Inicio este post com um sorriso que me acompanhou ao longo do dia.
Hoje de manhã fui a uma consulta na Póvoa de Varzim. Enquanto esperava, entretinha-me a descobrir as imensas funções do telemóvel que comprei.
Guardo o telemóvel e olho o aparelho de televisão.
Uma paisagem asiática passava naquele momento. Desviei o olhar e observei os outros utentes que estavam por perto.
De repente, o som do aparelho levou-me a voltar os meus olhos para o écran.
Prestei mais atenção. No canal Odisseia um documentário tratava da vida de uma aldeia, que presumi ser no Vietname. Uma jovem mestiça explicava a vida da aldeia.
Foi aqui que vi uma senhora, magra, calças, um lenço atado ao chapéu, passando este junto ao seu queixo, dizia que tinha perdido tudo: casa, móveis, campos, colheitas.
Observo as pessoas que estão na sala de espera. Em frente, um senhor com um grande bigode (alguma confusão me faz ver um bigode comprido, mal tratado, desleixado) olhava também para o televisor.Todos os presentes foram alertados pela mesma voz, embora o som não estivesse alto de mais.
Via-se um idoso que empurrava um carro carregado de madeira, carro que era puxado por um boi.A magra senhora falava com o idoso e sorria, ao mesmo tempo que a voz do comentador sobressaía: " fazia aquela longa viagem diariamente da aldeia(...), transportava a madeira para a povoação".
E a imagem fixava a magra senhora, sempre sorridente, ao mesmo tempo que falava com o idoso.
Depois, vê-se o idoso seguir o seu caminho e a magra senhora falava para a jovem mestiça que lhe perguntara qualquer coisa, traduzida pelo comentador na nossa língua "ficou sem nada e sempre com esse sorriso? ". E este ficou retido na minha memória visual.
Gente pobre, vivendo da agricultura que, presumo, as cheias levaram tudo, inclusive a casa, mas o sorriso permanecia.
O meu nome ouviu-se na sala. Fui à consulta, com alguma pena de ter deixado a sala e ver como acabaria aquela história de vidas de gente pobre.
Lembrei-me de procurar aqui na net o canal Odisseia e descobri: Vietname, o documentário
Depois da consulta, fui em direção de Apúlia (a praia onde passei momentos inesquecíveis) para comprar hortaliças, batatas, cebolas, para a ceia de Natal.
Perto da rotunda que dá acesso à autoestrada, uma senhora idosa estava sozinha na sua banca improvisada. Parei e fui ver o que tinha para vender . Fico sensível e apetece-me ajudar esta pessoas que trabalham no campo o ano inteiro aproveitando a época para fazer uns euritos.
Carreguei o carro com um saco de batatas, um saco de cebolas, quatro molhos de grelos, dois molhos de nabos.
Dois belos frangos estavam sossegados a apreciar as minhas compras. Perguntei quanto valiam os especímenes. " quinze euros cada um", respondeu a senhora.
"não tenho coragem nem sei matar frangos, senão levava-os", comentei.
De imediato diz ela: "eu mato-os aqui e a senhora chega a casa e tira as penas".
Mas eu não tinha coragem de os trazer mortos, dentro do carro.
E dperguntou-me: "quer peixe fresco, acabado de chegar do mar? Vá à Apúlia. Junto à praia estão os pescadores a vender bom polvo e congro"
E fui.
E recordei as cabanas onde os pescadores guardavam os barcos, agora substituídos por uma larga calçada, com bancos, onde nos abrigavamos quando a chuva se lembrava de perturbar as nossas noites de serenata.
Passei junto da casa dos pais do Zé Grande. Tirei uma foto à casa.
Pensei nas vezes que passo perto daquela praia e não faço o desvio para a visitar e hoje, aquela senhora idosa "levou-me" aqui.
Apúlia
casa do Zé
a rampa, que em tempos dava para a extensa praia, agora ocupada pelo mar
uma das casas mais antigas