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cantinho da casa

cantinho da casa

Contrariamente...

Acabado de escrever o post anterior, eis que recebo um e-mail que relata o seguinte:

 

 

                  " Assunto: Ser de Braga,é assim mesmo...


Excelente artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso.

 

"Braga é fantástico. Às vezes, fica-se com a impressão que é Braga que
deveria mandar neste país. Veio do Sporting de Braga o treinador que
está a salvar o Benfica. Mas, mesmo sem esse treinador, o Sporting de
Braga está em primeiro lugar.
Acho que o Sporting de Braga é o único clube de que todos os
portugueses gostam secretamente. Os benfiquistas acham que eles são do
Benfica; os do Sporting apontam para o nome e os portistas, por muito
que lhes custe, são nortenhos e não se pode ser nortenho sem gostar de
Braga.
Toda a gente tem medo - e com razão - do Sporting de Braga. Há a mania
de engraçar com a Académica de Coimbra ou com o Belenenses, mas são
amores fáceis, que não fazem medo nem potenciam tragédias.
O Sporting de Braga não se presta a essas condescendências simpáticas.
É po ser temido que o admiramos. Mais do que genica, tem brio. É uma
atitude com que se nasce; não se pode ensinar nem aprender.
A primeira vez que fui a Braga já estava à espera de encontrar uma
cidade grande e diferente de todas as outras. Mas fiquei siderado.
Acho que Braga se dá a conhecer a quem lá entra, sem receios ou
desejos de impressionar.
A primeira impressão foi a modernidade de Braga - pareceu-me Portugal,
mas no futuro. E num futuro feliz. O Porto e Lisboa são mais
provincianos do que Braga; tem mais complexos; tem mais manias; tem
mais questiúnculas por resolver e mais coisas para provar.
Braga fez-me lembrar Milão. É verdade. Eu adoro Milão mas Milão é
(mais ou menos) Italiano, enquanto Braga é descaradamente português.
Havia muitas motas; muitas luzes; muita alegria; muito à-vontade.
Lisboa e Porto digladiam-se; confrontam-se; definem-se por oposição
uma à outra. Braga está-se nas tintas. E Coimbra - que é outra cidade
feliz de Portugal - também é muito gira, mas não tem o poderio e a
prosperidade de Braga.
Em Braga, ninguém  está preocupado com a afirmação de Braga em
Portugal ou no mundo. Braga já era e Braga continua a ser. Sem ir a
Roma, só em Braga se compreende o sentido da palavra "Augusta". Em
contrapartida, na Rua Augusta, em Lisboa, não há boa vontade que
chegue para nos convencer que o adjectivo tenha proveniência romana. A
Rua Augusta é "augusta" como a Avenida da Liberdade é da "liberdade" e
a Avenida dos Aliados é dos "aliados", mas Braga é augusta no sentido
original, conferido pelo próprio Augusto.
Em Braga, a questão de se "comer bem" ou "comer mal" não existe.
Come-se. E, para se comer, não pode ser mal. Pronto. Em Lisboa, por
muito bem que se conheçam os poucos bons restaurantes, está-se sempre
à espera de uma desilusãozinha.
No Porto, apesar de ser difícil, ainda se consegue arranjar alguma
ansiedade de se ser mal servido; de ir a um restaurante desconhecido
e, por um cósmico azar, comer menos do que bem. Em Braga isso é
impossível. O problema da ansiedade não existe. Braga tem tudo. Passa
bem sem nós. Mas nós é que não passamos sem ela, porque os bracarenses
ensinam-nos a não perder tempo a medir o comprimento das pilinhas uns
dos outros ou a arranjar termómetros de portuguesismo ou de
autenticidade.
É por isso que o Sporting de Braga está à frente. Não é por se chamar
Sporting. Não é por ter cedido o treinador ao Benfica. O Benfica
ganhou muito com isso. Mas é o Sporting de Braga que está à frente.
É por ser de Braga. É uma coisa que, infelizmente, nem todos nós podemos ser.
Fique então apenas a gentileza de ficar aqui dito de ter pena de não ser."

 

 

 

 

 

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