lo.
Entretanto, quando saí de casa, o homem estava no andar de cima, ouvia-se a voz do filho do casal a falar de dentro, continuei a não endentender nada do que dizia, até que o som do intercomunidar da porta do prédio fez-se ouvir várias vezes.
Saí de casa, não sei o que se passou.
Quando chego ao parque do ginásio, lembrei-me que não pusera o cartão no carro, fui à mala onde levo a minha roupa, procuro no bolso de fora, não sinto a carteira.
Estavam o telemóvel e porta-moedas, mas a carteira não. Abri a porta do carro, saí, tirei a mala para fora, tirei tudo do bolso. Nada.
O que me veio à mente: quando o homem batera à porta, eu tinha a carteira na mão pronta para tirar o cartão, mas pusera-a em cima do móvel e nunca mais me lembrara dela.
Ora, na carteira, tenho todos os documentos de identificação e os do carro.
Se por algum motivo tivesse de apresentar os documentos ( que raramente acontece), não os tinha comigo.
Estacionei o carro no parque exterior, fui à recepção levantar a senha. Para a levantar, tenho de ter o cartão do ginásio, o mesmo que me dá acesso a entrar no parque.
Disse ao recepcionista que me esquecera do cartão em casa.
Conhecendo-me muito bem por ser cumpridora e não abusar de nada, entregou-me a senha ( a aula estava reservada), voltei ao carro para ter a certeza de que não a tinha lá.
Fiz a aula, regressei a casa, lá estava ela no móvel da entrada.
Felizmente, nada aconteceu, como aqui, nem apanhei a polícia que, de quando em vez, está parada nas rotundas por onde passo nas minhas idas e vindas para/do ginásio.
E por falar em aqui, tenho algo para contar sobre este assunto.