# Tema catorze - cantinho da casa
Não nasci para isto
Marta vinha de uma família grande, que lhe ensinara a respeitar o outro, a lutar pelo que queria sem passar por cima de quem quer que fosse, a não depender de cunhas para alcançar o que desejava.
E desejava muito, como qualquer jovem que sonhava: ter uma casa, marido, filhos, viajar.
Valorizava cada etapa da vida, todas as escolhas que fizera. Cada queda ou conquista suas eram uma aprendizagem para o que viria a seguir.
Tinha um bom emprego, uma casa pequena, mas confortável, para si e o cão Doggy, um espaço para receber os poucos amigos que tinha.
Tivera duas relações, em cada uma delas pensara que seria para toda a vida. Não sentia que a capacidade de amar esmorcera, mas foram relações que lhe trouxeram mais tristezas que alegria e paz.
O primeiro fizera-lhe promessas de amor, enchia-a de presentes, de mimos, fazendo-a acreditar que seria a mulher perfeita para si, goradas ficaram as suas expectativas quando a palavra casamento lhe saiu da boca. Friamente ele dissera que nunca lhe falara em casar, não lhe prometera nada, nunca fora esse o seu objectivo. E desculpara-se se algum mal lhe causara, não queria que sofresse por ele. Desaparecera tão rápido quanto aparecera na sua vida.
Ainda de coração ferido, conhecera um homem que , com o tempo, lhe pareceu ser um bom amigo com quem desabafar os seus medos, as inseguranças e fragilidades da frustrante relação que tivera.
Uma relação de amizade que os aproximava dia após dia. Ligava-lhe todos os dias, começara a chamá-la de "minha querida". Ele preocupava-se com ela. E o seu coração deixara de sangrar, novas vibrações faziam-na sentir mais alegre, mais bonita. Abriram-se as portas para um novo amor.
E tudo quanto tinha de melhor de si era para ele. Amava-o muito. Este era o seu homem, o seu verdadeiro amor, aquele que a fazia sentir-se segura e confiante.
Mas um dia o azar bateu-lhe à porta. E o mundo desabou a seus pés.
Ele candidatara-se a seguir carreira nos Médicos Sem Fronteiras, um desejo há muito planeado, ia numa missão para bem longe dali, não sabia o tempo que ficaria por lá. Talvez um ano, dois, mais...
Despediram-se.
"Amo-te muito", diz-lhe abraçando-a.
" Não nasci para isto. Não nasci para o amor, Pedro".
O tempo fez-lhe ver que para ser uma pessoa realizada não precisava de viver na ilusão de que só um homem era capaz de a fazer feliz.