coisas do meu dia
Domingo, depois do almoço, alguém tocou campainha da porta da rua.
Fui ao intercomunicador, perguntei quem era, respondeu-me uma voz masculina:
- Boa tarde. Somos da Cáritas e com parceria da Liga Portuguesa Contra o Cancro, gostaríamos de fazer um pedido de ajuda, estamos identificados, temos recibo para o IRS...
Evito abrir a porta a estas pessoas e não quero conversa, interrompi::
- Boa tarde. Obrigada, mas não me interessa colaborar porque faço-o doutra forma, não só pessoalmente na Liga Portuguesa Contra o Cancro, como através da internet e por transferência bancária.
- Ah! Mas a senhora podia abrir a porta e ouvir-nos.
- Desculpe, mas não estou interessada em vos ouvir , tenho outras vias para ajudar...-, respondi.
- Então a senhora confia mais na internet que em nós?- , perguntou, interrompendo-me.
- Sim -, respondi.
Silêncio.
Fui à janela , vi-os sair e entrarem na porta ao lado.
Há cerca de 6 anos, comprei um vestido com um corte clássico e sempre actual mas que poucas vezes o vestia porque me cansam os estampados floridos e porque o comprimento era abaixo do joelho, precisava de subir a bainha. Leva um cinto comprido, passa duas vezes na cintura, apertava-o com um nó.
Este ano decidi vesti-lo, mãos à obra, subi a bainha.
Gostei do arranjo que fiz, mas já não queria o cinto original.
Decidi dar-lhe um toque diferente. Cortei-o, medi-o e, há 15 dias, levei-o à retosaria, escolhi a fivela.
A senhora comentou comigo que não sabia se tinha fivela para o que eu queria. Olhei para ela feita parva porque se escolhera a fivela seria essa que teria de a pôr.
Pediu-me o nome e o contacto, dir-me-ia alguma coisa sobre o assunto.
Ok, dei-lhe. Ela é que sabia o que fazer, deixei cinto, contacto, nome.
Passou-se uma semana, não tive nenhum telefonema.
Entretanto, vesti o vestido sem o cinto, que pode ser usado com ou sem ele.
No fim-de-semana lembrei-me do assunto. «Duas semanas sem notícas? Que se passa?» comentei comigo mesma.
Ontem, passei na loja.
Expliquei o que se passava mas ela não deu o braço a torcer sobre a falta do telefonema que me dissera fazer.
Mandou-me esperar um pouco, foi à pessoa que faz os serviços de costura e aplicação dos acessórios.
Voltou ao balcão e pediu-me para esperar um pouco.
Sozinha na loja, esperei mais de dez minutos.
La dentro ouvia uma máquina de costura a trabalhar. O meu cinto não precisava de costura, apenas de meter os ilhós e aplicar a fivela.Percebi que a pessoa que estava a costurar não pegaria no meu cinto enquanto não acabasse a obra que tinha na máquina.
Entraram clientes, ela não dizia nada, até que perguntei:
- Vão tratar do meu cinto?
- Sim, vão fazer a aplicação da fivela. Espere um pouco.
Farta de estar na loja, disse-lhe que ia dar uma volta e passava lá mais tarde.
Meia hora depois, voltei.
Foi buscar o cinto, que já estava pronto. Fez a conta.
Paguei. Saí da loja sem que em algum momento que estive lá me pedisse desculpa por não ter dado qualquer informação sobre o assunto.
Presumo que quem faz estes serviços deve ter muito trabalho, o cinto era uma coisinha sem importância, ficou lá a um canto, jamais iriam fazer a chamada a dizer que estava pronto, que podia ir buscá-lo.
Ainda não entendo o que a levou a dizer-me que me telefonaria a informar se tinha a fivela.
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