a orquídea
Fui cedo ao mercado municipal comprar frutas e legumes (come-se o que é plantado e colhido cá na terra, ajuda-se o pequeno agricultor). Vou sempre à mesma senhora (a regateira), comprar os legumes. E hoje, junto aos caixotes, tinha um balde com orquídeas. As senhoras aproximavam-se, perguntavam o preço, regateavam.
Ouvi o preço, confirmei-o, e percebendo que as senhoras estavam indecisas, peguei num ramo e disse que ia levá-lo. Coloquei-o no carrinho das compras. Quando fez a conta avisei-a do ramo de orquídeas. Paguei e segui para a fruta, numa bancada em frente. Fiz as compras, segui para uma outra vendora para comprar cenouras e cebolas.
No caminho para a saída do mercado, ainda comprei batatas novas e bananas numa outra bancada.
Saí do mercado, não andara mais de 10 metros, sinto uma mão tocar-me o ombro ao mesmo tempo que dizia "olhe!".
Voltei-me, vejo uma senhora que me diz: " A senhora não me pagou a orquídea".
"Como não paguei a orquídea? Desculpe mas deve estar enganada", respondi.
"A vendedora disse-me que a senhora não pagou a orquídea, e ela é minha"
"A orquíedea é sua? Mas a senhora não me viu pegar nela, não disse nada, e vem agora dizer-me que é sua? Desculpe, a orquídea é minha e paguei-a."
De repente, veio-me à mente as compras que fiz e o valor que paguei e comentei: "Eu paguei. O que paguei à senhora está incluída a flor", virei-lhe as costas e voltei ao mercado.
Mal cheguei à regateira, perguntei: "Então a senhora disse que eu não paguei a orquídea?"
Não me deixando acabar a conversa responde ela: "Desculpe, enganei-me. A senhora pagou, sim, fiz confusão com outra pessoa."
Fiquei tão zangada que nem vira que a outra viera atrás de mim, quando a regateira lhe diz: "Não foi esta senhora, eu confundi".
"Sou sua cliente há muito tempo, nunca lhe devi nada, e eu avisei-a que tinha a flor comigo e que ia levá-la", voltei a repetir.
A outra pega em dois ramos verdes e diz: "Desculpe, para a compensar deste engano ofereço-lhe este dois raminhos."
E foi então que percebi e comentei: "Então a senhora é a dona das orquídeas! Mas porque não me disse? E porque me deixou andar nas bancadas aqui perto e quando saí do mercado a senhora veio ter comigo?"
E vim embora a pensar que a dona das flores devia ter andado a vigiar-me o tempo todo que estive ali perto a fazer as outras compras e, certamente, esperava que eu voltasse atrás para pagar aquilo que estava pago.
E agora, imaginem as pessoas que olhavam para mim quando ela me tocou no ombro e disse que eu não pagara a orquídea. Mas não me afectou porque, como diz o provérbio "quem não deve não teme".