731 - O acampamento
Os três dias na capital foram calmos. Repeti a visita ao Mude, agora com uma exposição de Vespas, e fui visitar o castelo de São Jorge, que não conhecia. Antecipei a consulta à clínica Malo. Sendo uma consulta de rotina, e não tendo previsto ir a Lisboa nestas férias, tentei antecipá-la, o que consegui, evitando uma viagem, falta ao trabalho e gastos extra, no próximo mês de Outubro.
Dois dias aqui por casa e, na Sexta-feira passada, conforme tinha prometido à minha sobrinha, fui acampar. Há pelo menos 25 anos que tinha deixado o campismo e procurado umas férias em lugares confortáveis, mais caros, é certo, mas com outras “mordomias”.
Sempre gostara de campismo. Mas com o tempo, a idade, o amadurecimento, o trabalho, as amigas que então casaram, as exigências tornaram-se, também, outras…mais exigentes.
A miúda andava excitada. Nunca tinha acampado e seria uma nova experiência para ela e para mim, com outras pessoas: minha família e amigos.
Destino: Vilar da Veiga, Gerês, Terras de Bouro.
Uma extensa propriedade particular dividida en secções para campismo, casas para alugar, piscina, pinhal. Tudo o que uma pessoa, que pretende sossego e relaxe, tem num lugar afastado da confusão dos parques de campismo. Mas este espaço é, actualmente, alugado a pessoas conhecidas, pelo que estava um casal com duas filhas, mais alguém que não conheci, mas havia deixado as toalhas e uma bola que passeava à superfície da água da piscina.
A dona do espaço, deu-nos as boas vindas e aconselhou-nos a escolher o sector o nº 7, que ficava perto da piscina e da casa de banho.
Só uma casa estava ocupada pelo um casal com duas filhas adolescentes.
Montar as tendas, agora tão práticas, foi rápido. Após nos acomodarmos, fomos gozar a fantástica piscina com a água que vinha da mina, apenas tratada com cloro e as pastilhas próprias à sua conservação.
A brincadeira estendeu-se até à hora de um banho de água quente e saída para o jantar, num dos muitos restaurantes da vila do Gerês, onde tivemos como refeição, bacalhau assado com broa e costeleta de vitela barrosã, e vinho da casa.
Depois do jantar, fomos dar uma volta pela vila. Nada de especial. Decidimos ir ao bar da marina. Há seis anos que lá não ia, pelo que senti muito a diferença e o progresso. Um bar remodelado, uma marina reconstruída com muitos barcos atracados.
Cansados como estávamos, os pufs do bar convidavam-nos a dormir uma soneca.
Regressámos às nossas tendas. Temia a noite. Sozinhos naquele espaço, com os insectos, as árvores, o silêncio da noite, a água que caía das pequenas encostas daquele espaço.
Mal me deitei, senti de imediato que não iria dormir sossegada. Tínhamos o chão coberto com umas capas adequadas, recobertas por cobertores que tínhamos levado para não sentirmos a dureza do relevo. Mas eu senti. Muito. As dores nas costas não permitiam que me mexesse se queria virar-me ora para a minha direita, ora para a esquerda. Ao meu lado dormiam a minha sobrinha e minha irmã.
Ia dormitando . Cansada da posição, arrastava o meu corpo para um e outro lado, para que pudesse descansar.
Os ruídos da natureza eram mais audíveis. Por volta das 5 horas ouvi o primeiro canto do galo.
E outro respondeu. Uivos de cães, que mais pareciam lobos, eram sentidos bem perto do local. E de novo o silêncio dos animais. Somente a água.
Por volta das 6 horas, volta o cântico do galo. E a resposta dos outros e da coruja.
Às 10 horas de Sábado estávamos nas Cerdeirinhas para um passeio de jipe até Linharelhos, almoço na Casa do Campo, e subida a Talefe, o ponte mais alto da Serra da Cabreira.
O passeio da manhã foi orientado pelo G, um jovem licenciado em Economia, que não exerce a profissão, dedicando-se ao projecto, Cabreira Barroso Ecoturismo.
Durante o passeio, parava-se aqui e acolá para se observar as árvores características desta região, os célebres cavalos Garranos, uma aldeia típica onde os habitantes se dedicam à cultura biológica, orientada por um jovem engenheiro deste blog, um almoço maravilhoso na Casa
de Campos feito por uma ex-aluna do JP, namorado da minha irmã. As entradas foram variadas, tudo confeccionado com produtos biológicos. O prato principal foi vitela assada barrosã com arroz de feijão. A sobremesa constava de bolo de chocolate, bolo de noz, bolachas de gengibre e melão. O bolo de chocolate e de noz são confeccionados num café e pastelaria na última freguesia de Vieira do Minho, contígua com Linharelhos, Trás-os-Montes
O passeio da tarde foi orientada pelo H e esposa, a ex-aluna do JP, que constou da visita ao forno comunitário onde se fazia o pão para toda a comunidade, e para todos aqueles que andavam de terra em terra, pão esse que era designado de pão dos pobres,
à cabana de pastores, à nascente do rio Ave e no final da tarde, um pequeno percurso pedestre à piscina natural no Rio da Lage.
O calor era intenso, mas o prazer de ver paisagens infinitas, arvoredo, animais que se “perdiam” nas pastagens verdes do alto da montanha e longínquas dos seus proprietários, o rio que se via ao longe, os geradores de energia eólica, que me fascinam e me fazem gastar imensas fotografias, a marca triste dos incêndios… faziam-nos esquecer a temperatura.
A noite chegou. Cansados como estávamos, jantámos algo leve. Os jovens foram comer pizza.
Regressámos ás nossas tendas. Deitámo-nos cedo. A cama das mulheres estava reforçada com um edredão dobrado para que eu não sentisse a dureza do chão. E deu resultado. Embora não dormisse a noite inteira, foi mais descansada .
Mas houve receios. Os nossos rapazes, no gozo, afirmavam que havia cobras. O meu sobrinho, acostumado ao campismo nos concertos de Verão, contou que, num dos seus acampamentos, havia sentido algo debaixo da sua tenda. E viu que era uma cobra.
Óbvio que era mentira, mas foi o suficiente para que a irmã dormisse mal, o que não acontecera na primeira noite, em que se deitara bem agasalhada no seu saco -cama e dormira a noite inteira.Nesta noite, vestira o pijama, cobrira-se com o saco, e meio da noite libertara-se dele. Noto que as noites não estavam frias. Acordava, mexia-se, até me dizer :“E se alguém nos assalta?”. E eu tranquilizava-a.
A noite foi interrompida com o cantar do galo e a resposta da coruja. A miúda estava desperta. E eu falava com ela dizendo que era lindo ouvir o som dos animais e da água. Combináramos, mal acordássemos, ir para a piscina. A proprietária havia dito que a água fica mais quente de manhã.
Às 8:30 fomos “pescar” os mosquitos que flutuavam na água. Quinze minutos depois, mergulhámos. Agradável. E brincámos. De repente, vemos o J, o nosso homem de 8 anos, muito inteligente, que gosta do dinheiro, e que tem umas expressões fantásticas, que escreverei num post, do tipo: “o Tiago teve um traumatismo ucraniano”, aproximar-se , e disposto à brincadeira na água. Óptimo momento.
O dia foi dedicado à piscina, à leitura do jornal, à brincadeira, ao sol, até à hora de desmontarmos as tendas, arrumarmos na mala dos nossos carros , outra banhoca na piscina e regressarmos a Braga.
Se fizéssemos a vontade dos miúdos ficaríamos mais uma noite. Apesar de a miúda ter dormido mal na noite anterior, ela queria ficar e tirar partido do campismo. Mas decidíramos passar só o fim-de-semana.
Muito havia a contar, mas é impossível. Contudo, faço a pergunta:" voltarei a acampar?"
E respondo a mim mesma: "duvido".
Não aguento ter as roupas dentro da mala, dormir no “chão”, tomar banho ao relento, não ter cadeira para me sentar e comer tranquilamente (só tomamos o pequeno almoço, visto que nunca cozinhámos), ter de me baixar para entrar na tenda, deitar-me para vestir as calças, procurar no saco tudo aquilo que estava já espalhado por falta de paciência em arrumar o que era impossível.
Voltarei sim, porque gosto da natureza, do rio, da montanha, do sossego, mas instalar-me numa casa ou hospedaria com as comodidades que necessito para descansar, quem sabe na Casa do Campo!?
E agora, algumas das fotos, das 280 que tirei.
(as nossas tendas)
(a piscina)
( dois cavalos garranos que passeavam e se esconderam, mal parámos o carro)
(relógio de sol numa casa em Linharelhos, Trás-os-Montes)
(espigueiro da casa que visitámos)
(cebolas, cultura biológica)
(árvore de fruto, com belas flores)
(torre da capela de Linharelhos)
(casa de turismo "Casa de Campos", Linharelhos)
(produtos de cultura biológica, "Casa de Campos)
(almoço, entradas com produtos biológicos)
(interior do forno comunitário)
(geradores eólicos)
(animais da raça Barrosã, pastando na serra)
(nascento do rio Ave)
(Talefe, no ponto mais alto da serra da Cabreira)
(piscina natural, rio da Lage)
(queda de água, o outro lado da piscina natural)
(o outro lado da piscina natural)
(regresso a casa, rio Caldo, Gerês)