Angústia
Vou escrever o que se tem passado aqui no meu prédio há já um ano sobre algo que me tem posto angustiada, triste e revoltada.
O meu vizinho do 1º andar, que terá 52 anos, é único filho, demasiado inteligente, muito culto (tomara eu ter a capacidade que ele tem de conhecer óperas, livros, falar Inglês e Alemão) mas com perturbações de nível psicológico graves, embora nunca tivesse admitido.
Há anos a mãe dasabafava comigo as manias dele, as desistências em tudo o que tentava meter-se.
O pai, que faleceu há uns anos, tinha também perturbações psicológicas, embora fossem controladas.
Quando havia alguma obra no prédio, este quase ia abaixo com as reacções do gajo, desculpem-me a expressão. Subia as escadas e dava pontapés na porta, insultava os inquilinos, eu estava incluída, porque também fiz obras em casa, era o fim do mundo. Chamava-se a polícia, mas nada se resolvia. A mãe pedia aos trolhas que fizessem pouco barulho, mas obras são obras eram feitas durante a hora normal de trabalho, logo tinha que as aguentar.
O homem dorme de dia, e mal, e à noite deita-se muito tarde, por vezes a ouvir ópera, incomodando os vizinhos que têm de se levantar cedo para o trabalho. Por vezes eu não preciso de ligar a TV porque ouço cá em cima, o que ele está a ver/ouvir.
Há cerca de um ano comecei a ouvir insultos. Como na rua passam muitos estudantes para a escola secundária que fica na rua oposta, pensava eu que seria lá fora. Até que o gajo começou a subir o tom de voz e percebi que era ele que insultava a mãe.
No dia 7 de Junho do ano passado estava eu a chegar da praia, seriam 15 horas, ouvi berros, insultos e gritos seguidos de choro.
Meu coração quase me saltava do peito! Tremia, não sabia o que fazer.
Subi ao 3º andar, e fui pedir ajuda à vizinha, para que telefonasse ao marido, e este à PSP, para vir em auxílio da senhora que já conta 83 anos.
A minha vizinha queria descer e acudir a senhora, mas sabendo eu o tipo de homem que ele é, adverti-a a não se meter.
Chamou-se a polícia.
Ele tinha agredido a mãe, embora esta não tivesse sinais visíveis, pelo que nem foi preciso pedir o INEM.
Óbvio que eu não me meti no assunto. Isto foi relatado pela PSP, depois de eu ter ido testemunhar o que ouvira.
Desde então tem sido um forró, desculpem-me, porque o gajo descarrega na pobre senhora toda a sua loucura.
Nunca mais houve sossego no prédio e no meu coração.
Entro em pânico quando ouço os insultos, embora nem sempre a senhora chore.
Desde essa data que a polícia é solicitada a intervir, mas o certo é que nada pode fazer, porque os agentes dizem que ele não põe as mãos na mãe. Deduzo que a empurra, parte vidros, louça, seja o que for, mas evita tocar nela.
Um Domingo de tarde, antes do Natal, estava eu aqui sossegada a fazer as minhas tarefas quando se deu mais uma das loucuras dele. Decidi não chamar a polícia, mas enviei um e-mail.
Dias depois, fui à PSP saber o que fizeram do meu e-mail. Tinha seguido para o Ministério Público.
Fui a esta entidade e soube que iriam abrir um processo.
Fui à Segurança Social e tive conhecimento que a senhora iria frequentar um lar de dia, mas ao que parece foi uma vez, pois o filho não se digna levar a mãe.
Passa o tempo e parece-me que tudo está parado.
Esta noite, por volta das 23h45 estava eu aqui a ler blogs e escuto a voz dele. Aproximei-me do meu escritório, por cima do quarto da mãe, para perceber o que ele dizia.
Ele gritava: "Mete-te na cama f* ...p*...".
Durou cerca de 5 minutos esta cena, até que ouço "METE-TE NA CAMA FILHA DA P*...."
Ouço gritos e o choro da senhora.
Ouviu-se um estore a subir e descer. Foi a senhora do 3º andar.
Eu fiquei estática.
Deitei-me por volta da 1:00h com a firme decisão de fazer uma queixa no Ministério Público. Fi-lo hoje de manhã.
Há mais quatro inquilinos no prédio e sou a única que tem agido na denuncia deste caso. Os vizinhos são pessoas de bem, educadas, mas não se mexem. Dizem que se eu precisar de ajuda vão comigo. Mas eu estou nisto sozinha.
Entretanto, recebi uma carta do Tribunal, deduzi que seria alguma informação sobre a denúncia que fiz por e-mail.
Abri o envelope. Tenho de me apresentar como testemunha, na próxima Sexta-feira, às 10h30.
É um assunto importante e delicado, não admito violência doméstica com crianças e idosos. São seres desprotegidos, não sabem defender-se. Fico magoada, angustiada.
Tenho um único receio: que o homem, depois desta audiência, me faça frente.
Para eu entrar em minha casa tenho de passar à sua porta, este prédio não tem elevador.
Receio, mas vou em frente.
Para acabar, desde esse dia 7 de Junho de 2008 que ele tem a mãe em cativeiro. Ela saía todas as manhã para fazer as compras do dia-a-dia. Eram os seus únicos momentos de lazer e distracção. Descobri que ela tem Alzheimer.
Muito mais teria a desabafar aqui, mas o essencial está dito.
Se pudesse, invadia a casa do gajo e metia a senhora num lar. Ela precisa URGENTEMENTE de apoio e serviços mínimos de higiene.