Este inverno, a Kat não tem ido para o meu quarto deitar-se sossegada num dos cantos da cama.
Ontem, entrou, não saiu, percebi que, quando desligasse a luz, saltaria para a cama e lá ficaria a dormir.
E assim aconteceu.
Por volta das 6h30, acordei com o miado forte, a dar-me sinal de que queria alguma coisa.
"Shiu! Calou!", respondi eu.
Mas ela continuava.
Fome não era, deixara o suficiente para a noite e o dia de hoje.
Com o pretexto de ir à casa de banho ( quem toma chá à noite, acorda a qualquer hora para fazer o xi-xi) levantei-me, ela solta novo e alto miado, fui ao quarto da varanda, puxei o estore, abri a porta, ela saiu, foi arejar.
Voltei para a cama. Mas o sono não quis nada comigo.
Seriam 7h00, a danada volta aos miados estrondosos capazes de acordarem os vizinhos.
E eu, quietinha, debaixo dos lençóis e do edredom, mandava-a calar.
Depois, ouvia-a correr pela casa, parava à entrada do quarto, porta aberta, que ela poderia saber fechar ( era bom, não era?!) olhava para mim e miava.
"Cala-te, Kat. O que queres?", perguntava eu baixinho de modo que ninguém me ouvisse. E voltava a esconder-me debaixo do edredom.
Às tantas, já perto da 9h00 e quando, finalmente, o sono estava a chegar, ela salta para a cama, deita-se num canto e ficou.
Eu adormecei, também, mas por pouco tempo.
Hora de me levantar, estore para cima, puxei o edredom para o fundo da cama, que a cobriu. Eunca mais ninguém a ouviu.
Fui às compras, apanhei uma molha da muita chuva que tem caído neste dia, cheguei a casa por volta das 13h00. Fiz o almoço, preparei uma coisas para o jantar da mana mais nova ( hoje é o seu aniversário).
Há pouco, lembrei-me que a cama estava por fazer, a Kat não dera mais sinal de si, estava ainda na preguiça do quentinho da cama.
Entrei no quarto, levantei o edredom, lá estava ela a dormir.
Peguei nela e resmunguei: " Sua preguiçosa, que me acordaste cedo, não me deixaste dormir, vingas-te de mim ficando na cama até esta hora?! "
E dei-lhe uns beijinhos no pêlo, pousei-a no chão e tratei de arrumar o quarto ( eu não gosto de deixar a cama por fazer tantas horas).
E voltou aos miados.
Não sei o que ela quer. Deixa-me doida e preocupada.
desde as 10h para sair de casa e fazer umas compras de fruta e legumes.
Não pára de chover, não me apetece sair.
Decidi vestir um vestido que não usava há uns anos, e porque ainda uso as meias de compressão, por cima destas visto uma meia calça opaca, e enquanto estou por casa, umas meias de lã.
Nestes dias de chuva, a falta da cadeira do bebé no carro ( acho que vou ter de comprar uma nem que seja usada) sinto-me impotente quando tenho de ir buscá-lo ao colégio.
Tinha uma consulta para as 15:40h, em Vila Verde, fui cedo, precisava de estar em casa por volta das 16:30h , ia buscar o bebé ao colégio, seguia com ele para uma consulta, a mãe encontrar-se-ia comigo no consultório.
A consulta é rápida, faz-se as picadas, calça-se as meias, vem-se embora. Nunca demora mais de quinze minutos.
Com ideia chegar por volta das 15:15 h, e sair de lá de molde a chegar a casa à hora que previra, a cerca de 4 km do hospital, deparei-me com uma longa fila de carros. "Ou são obras, ou um acidente" pensei. Os minutos passavam, não chegaria à hora que previra.
Quase trinta minutos depois, à medida que meia dúzia de carros seguiam o seu caminho e do outro lado o trânsito fluía com regularidade, eis que vejo o que era: uma nova rotunda está a nascer ali, um pouco antes de uma mais antiga que fica a cerca de 1 km daquela.
Passada a obra, estacionei o carro num grande parque onde se faz a feira, percorri os escassos metros a pé, entrei pelo parque de estacionamento do hospital.
Tirei a senha de consulta, tinha sete pessoas à minha frente, esperei, esperei, esperei.
Às tantas, um homem alto meteu-se à minha frente, não conseguia ver o écran com os números de chamada, até que chegou a minha vez... vinte minutos depois de tirar a senha.
Aproximo-me do balcão, mostrei a senha à senhora, diz-me que não era para o balcão A, que devia ir para C.
Quando reparei na senha, fiquei possessa comigo mesma.
Observava sistematicamente a minha senha, C, via os números passarem, mas os meus olhos diziam-me que era o A, o meu número tinha sido chamado há algum tempo e eu nada.
Aproximei-me da funcionária, que atendia o homem que se metera à minha frente, expliquei o que se passara, pediu que esperasse um pouco.
Outra funcionária tentava ajudar esta a resolver o assunto dele, a especialidade que ele queria não tem acordo com o seguro que possui, eu fervia pela espera, a funcionária dizia que tinha de acabar o que estava a fazer para atender-me de seguida.
A hora da consulta passara há muito, até que chamou-me. Mas não resolveu nada, havia um problema qualquer no sistema, perguntou-me se já tinha ido à consulta. Expliquei-lhe o que aconteceu, ela pedeiu-me que fosse para a consulta que passasse lá no fim para pagar.
No corredor estariam cerca de dez pessoas, tinha a certeza que a maioria não ia para a consulta de esclerose. E não iam mesmo. A porta do gabinete estava entreaberta, percebi que não estava nenhum utente, e bati.
A médica mandou-me entrar. E foi num instante que foi feito o tratamento.
Saí na direcção ao balcão, com uma senha nova, ainda esperei pelo menos dez minutos.
Saí do hospital.
Pensei na fila que me esperava, pensei seguir na direcção de Amares, arrisquei o mesmo caminho. A fila era comprida, decidi meter por uma estrada secundária, certamente que " avançaria" pelo menos uns oitocentos metros.
Na mouche!
Quando voltei à estrada, estava a pouco mais de cem metros da obra.
Consegui meter-me na fila, passei a obra, estava a 10 km de casa, não apanhei mais trânsito, fiz o resto do percurso num instante.
Entretanto, teria de ligar à minha sobrinha a dizer que não chegava a tempo de ir buscar o bebé.
Ligou-me, eu conduzia, não atendi o telemóvel.
Quando cheguei, liguei-lhe, já estava no consultório.
Eu garantira à minha sobrinha que chegava a tempo. Cheguei dez minutos atrasada.
Fui buscar o sobrinho neto ao berçário ( felizmente não chovia, levei o carrinho do bebé) vinha para casa, vi e ouvi uma mulher, que tinha uma nota de 5 euros na mão, aproximar-se de um homem que passava perto e perguntar-lhe se tinha moedas e as trocava pela nota, precisava de pagar o estacionamento.
O homem respondeu que não tinha, seguiu caminho.
Ela virou-se, viu-me, fez-me a mesma pergunta. Sabia que tinha algumas moedas, mas que chegassem aos cinco euros não.
Abri o porta-moedas, tinha cerca de 4,30 euros , não dava para trocar.
A cem metros da rua há vários cafés, estive para lhe dizer que fosse lá trocar o dinheiro, mas quiçá naquele espaço de tempo a polícia passasse por ali e multasse a senhora?
Peguei em 0,50 euros e dei-lhos.
Não queria, que tinha algumas moedas pequenas mas que não chegavam para o tempo que precisava, que dá-me, então, as moedas que tem..."
Respondi que não queria nenhuma moeda, que as juntasse à que lhe dei e tirasse o papel, certamente que chegaria para o tempo que precisava.
Agradeceu-me muito, e eu segui o meu caminho.
Tinha razão a minha mãe quando dizia que eu jamais seria rica.